Como Nicolas saiu do Sul, virou "Cavani" no Norte e se tornou atração da Série B

Ídolo do Paysandu conta a trajetória desde a infância até o retorno pra "casa" em 2024

Por Allan Brito

A trajetória de Nicolas é improvável: ele nasceu em uma cidade muito pequena do interior gaúcho, Alegria, que tem cerca de 3 mil habitantes. Virou jogador de futebol, quase desistiu da carreira e só encontrou alegria de fato em um cenário bem diferente e muito longe dali: no 2º maior estado do Brasil, Pará, na região Norte. Nicolas virou ídolo do Paysandu, é chamado de "Cavani da Amazônia" e está entre as principais atrações da Série B 2024, transmitida pela Band na TV e no Bandplay.

O início em Alegria

"Sou de Alegria, no interior do estado do Rio Grande do Sul. Pra sair de lá era difícil. A cidade era pequena. O futebol era pouco. O único incentivo que tinha era dentro da família. Minha família sempre esteve envolvida e engajada em torneios. Meu pai sempre participou. Eu ia nos jogos e essa paixão por futebol foi crescendo. Meu irmão mais velho era atleta profissional e eu sempre acompanhava. Meu pai incentivava. Não tem como não pegar gosto. A paixão foi aumentando até que as coisas foram ficando mais sérias".

No início Nicolas nas categorias de base do Juventude. Depois passou por outros times do interior gaúcho: São Luiz, Novo Hamburgo e Ypiranga. Passou também por times catarinenses, Criciúma e Chapecoense, que não eram tão estruturados quanto hoje. A realidade era difícil. Nicolas quase desistiu.

"Passei dificuldades e pensei em parar. Não estava sendo benéfico. Não vislumbrava algo maior. Em 2015 estipulei que seria meu último clube que jogaria se as coisas não começassem a mudar. E ali as coisas começaram a mudar".

O início da alegria

Mais um detalhe improvável na história de Cavani: um jogador formado no Juventude gerou alegria para o maior rival, Caxias. Venceu a Divisão de Acesso do Campeonato Gaúcho em 2016. E desistiu de desistir. 

"Comecei a jogar mais, fazer gols e comecei a disputar outros campeonatos. Voltei ao Criciúma em 2018, fiz mais uma Série B e comecei a me motivar".

Voando Pro Pará

"Quando veio o Paysandu, eu tinha dúvida, mas sabia que precisava abrir um novo mercado. E no Rio Grande do Sul não tinha mais o que buscar lá. Arrisquei e, sem dúvidas, foi umas principais decisões da minha vida e a mais correta também".

A adaptação não foi rápida. "No início foi muito difícil. Aqui é muito quente e chove praticamente todos dias. A cultura é diferente, a comida é diferente e tive dificuldades no início. Passava mal nos treinos, porque treinava pela manhã muitas vezes. É muito quente. Só que, ao passar do tempo, fui me acostumando. As coisas começaram a dar certo dentro de campo e isso facilita. Parece que os problemas são irrisórios, pequenos, diante do que acontece de bom. Comecei a focar nas coisas boas".

Posição de Cavani

No começo da carreira Nicolas era um atacante que jogava pelos lados. Hélio dos Anjos, atual técnico do Paysandu, transformou ele em centroavante, em 2019.

“No meio de 2019 Hélio veio pro Paysandu, conheci ele e a gente começou a construir a relação de treinador e atleta. Tenho muita gratidão por ele. Eu era jogador de lado de campo, era mais magro e hoje sou um pouco mais forte. E vim para centroavante. No Criciúma falavam pra fazer isso, eu não aceitava, não me agradava. Em 2019 o Hélio teve uma conversa legal comigo. A gente resolveu apostar nessa possibilidade. E aí meus números melhoraram muito. As coisas começaram a crescer”.

Apelido Cavani

A brincadeira da torcida do Paysandu surgiu rapidamente. "O apelido 'Cavani da Amazônia' foi no primeiro ano. Demorou poucos jogos. A identificação já veio com a torcida. Meus gols saíram e aí o apelido, que aceito com carinho, já pegou. Isso teve proporção nacional e hoje é difícil de tirar. Nunca me incomodou. Não me comparo a ele. É um cara que gosto, porque se entrega, mas não me comparo a ele".

Mudança de “bioma”

Nicolas foi jogar no Goiás em 2021 e ficou lá por 2 anos. Foi bem e teve uma mudança no apelido. Só mudou o bioma.

"A passagem pelo Goiás foi maravilhosa. Tive números bons lá. Tive uma das principais conquistas, um acesso à Série A, fiz quase 100 jogos e quase 30 gols. A torcida me abraçou. Tinha o apelido de 'Cavani do Cerrado'. Aproveitei cada momento e sou muito grato".

Retorno para "casa"

Em 2023 Nicolas saiu do Goiás e foi para o Ceará. Não deu certo. Então voltou para o Paysandu, que tinha acabado de conquistar o acesso pra Série B de 2024.

"Precisava voltar. A passagem pelo Ceará me incomodou muito. Eu vinha em uma batida muito boa e cheguei em um clube desorganizado. E aí você fica duvidando de você. Precisava de um lugar em que me sentisse em casa e as coisas pudessem acontecer de maneira mais clara".

Deu certo: Nicolas fez 13 gols em 22 jogos, foi artilheiro e campeão paraense e está na final da Copa Verde. Voltou a ser querido pela torcida. Mas na Série B, por enquanto, o Papão ainda não venceu. Perdeu dois jogos e empatou dois.

“Burro é você”

Nicolas quer fugir do estereótipo de jogador alienado. Sempre mostrou um perfil diferente da média. E se incomoda com quem erra nesse sentido. “A única maneira de tirar esse estigma dos jogadores é se posicionar em todas oportunidades”.

Ele até citou um exemplo que considera negativo, de Iury Castilho, atacante do Vitória.

 Inclusive no ano passado teve um atleta, que fizeram uma pergunta sobre cálculos para ele ter o acesso. E aí, de maneira infeliz, falou que jogador de futebol é tudo burro e deixa as contas para especialistas. Deu vontade de falar 'burro é você, não coloca a gente nesse saco'. 

Aposentadoria

Nicolas está com 34 anos e não sabe quando vai se aposentar. Mas quer seguir no futebol. E não deve ser técnico.

"Vamos ver até quando vou estar contribuindo. Enquanto estiver ajudando, não vou parar. A partir do momento que o corpo e a mente avisar, a gente pensa no próximo passo. Não me identifico dentro de campo, mas pretendo continuar no futebol. Acho que caibo mais na parte de gestão, de tentar conseguir gerir um clube, mas vamos ver. É se preparar"

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