Oriundo de uma família de goleiros, Deyverson recebeu um conselho decisivo do pai quando deu os primeiros passos no futebol. “Meu pai disse: ‘Sai do gol e vai para o ataque. Goleiro faz milhares de defesas, e quando falha é o vilão. O atacante pode perder cinco gols, mas se meter um é o salvador da pátria’”, narrou o irmão de Deyverson, Anderson, também ex-arqueiro, lembrando do papo do pai, Carlos Roberto, também ex-goleiro, para o filho, que anos depois seria o salvador da “pátria” palmeirense marcando o gol do título da Libertadores de 2021.
De alguma forma, Carlos Roberto teve participação fundamental no tri do Palmeiras na competição, prevendo o que aconteceria naquela tarde em Montevidéu, em um episódio de uma história que começou num time amador.
Carlos ajudou na formação profissional do filho desde os tempos de Mamaô, equipe de Santa Margarida, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, que fundou e teve Deyverson como jogador. A trajetória do atacante desde os tempos de Mamaô até a idolatria no Palmeiras foi resgatada em reportagem especial do Jogo Aberto (assista no vídeo acima).
Em entrevista ao Jogo Aberto, Carlos lembrou que, no momento do gol decisivo do filho contra o Flamengo, estava de joelhos, rezando, até que o filho avisou ao pai, incrédulo, sobre o feito de Deyverson.
Carlos estava presente na apresentação do atacante no Palmeiras, quando ganhou um abraço emocionado do filho.
“É um cara que batalha por mim. Deixava de dar comida em casa para dar dinheiro para eu ir treinar”, lembrou Deyverson em 2017. Anos depois de algumas broncas, como num jogo no estádio do São Cristóvão, clube da zona norte do Rio, famoso por ser o berço de Ronaldo Fenômeno.
Bronca e provocação ao pai
Indomável, Deyverson abusava de firulas contra o adversário. Carlos, furioso, gritou da beira do campo, conforme lembrou o irmão Anderson: “Ele disse: ‘se você continuar fazendo isso eu vou te pegar aqui fora! Aí dentro você é jogador, mas aqui fora eu sou seu pai!”
No mesmo jogo, Deyverson fez um gol. Na comemoração, correu em direção a Carlos e, bem no seu estilo, deu o recado: “Segura aí, pai!”.
O jeitão provocador, que não poupou nem o pai-treinador, foi visto justamente na final da Libertadores. Após o gol, comemorou fazendo um gesto usado pela torcida do Palmeiras, mas que Deyverson já conhecia dos tempos do Rio – especificamente do Vasco, seu time de infância: os braços cruzados sobre a cabeça, mostrando os dedos médios.
“Eu amo o Palmeiras, mas meu pai me ensinou a ser Vasco”, contou o atacante.