Apresentado como técnico do Atlético-MG nesta segunda-feira (13), Cuca abriu a coletiva falando sobre a condenação por estupro em Berna, na Suíça, em 1987 – o caso foi anulado pelo Tribunal Regional de Berna-Mittelland, em janeiro deste ano (entenda mais abaixo).
O treinador, que fará a sua quarta passagem pelo Galo, afirmou que "demorou para ver os seus defeitos" e que está trabalhando para ser "uma pessoa melhor" em um "mundo machista".
"É um tema sensível, delicado e muito importante. Quando eu fui apresentado no Athletico e li aquela carta [sobre o caso], eu me prontifiquei a tentar ser uma pessoa melhor, um homem melhor. Tenho aprendido muita coisa, com muita gente, escutado minha família, minhas filhas. E tenho entendido muita coisa que não entendia como ser humano", iniciou Cuca.
Demorei muito tempo para falar daquele tema, e abro falando dele porque hoje eu consigo falar, eu consigo ver meus defeitos. Eu tentava falar sobre o Cuca, e não era isso que a sociedade queria. A sociedade queria saber o que eu, como homem, poderia fazer pelo tema - Cuca.
Cuca também afirmou que tem participado de palestras e levado o tema para os clubes em que trabalha.
Segundo o treinador de 61 anos, ele promoveu um encontro entre meninos e meninas no Paraná, envolvendo garotos do Athletico, Coritiba e Paraná, para falar sobre violência contra as mulheres e machismo.
“Tenho trabalhado incessantemente para ser uma pessoa melhor”, disse. “Acho que esse tema é muito importante. (…) Eu busco um mundo mais justo para mim, para as minhas filhas, netas, para todas as mulheres. A gente vive muito em um mundo machista. O futebol é muito machista”, disse. ”É uma bandeira que eu levantei e vou empunhá-la enquanto eu puder".
Cuca foi condenado por estupro? Entenda o caso
A polêmica com Cuca teve início em 1987, quando ele ainda era jogador e o Grêmio participou de uma excursão pela Europa.
Cuca, Eduardo Hamester, Henrique Etges e Fernando Castoldi foram detidos na Suíça sob a alegação de terem tido relações sexuais com uma garota de 13 anos sem consentimento.
Em depoimento, a vítima, Sandra Pfäffli, afirmou ter ido com amigos ao quarto dos atletas para pedir uma camisa do Grêmio. Na sequência, eles teriam expulsado os colegas dela e a forçado a manter relações sexuais durante 30 minutos.
De acordo com apuração do blog da Marília Ruiz, do “UOL”, consta nos registros policiais e nos autos do processo que a vítima jamais identificou ou apontou Cuca como um dos seus agressores.
Por outro lado, a Justiça da Suíça diz que havia sêmen de Cuca no corpo da vítima, de 13 anos. O 'ge' teve acesso ao processo judicial, de mais de mil páginas, para confirmar a informação.
À época, os quatro jogadores ficaram detidos por quase um mês e prestaram depoimento mais de uma vez. Em seguida, retornaram ao Brasil.
Dois anos depois, em 1989, Cuca, Eduardo Hamester, Henrique Etges foram condenados a 15 meses de prisão por atentado ao pudor com uso de violência. Em janeiro de 2024, o Tribunal Regional de Berna anulou a sentença do treinador.
À época, Fernando Castoldi foi absolvido da acusação de atentado ao pudor e condenado por estar envolvido no ato de violência. Como o Brasil não extradita seus cidadãos, eles nunca cumpriram a pena.
Justiça da Suíça anula condenação
O Tribunal Regional de Berna anulou, em janeiro de 2024, a sentença que condenou o ex-jogador e treinador por ter mantido relações sexuais com uma menor de idade.
A defesa do treinador pedia um novo julgamento, alegando que Cuca havia sido condenado à revelia, ou seja, sem uma representação legal.
A argumentação chegou a ser aceita pela juíza Bettina Bochsler, no dia 22 de novembro de 2023. Porém, o Ministério Público suíço disse não ser possível fazer um novo julgamento, já que o caso havia prescrito, e recomendou a extinção do processo, anulando a pena do treinador brasileiro.
Além disso, a Justiça determinou que Cuca deveria receber uma indenização correspondente a R$ 50 mil.
Embora tenha a anulação do processo e a extinção da pena, Cuca não chega a ser inocentado pelo caso.