A série documental "Romário, o cara", exibida na Max, conta diversas polêmicas envolvendo o Baixinho: rivalidades com jogadores, casos de indisciplina e traições no casamento estão presentes, por exemplo. O diretor da obra, Bruno Maia, contou que Romário fez questão de mostrar essas histórias e até indicou quem poderia falar melhor sobre isso.
"Teve um momento em que fui levar pro Romário a lista das pessoas que eu estava pensando em entrevistar. Ele olhou e falou ‘não sei se a lista está boa’. Eu falei ‘mas não é uma série para jogar confete em você'. Ele falou ‘essa lista está fraca porque esse pessoal não sabe nada. Quem sabe é fulano e ciclano. Esses sim podem falar mal de mim'. Então ele deu o caminho. Ele falava: 'a minha série tem que ter polêmica porque minha vida foi marcada por isso".
Romário deu depoimentos, mas não acompanhou as gravações e nem a edição, de acordo com Bruno Maia. Então ele não censurou histórias e só assistiu tudo depois do lançamento oficial. A principal ajuda do Baixinho foi quando incentivou amigos a contarem casos mais chamativos.
"Eu tive o apoio do Romário quando as pessoas travavam nas gravações e tinham receio de falar. Eu ligava e falava: ‘estou com seu amigo e ele não quer falar’. E o Romário falava ‘pode falar'. Tanto que uma dessas passagens aparece quando um amigo fala ‘o Romário não era casado nessa época, era? Era né. O Romário era um desgraçado. Mas ele falou que podia falar, então eu vou falar’".
Bruno contou que não foi difícil fazer com que Romário aceitasse fazer o documentário. Mas um argumentou foi essencial: "Eu disse que ele merecia ter uma série igual a do Michael Jordan (The Last Dance). Então acho que ele pensou 'Jordan e eu', então tudo bem. Se eu comparasse com um jogador que ele achasse menor, não sei se teria sido tão fácil. Então ele gostou desde o início da proposta".
Entrevistas não concedidas
A série não tem censura, mas deixa uma lacuna: algumas pessoas importantes na história de Romário se recusaram a dar depoimentos. São ex-jogadores que tiveram alguma disputa com o Baixinho.
O principal deles é Zagallo, que estava vivo durante a gravação da série e teve diversas polêmicas com Romário ao longo dos anos. Müller e Careca, que disputaram posição com Romário na década de 90, também não quiseram falar.
Bruno disse que todos foram procurados: "Usamos pessoas próximas dos círculos deles para abordar. Eventualmente tínhamos respostas. Outros nem respondiam. Eu acho que, às vezes, pela forma como é o mercado, as pessoas podem confundir uma série sobre o Romário com uma série do Romário. E por algumas picuinhas podem falar 'não vou estar na série dele, botando azeitonas na empada dele'. Ficam com medo de não falar o que quer. Mas costumo dizer que, em um processo como esse, não falar é falar".
O capitão Dunga, com quem Romário tinha bom relacionamento antigamente, também se recusou a falar. Bruno disse que eles estavam brigados quando houve o convite, que nem foi respondido. "O Romário já esperava que o Zagallo não ia falar, por motivos óbvios. Mas o Dunga ele lamenta, porque ele realmente gosta do Dunga. Mas tinha uma briga. Não tenho certeza se é isso, mas parece que começou quando o Dunga estava na Seleção. O Romário foi na CPI e falou de esquema de convocação. Ali gerou um ruído".
Entrevistas especiais
Bruno Maia destacou três entrevistas importantes para a série: Roberto Baggio, Carlos Alberto Parreira e Pep Guardiola.
Parreira teve alguns desentendimentos com Romário, mas foi um dos primeiros a falar com Bruno e contribuiu sem qualquer problema. "Ele foi muito gentil e solícito. Deu um apoio importante e muitas informações. Mas tem o ponto de vista dele e tem uma história a zelar. E aí ele conta coisas que atletas dizem o contrário dele. A série revela umas contradições".
Em relação a Baggio, Bruno conta que Romário até gravou um vídeo pedindo a participação do italiano, que foi "super gentil" e recebeu a produção na casa dele: "Pedi para o Romário gravar um vídeo registrando a admiração dele pelo Baggio. Ele tem uma admiração grande e fez um vídeo no celular pedindo: 'a série estaria mais rica com você'. E de alguma forma isso ajudou".
Já a conversa com Guardiola foi mais difícil de conseguir, pela agenda do treinador. Bruno estava quase desistindo quando o Manchester City avisou que havia um espaço para a gravação. Segundo o diretor, foi uma entrevista diferente de qualquer outra.
“Foi uma entrevista tensa. Ele é muito especial. É daquelas pessoas que, quando chega, você sente uma coisa diferente. Dá a sensação de que ele está jogando xadrez com você. Ele te fita o tempo inteiro. Ele tem um jeito de atuar que não é trivial. Ele faz você ter certeza da pergunta, mas de maneira gentil. Ele está elevando a entrevista. Não é para constranger ou amedrontar. De todas milhares entrevistas que fiz na minha vida, foi a mais difícil da minha vida”, concluiu Bruno.