Futebol

Galhardo relata cena de guerra no Fortaleza: “Tive que tomar remédio para dormir dopado”

Meia-atacante contou que Vojvoda e psicanalista foram essenciais para que ele saísse “do fundo do poço”

Por Allan Brito

Atualmente Thiago Galhardo está disputando a Série B pelo Goiás, mas no começo do ano estava no Fortaleza e viveu um triste episódio do futebol brasileiro: a torcida do Sport atacou o ônibus do clube e feriu jogadores. Em entrevista ao Band.com.br, Galhardo contou o que viu naquele dia e revelou detalhes sobre a recuperação psicológica - ele pensou em parar de jogar depois daquele caso de violência.

O ataque foi uma coisa de louco, uma cena de guerra, de filme, uma coisa que eu nunca tinha vivenciado ou passado por nada parecido

Galhardo conta que, depois do ataque, vivenciou coisas que “mexeram” ainda mais com ele, mas não quis revelar detalhes. Disse que só contará quando parar de jogar e escrever um livro. Mas por todo esse contexto, ele ficou sem ânimo para treinar e teve uma ajuda fundamental do técnico Juan Pablo Vojvoda. 

“Falar sobre isso para qualquer pessoa é difícil. O ataque foi na quarta e, na sexta, fui falar com o Vojvoda. Comecei a chorar. Desabei. Disse ‘não estou com condições, professor, preciso de tempo para repensar’. Foi uma coisa pesada tudo que passamos - aquela pedrada do Escobar e a forma que ele se tremia, com o sangue saindo. Me dá uma semana para pensar. Ele me deu um abraço como se fosse meu pai e me fez sentir seguro”, conta Galhardo.

Galhardo elogiou muito a atenção do técnico argentino com o aspecto humano dos jogadores. “O que sempre gostei dele, e falei para ele, é o lado humano do Vojvoda. É ele se preocupar com o que a gente está vivendo fora de campo, a questão da família, do teu filho. Eu vi isso com um atleta que perdeu sogra e ficou 5 dias sem treinar. Ele falou ‘vai lá descansar e volta quando se sentir melhor’. E foi falar isso pro grupo. É difícil um treinador fazer. É raro, nunca vi”.

Liberado para se recuperar mentalmente, Galhardo precisou de remédios: “Fiquei uma semana em casa, com meus filhos, com meus pais e pensei em parar de jogar futebol. Levei para os meus pais. Falei com o psicanalista. E estava muito mal. Tive que tomar remédio. Não acredito nisso, mas tomei. Eu me vi no fundo do poço, só conseguindo dormir através de remédio, dopado mesmo”.

Galhardo desistiu da aposentadoria, mas entendeu que precisava sair do Fortaleza. “Quando voltei, não estava encontrando ânimo para competições. Eu entrava no ônibus e ficava com medo, olhando para a pilastra. E nos treinos não tinha o mesmo prazer. Não era nada no clube, porque eu amo aquele clube. O clube é bom e as pessoas são maneiras. Mas o Goiás veio me procurar e acabou fechando, dando certo”.

Agora Galhardo é um dos destaques do Goiás, que terminou a 8ª rodada na liderança da Série B. 

Ele conta que faz tratamentos psicológicos desde 2021 e acredita que devia ter começado antes. Mas o futebol ainda tem um tabu com o assunto. No começo da carreira Galhardo viu Loco Abreu zombar de quem se consultava com a psicóloga do clube, por exemplo. “Hoje é o contrário. Eu pego os meninos mais novos e falo que é importante externar”.

Thiago Galhardo e o Ceará

Galhardo ficou marcado pela boa passagem pelo Fortaleza, mas antes tinha jogado no rival, Ceará. Ele diz que não teve o reconhecimento que esperava no Vozão. E a relação piorou quando ele voltou ao Brasil e não acertou com o clube.

Quando fechei com o Fortaleza, todo mundo achou que foi um chapéu, porque estive em um jogo entre América e Ceará. Fui com a família e assisti no camarote com o presidente. Mas foi eles que não quiseram chegar no valor que queríamos. Eu estava esperando para fechar negócio e dei 15 dias. Quando os 15 dias passaram, quem procurou de fato foi o Fortaleza. Começamos uma tratativa sigilosa, onde eles chegaram nos números que o Galhardo queria. E isso foi negativo no Ceará

Na estreia da Série B deste ano, o Goiás enfrentou o Ceará e aconteceu uma cena curiosa: Galhardo ficou de costas para a torcida do Ceará na hora de cantar o hino, mesmo estando em posição diferente dos colegas de equipe. Ele diz que foi uma decisão tomada na hora, diante do ambiente hostil em campo.

“No aquecimento começaram a proferir palavrões. Aí entendi que eles não têm que ter minha gratidão. Falei ‘vou ficar assim’. Me senti mal, porque meus companheiros podiam interpretar de forma negativa. Mas não, eles apoiaram. ‘O que o Thiago apanhar na frente, nós vamos bater atrás’. E ali mostrou que estamos começando um relacionamento de família”.

Ele também aproveitou para criticar um volante do Ceará, sem dar o nome: “Os jogadores levaram da arquibancada para o campo, com maliciosidade. Tem um volante ali que tinha pensar na carreira que tem, onde jogou e tinha que respeitar mais as pessoas. Não foi só nesse naquele jogo. Foi antes, com coisas nas redes sociais e até em outros clubes. Não que falar o nome, mas muita gente vai saber quem é”.

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