O Santos decidiu demitir o técnico Fábio Carille na última segunda-feira mesmo após o treinador conquistar o acesso para a Série A e o título da Série B com uma rodada de antecedência. O Peixe já entrou em campo contra o CRB, no último domingo, na Vila Viva Sorte, campeão da segunda divisão após os tropeços de Mirassol e Novorizontino na 37ª rodada. Mesmo assim, a diretoria optou pelo desligamento do técnico de 51 anos, que encerra a sua segunda passagem pelo Alvinegro Praiano.

O band.com.br lista alguns fatores que resultaram na demissão de Fábio Carille embora o treinador tenha cumprido os três objetivos propostos pelo presidente do Santos, Marcelo Teixeira, em 2024: chegar na final do Campeonato Paulista, conquistar uma vaga na Copa do Brasil em 2025 e retornar à elite do futebol brasileiro.

Quatro derrotas seguidas e primeira turbulência

Fábio Carille começou a Série B do Campeonato Brasileiro com o pé direito após o vice-campeonato paulista diante do Palmeiras. Com uma campanha de recuperação no estadual, o Peixe conquistou cinco vitórias nas seis primeiras rodadas da segunda divisão e conseguiu golear os adversários - Guarani e Brusque - em duas oportunidades. No entanto, a sequência positiva foi dilacerada por uma sequência de quatro derrotas consecutivas.

O Santos perdeu para América-MG, Botafogo-SP, Novorizontino e Operário entre o fim de maio e o meio de junho. A sequência negativa fez com que o Peixe deixasse o G-4 da Série B. O Alvinegro Praiano, porém, conseguiu se recuperar e embalou uma sequência de dez jogos sem derrota depois de perder quatro partidas consecutivas e voltou à zona de acesso.

Tropeços em casa e críticas ao desempenho

O Santos voltou a passar por turbulências na Série B no início do segundo turno. Após vencer o Paysandu por 3 a 0, no Pará, o Peixe acumulou uma série de tropeços em casa e fora ao perder para o Avaí e empatar com o Amazonas na Vila Viva Sorte e ficar no 1 a 1 com o Guarani, lanterna do campeonato na ocasião. Os resultados tiraram novamente o Alvinegro Praiano da liderança.

O estopim da crise ocorreu no jogo contra a Ponte Preta. O Santos vencia a Macaca por 2 a 0 no primeiro tempo e ainda com um jogador a mais. No entanto, o Peixe relaxou na segunda etapa e tomou o empate da equipe campineira nos acréscimos. Fábio Carille foi muito xingado pelo tropeço.

Falta de oportunidades para a base

O torcedor do Santos também fez fortes críticas ao técnico Fábio Carille pela não utilização de garotos da base. Nomes como Jair, JP Chermont, Miguelito e Souza viveram a expectativa de entrar no time titular do Peixe, mas foram preteridos pelo treinador, que optou por outros nomes.

Jair, por exemplo, fez a sua estreia como titular do Santos apenas na 13ª rodada da Série B, contra a Chapecoense, após pedidos do presidente Marcelo Teixeira para potencializar o uso da base. Carille, então, inscreveu o trio formado pelos meias Bernardo e Gabriel Bontempo e o atacante Matheus Xavier na Série B. Souza também fez a sua estreia na segunda divisão contra a Chape e deu a assistência para Willian Bigode marcar o gol da vitória por 1 a 0.

Embora Carille tenha promovido Jair e JP Chermont para o time titular, outros nomes, como Miguelito e Souza, não tiveram tantas oportunidades com o treinador. O lateral-direito do Peixe, inclusive, ficou de fora em várias rodadas para as entradas de Hayner e Rodrigo Ferreira entre os 11 iniciais. O atacante boliviano, que é o artilheiro de sua seleção nas Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2026, com três gols, atuou em apenas quatro jogos da Série B e somou 54 minutos em campo.

Ausência em entrevista e xingamentos pós-título

Fábio Carille chegou a se ausentar em uma entrevista coletiva após a vitória do Santos sobre o Operário por 1 a 0, na Vila Viva Sorte. Mesmo com o triunfo, o treinador foi hostilizado pelos torcedores e não compareceu à sala de imprensa para comentar o resultado que tinha colocado o Peixe na liderança da Série B. O auxiliar Leandro Silva foi quem deu explicações.

O técnico do Santos também foi vaiado e xingado pela torcida durante a cerimônia de premiação do título da Série B do Campeonato Brasileiro. Carille também recebeu ofensas enquanto o jogo contra o CRB estava em andamento. O treinador foi chamado de “burro” após substituir Otero e promover a entrada de Willian Bigode.

Comparação com pressão no Corinthians

O ponto final da relação entre Santos e Fábio Carille ocorreu logo depois do título da Série B do Campeonato Brasileiro. Em entrevista coletiva após a derrota para o CRB, o treinador comentou sobre a pressão que viveu no Peixe em 2024 e citou a eliminação do Corinthians na pré-Libertadores de 2011 como o momento de maior pressão de sua carreira.

Eu já vi cada reviravolta. Pressão maior, por exemplo, de 2011, da derrota do Corinthians para o Tolima e a continuidade do Tite. Vocês não sabem que é pressão! Então tudo pode acontecer.

A fala de Carille pegou mal entre os torcedores do Santos, que voltaram a hostilizar o treinador por conta das declarações. Em entrevista ao jornalista André Hernan, o comandante negou menosprezar o Peixe e disse que citou o episódio porque foi o primeiro que veio em sua cabeça.

"Eu falei de um fato, não comparei torcida. Falei de um fato, do Tolima, aquilo ali, sim, foi. Perder para o Tolima uma classificação de pré-Libertadores, não falei de torcida maior que essa ou menor, falei de um fato, aquilo, sim, foi a maior pressão que eu vi no futebol, aquela. Independentemente de tamanho, longe disso, essa não foi a questão, foi de um fato que eu vivi, eu estava dentro do clube (Corinthians) no momento e foram dias terríveis.

A relação de Santos e Carille oficialmente se encerrou na última segunda-feira com o Peixe optando pelo desligamento do comandante antes do final da Série B. Leandro Zago, técnico do sub-20, será o responsável por dirigir o Alvinegro Praiano contra o Sport, neste domingo (24), às 18h30 (Brasília), na Ilha do Retiro, pela última rodada da Série B.