Brasileiro vira ídolo na Letônia em time com menos de 10 anos de existência

Uma das novidades da Liga Europa é a presença do Riga, da Letônia, um time que surgiu em 2016 e já ostenta dois títulos nacionais

Gustavo Freua

Emerson, brasileiro do Rigas Futbola Skola, da Letônia
Rigas Futbola Skola

O RFS, sigla para Riga Futbola Skola, da Letônia, tem menos de 10 anos de existência - foi fundado em 2016 - e já tem como um dos destaques em seu elenco um brasileiro: Emerson Deocleciano, camisa 10 e um dos jogadores mais experientes da equipe, atração na Liga Europa, transmitida pela Band na TV aberta.

Emerson nasceu em Corumbau, uma vila de pescadores na Bahia, onde começou a jogar futebol por influência do primo Raimundo. Os primeiros chutes foram em quadras de areia da vila que, apesar de precárias, eram a estrutura que estava disponível, pelo menos durante a semana. Aos sábados e domingos, ele viajava cerca de 60 km para outra cidade, onde jogava em uma escolinha, essa sim gramada.

Essa rotina funcionou bem e aos 15 anos, Emerson começou a jogar pelo Vila Nova, de Goiás, onde fez apenas três partidas pela equipe principal e foi vendido ao NK Lokomotiva, da Croácia.

Primeiros passos na Letônia

A passagem de Emerson pela equipe croata foi curta e logo ele foi emprestado para o RFS, time da capital Riga, que trocou de donos em 2016 e virou sensação na Letônia. O início no novo clube foi muito complicado por causa da adaptação ao clima do país.

“Quando eu cheguei aqui estava muito frio, -10º. Era frio demais! Ainda mais para nós brasileiros, e ainda mais pra mim, que vim da Bahia, da beira de praia. Isso foi o mais difícil no começo”, contou o brasileiro. Mas logo Emerson se adaptou e seu futebol começou a aparecer, tanto que ele marcou cinco gols nos seus quatro primeiros jogos.

O empréstimo durou apenas um ano e ele retornou ao Lokomotiva. Contudo, o período no RFS havia sido tão marcante que o clube letão conversou com os croatas e acertou a sua compra em definitivo em 2021.

Com a ajuda dos companheiros de time e da esposa Eva, letã que aprendeu a falar português por curiosidade no YouTube, Emerson enfim estava jogando em um clube onde estava plenamente adaptado e se sentiu bem recebido:  

“Logo que eu cheguei teve o Covid, então o campeonato ficou paralisado. Depois eu conheci a minha esposa. Ela falava um pouco de português e me ajudou muito na adaptação. Como ela é daqui e fala a língua (letão) e português, foi mais fácil para a minha adaptação. No clube, todo mundo foi receptivo, todo mundo me acolheu. É por isso que eu estou aqui há cinco anos. Fui muito bem recebido, todo mundo me ajudava, todo mundo tenta ajudar um ao outro” revelou.

Idolatria

Logo em sua primeira temporada como contratado, Emerson terminou como artilheiro da equipe que foi campeã nacional de maneira inédita e também faturou a Copa da Letônia. As conquistas, somadas ao protagonismo do brasileiro, elevaram o jogador ao status de ídolo.

Emerson em ação pelo RFS - Foto: RFS

“Eu fico contente de estar aqui. Tenho esse reconhecimento diariamente, recebo apoio dos torcedores e dos jogadores. Quando eu me machuquei, fiquei muito triste, mas recebi muito apoio. Fico feliz de estar conquistando tudo isso na Europa, esse reconhecimento do pessoal da Letônia” disse Emerson, orgulhoso.

Lesão

Em setembro, o camisa 10 se machucou e por isso desfalca o time nesse início de caminhada na Liga Europa e na reta final do campeonato nacional, que, aliás, está encaminhado para mais uma vez ter o RFS como campeão.

“No treinamento eu fui chutar a bola e tive uma ruptura no tendão atrás do joelho, então eu tenho que ficar de seis a oito semanas fora. A Liga Europa será longa, mas o campeonato não, então espero voltar para os últimos jogos. Dá para ganhar o campeonato, com certeza! Temos alguns pontos à frente [o RFS está a 6 pontos à frente do Rigas, 2º colocado e maior rival]. Faltam cinco rodadas. Estamos também na final da Copa da Letônia, está sendo um ano muito bom, espero que termine melhor ainda” projetou o brasileiro.

Pretensões na Liga Europa

O sucesso do RFS mudou o clima da torcida e da cidade, que passou a acompanhar mais assiduamente o clube.

“Reparamos nisso [mudança de ânimo] há dois anos, quando nos classificamos para a fase de grupos da Liga Conferência [terceira competição em importância da Uefa]. A torcida foi crescendo dentro da Letônia. Quando eu cheguei não havia quase ninguém no estádio. Depois que conquistamos isso (os títulos de 2021), os estádios foram lotando. Agora com a Liga Europa, o futebol na Letônia está sendo mais conhecido. A gente fica feliz com isso”, comemora.

Depois de não se classificar para a Liga dos Campeões, o RFS conseguiu a vaga na Liga Europa ao eliminar o Santa Coloma, de Andorra, e o Apoel, do Chipre, nas fases preliminares.

Na fase de liga, os letões estrearam com derrota para o Steua Bucareste, da Romênia, e depois conseguiram um empate por 2 a 2 contra o Galatasaray, da Turquia, na última rodada.

“Para nós foi uma vitória, um jogo histórico. Cada jogo é uma história para nós. Estamos muito motivados por disputar essa competição”, avaliou Emerson, que reconhece as limitações do time.

“Para nós, jogar uma competição como a Liga Europa é um sonho realizado. Ainda mais para o nosso clube, que é novo, não é muito conhecido. Estamos naquela fase de desfrutar o que conquistamos porque são jogos muito difíceis. A gente vai jogar para ganhar, mas sabemos que é muito difícil. São oponentes muito fortes com uma história muito grande no futebol, e nós estamos apenas começando”, declarou.

Na próxima rodada, o RFS vai até a Alemanha enfrentar o Eintracht Frankfurt em mais um embate complicado para o jovem, mas valente time letão.

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