Copa do Mundo

Por que jogos decisivos do Grupo B da Copa terão tanta rivalidade em campo?

Irã, Estados Unidos e Inglaterra e País de Gales medem forças na última partida da fase de grupos

Brenda Mendes

Torcida do Irã faz protesto após morte de Mahsa Amini, jovem presa
Torcida do Irã faz protesto após morte de Mahsa Amini, jovem presa
Dylan Martinez/REUTERS

Nesta terça-feira (29), as equipes do Grupo B entram em ação no último jogo da primeira fase da Copa do Mundo, e as partidas prometem ser emocionantes. De um lado, Irã e Estados Unidos se enfrentam; do outro, País de Gales e Inglaterra. E um ingrediente em especial promete deixar os duelos mais quentes: a rivalidade. Dentro e fora de campo. 

Antes, às contas: a classificação do grupo ainda está em aberto; a Inglaterra está em primeiro com quatro pontos, e é seguida por Irã, com três, Estados Unidos, com dois, e Gales em último, com um ponto. 

Irã e Estados Unidos

No outro duelo, Irã e Estados Unidos jogam a partida mais decisiva do grupo. A equipe iraniana já podia ter dado adeus à classificação, mas sobreviveu ao vencer o País de Gales por 2 a 0, ficando na segunda posição da chave. Com três pontos, a equipe entra em campo e joga por um empate. Por outro lado, os norte-americanos só avançam com uma vitória.

Irã e Estados Unidos se enfrentam em um duelo para além das quatro linhas. Com divergências políticas há mais de 40 anos, os países ficaram bem próximos de vivenciarem uma guerra após os soldados norte-americanos terem matado, em janeiro de 2020, o líder militar Qasem Soleimani durante o governo de Donald Trump. Biden se elegeu e assumiu a presidência após o ataque e agora tenta restaurar as relações com o país.

Soleimani era major-general da Guarda Revolucionária Islâmica do Irã e segunda maior autoridade do país, depois do aiatolá Khamenei. O militar era inclusive considerado uma liderança regional, para além do território iraniano. Não por acaso, havia quem visse em Soleimani um “ministro” de relações exteriores na prática.

Treta antiga

O episódio da morte de Soleimani foi o último grande ato no cenário de permanente desconfiança entre as partes. Algo que começou na Revolução Iraniana de 1979, quando a monarquia pró-Ocidente que comandava o país foi deposta pela oposição liderada pelo aiatolá Ruhollah Khomeini, líder religioso. Tornado uma república islâmica, de orientação xiita, o Irã rompeu com os EUA. Enfim, a treta estava instaurada.

Para engrossar o caldo, os EUA é alinhado com a Arábia Saudita, sunita, um inimigo histórico dos xiitas do Irã, numa relação onde prevalece a paranoia mútua e as "guerras por procuração", sem confronto direto. Os conflitos no Iêmen e na Síria são dois exemplos recentes. 

Guerra no tapetão da Copa

E outro ingrediente recente apimentou ainda mais a partida. No último domingo (27), uma agência de notícias que tem ligação com a Federação Iraniana de Futebol comunicou que a seleção irá solicitar a exclusão dos Estados Unidos da Copa do Catar.

No dia anterior, a seleção norte-americana postou em seu Twitter uma imagem do grupo B e retirou o símbolo da República Islâmica, que fica no centro da bandeira. Os iranianos alegam desrespeito e afirmam que a atitude é contra as regras da Fifa.

Segundo o Daily Mirror, o ato dos Estados Unidos foi pensado para mostrar apoio à luta por direitos básicos das mulheres no Irã, onde está acontecendo uma onda de protestos.

Apesar da especulação, a assessoria da seleção do Irã não confirmou o pedido. 

Gales e Inglaterra

Perto de ser eliminada, a seleção de Gales ainda não conseguiu vencer na Copa do Mundo e agora enfrenta a Inglaterra. O retrospecto das duas equipes ao longo da história favorece os ingleses, que venceram 67% das partidas, contra 13% dos galeses.

Entre Euros, Eliminatórias da Copa, amistosos e Home Championship (uma competição disputada anualmente com quatro seleções do Reino Unido, entre elas, Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte, que durou de 1983 a 1993), a Inglaterra venceu 70 jogos, empatou 21 e perdeu 14 para o País de Gales.

Caso aconteça uma zebra e o País de Gales saia vitorioso do confronto, os galeses empatariam no número de pontos, porém precisariam vencer por uma diferença de sete gols para se classificarem em segundo lugar.

A Inglaterra poderia ter se classificado na última partida contra os Estados Unidos, mas amargou um empate. Em primeiro lugar no grupo, os ingleses precisam de um empate para avançar às oitavas.

Romanos em “campo"

Ao longo da história, País de Gales e Inglaterra tiveram uma relação conturbada. No início, os romanos invadiram o território, e ficaram no poder. Após a queda, quem retomou o poder foram os celtas. Centenas de anos depois, quem tentou conquistar o país foi a Inglaterra, mas os galeses ficaram insatisfeitos, se revoltando e reivindicando a independência.

A independência do país durou nove anos, até que os ingleses tomaram o poder novamente. Só em 1536 que a região se uniu com a Inglaterra e começou a fazer parte do Reino Unido.

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