Com apenas 14 anos, Gabi Portilho se mudou para outro estado sozinha e prometeu para os pais que, um dia, compraria uma casa para eles. Apostou tudo no futebol. Quase 14 anos depois, ela realizou esse sonho, ao ser convocada para a Seleção Brasileira. Durante esse período, Gabi viveu um drama na Espanha, mas se recuperou e agora é uma das principais jogadoras da Seleção Brasileira - fez gol e deu assistência para eliminar justamente a seleção da Espanha na Olimpíada de 2024, nesta terça-feira (6).
Gabi nasceu no Distrito Federal e começou a jogar bola desde a infância. Ao contrário de muitas meninas, ela teve apoio da família, principalmente do pai. Chegou a jogar em times do DF, mas precisava mudar de estado para realizar o sonho: foi buscar chances em Santa Catarina.
Após passar por Olympia, Jaraguá e Joinville, Gabi foi para o Kindermann, time que já se destacou muito no cenário nacional do futebol feminino. Por lá ela foi vice-campeã brasileira em 2014. No ano seguinte, repetiu o vice-campeonato pelo São José-SP. Nessa época começou a ganhar destaque, chegou a fazer 4 gols em um jogo e até defendeu categorias de base da Seleção Brasileira.
O drama de Gabi Portilho
Com uma carreira promissora, Gabi tentou dar um salto: aceitou proposta para jogar no Madrid CFF, da Espanha. Mas não deu certo: ela demorou para se adaptar e, quando estava evoluindo, sofreu uma lesão grave no joelho - ruptura parcial do ligamento cruzado anterior. Tinha que operar, mas o contrato estava no fim.
“Um especialista em joelho falou que eu tinha que operar. Mas o clube falava que não. Fiquei um mês e meio brigando para eles pagarem minha cirurgia”, contou Gabi em entrevista ao Casão Pod Tudo.
No fim o time espanhol pagou a cirurgia dela, mas não renovou o contrato. Gabi voltou ao Brasil para se recuperar, mas estava sem salário. Precisou pegar dinheiro emprestado para fazer a fisioterapia. A recuperação foi lenta.
Para piorar, durante todo esse processo, a mãe de Gabi estava com um mioma e também precisou passar por uma cirurgia. Gabi teve problemas psicológicos e pensou em desistir do futebol.
A volta por cima
O São José-SP deu a primeira oportunidade de Gabi voltar a jogar, mas ela ainda estava recuperando a confiança. Depois aproveitou oportunidades melhores no Audax Osasco e no 3B, da Amazônia. Fez 10 gols em 8 jogos pelo time do Norte. E chamou atenção de Arthur Elias, que era técnico do Corinthians. Foi contratada em 2020.
Gabi começou a ganhar mais destaque a partir de 2021 e recebeu as primeiras chances de jogar na Seleção Brasileira principal. Participou do título da Copa América e ganhou valorização. Com isso realizou a promessa de comprar uma casa para os pais.
“Foi através da Copa América que eu realizei meu sonho, meu propósito de vida, que era dar uma casa para minha mãe. Saí de casa aos 14 anos com esse objetivo. E cumpri aos 27. Foram anos de luta e consegui. Foi Deus que me colocou ali”, comentou Gabi no podcast.
Os títulos com o Corinthians se acumularam: já foi quatro vezes campeã brasileira, duas vezes campeã da Libertadores, três vezes campeã estadual, entre outras conquistas. Por isso Gabi costuma mostrar gratidão a Arthur Elias: "Ele foi e continua sendo um cara que sempre acreditou em mim, no meu potencial, e sempre soube tirar o meu melhor".
Quando Arthur Elias foi comandar a Seleção Brasileira, era natural que Gabi Portilho recebesse mais oportunidades. E ela tem correspondido: na Olimpíada fez gol contra a França, nas quartas de final; e contra a Espanha fez gol e deu assistência, na semifinal.
Nesta terça ela debochou de quem tinha criticado a Seleção Brasileira após o sufoco da primeira fase. E se empolgou com a chance do ouro: “Paris é meu sonho. A gente foi lá, mas não conseguiu ver muita coisa. Agora a gente vai em busca da medalha de ouro e vai ter 'sarrada' em baixo da Torre. Estou muito feliz”, comentou ela, que já comemorou muitos gols com o gesto da ”sarrada".
Agora Gabi já é especulada como alvo de times europeus. Pode se mudar novamente para buscar voos mais altos. Mas dessa vez certamente não haverá tanto drama. A Espanha ficou para trás.