Olimpíadas 2024

Por que ninguém vai (tecnicamente) bater o recorde do dardo nos Jogos de Paris

Mudanças do equipamento após polêmicas causou mudanças profundas do esporte nas últimas décadas

Da Redação

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REUTERS/Kai Pfaffenbach

Começa nesta terça-feira (6) a competição do lançamento de dardo. Se a beleza do esporte está em não saber quem conquistará o ouro nos Jogos de Paris, uma aposta é bem segura de se fazer: ninguém vai lançar mais longe que o alemão Uwe Hohn, que em 1986 lançou a 104.80 metros.  

Isso não quer dizer que nenhum atleta da modalidade tenha braço o suficiente para quebrar o recorde, é que eles literalmente lançam um dardo diferente daquele feito há quase 40 anos.  

Riscos e polêmicas do dardo

No mesmo ano em que o alemão bateu o recorde mundial, a federação que regulamenta o arremesso de dardo tomou uma decisão polêmica: o dardo usado nas competições iria mudar.  

A principal alteração estava no centro de gravidade do equipamento, que seria deslocado mais para trás do dardo. Isso faz com que ele caia de forma mais vertical, mas perca o potencial de distância em cerca de 10 metros.  

Dois motivos motivaram a troca. Primeiro, as distâncias do dardo, ultrapassando os 100 metros, estavam tonando as competições atléticas mais perigosas. O dardo ainda é uma arma, e outras modalidades atléticas são realizadas ao mesmo tempo. Em estádios menores, não era uma situação confortável ter lanças voando perto das pistas.  

A segunda questão era a tendência dos dardos em pousarem paralelo ao chão. Pelas regras do esporte, apenas lançamentos que a ponta do equipamento batem primeiro no gramado são válidas, mas antigamente ficava muito ao critério dos juízes essa decisão.  

Nos jogos de 1980, por exemplo, a equipe sueca defendeu que o lançamento do campeão soviético na fase de classificação deveria ser excluído por ter caído reto, mas os juízes validaram a tentativa. Vale lembrar que os Jogos daquele ano foram realizados em Moscou.  

Com o novo dardo, é mais fácil que os lançamentos tenham a “cravada” tão característica do esporte.  

E os recordes?

A decisão de mudar o equipamento levantou o debate sobre como ficariam os recordes da modalidade. A decisão foi adotar o mais simples: dividi-los. Hohn vai ter para sempre o recorde com o dardo antigo. Quem lançar com o dardo moderno, terá o recorde moderno.  

Há ainda um “recordista intermediário”, já que houve um modelo do equipamento entre 1986 e 1992, e depois ele foi novamente adaptado.  

Quem é melhor?  

Se levarmos em conta apenas a distância lançada, as estrelas das décadas de 70 e 80 são inegavelmente melhores que as atuais. O recorde mundial é 104.80 m x 98,48 m, enquanto o olímpico é de 91.20m x 90,57m.  

Só que há muito mais a ser considerado quando a base do esporte depende de aerodinâmica. Os dardos antigos conseguiam ser carregados por muito mais tempo no ar. Correntes de vento podiam “ajudar” um atleta que normalmente não lançaria tão longe.  

Os dardos mais novos são tão afetados pelo “ventinho amigo”, então o vencedor da prova é determinado muito mais pela sua velocidade, força e técnica do que pela sorte.  

Recorde, mas sem medalha

Melhor ou pior que os atletas atuais, a verde é que Hohn terá o “recorde eterno” do lançamento de dardo antigo. Curiosamente, o alemão não tem nenhuma medalha ou título mundial.  

Não se engane, o alemão não foi ajudado por uma brisa especial durante o recorde e nunca mais repetiu. No seu caso, o problema foi uma combinação de azar e lesões.  

Ele era favorito absoluto ao ouro nos Jogos de 1984, mas havia um detalhe: ele era da Alemanha…Oriental, ligada ao bloco soviético. Naquele ano, todos os países da região decidiram boicotar o evento, já que ele seria realizado em Los Angeles, nos EUA.  

O vencedor da prova naquele ano ganhou o ouro com a distância 86.76m. Hohn fez mais de 90m em nove eventos diferentes naquele ano.  

Depois disso, ele sofreu uma série de lesões, forçando que se aposentasse com apenas 24 anos.  

Brasil no lançamento de dardo em Paris

Eles não podem lançar tão longe quanto há 38 anos, mas isso não significa que você não precisa torcer para os brasileiros que estarão na modalidade nos em Paris-2034. 

Luiz Maurício Dias e Pedro Henrique Nunes estarão nas classificatórias masculinas, que começam às 5h20 de terça. Já Jucilene Sales de Lima estará na classificatória feminina, que começa às 5h25 da quarta-feira (7). 

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