Esporte

Como é a experiência de treinar um esporte com uma medalhista olímpica?

Band participou de atividade com Rosemar Coelho, integrante da equipe do revezamento 4 x 100 m que ganhou o bronze em Pequim-2008

Por Emanuel Colombari

Como é a experiência de treinar um esporte com uma medalhista olímpica?
Emanuel Colombari / Band

Você sabia que atletas do revezamento 4 x 100 m alternam as mãos na passagem do bastão? Assim, quem carrega o aparelho com a mão direita passa adiante para quem carrega com a mão esquerda, e vice-versa.

Este foi um dos ensinamentos de Rosemar Coelho, integrante da equipe brasileira que conquistou a medalha de bronze na disputa feminina do revezamento 4 x 100 m da Olimpíada de 2008, em Pequim. A convite do Sesc, a ex-velocista orientou uma sessão de treino de corrida em São Paulo no fim de maio, na qual misturou dicas para treinamentos e histórias sobre a carreira.

A reportagem do Band.com.br acompanhou a sessão em uma manhã de muito frio - a temperatura esteve sempre em torno dos 10 graus durante a atividade. Não foi problema para os pouco mais de 20 participantes que acordaram cedo e encararam a atividade com Rosemar, embora a lista de presença contasse com nomes que não compareceram.

Boa parte do treino foi dedicada a exercícios técnicos pensados para quem busca desempenho em corridas mais longas, como amplitude de passadas e elevação de joelhos. A medalhista organizou filas e aparelhos para os participantes, buscando o tempo todo incluir diferentes faixas etárias. Nas filas de barreiras, quem tinha dificuldade para abrir a passada podia correr ao lado, desde que tentando buscar o objetivo do exercício.

Passados o alongamento, o aquecimento e os exercícios, Rosemar puxou uma corrida leve de cerca de 500 metros nas dependências do Sesc. Na sequência, a ex-velocista ensinou a técnica para a passagem de bastão nas provas de revezamento, com detalhes que olhos leigos não captam - posição de braço, de mão e comunicação entre atletas, por exemplo.

“A atleta que vai receber tem que estar muito concentrada para quem vai passar, porque eu vou gritar. Você imagina, ao mesmo tempo, ter um monte de gente gritando, fora a plateia. É extrema concentração. não pode haver erro. Teve erro, já era”, explicou.

No fim, em clima de confraternização, Rosemar Coelho contou da experiência olímpica e da situação peculiar na busca pela medalha de bronze. O público presente, é claro, pode tirar fotos com a medalha e com Rosemar, que atendeu cada pedido de selfie. Mesmo aposentada das competições, a ex-atleta de 47 anos mantém a rotina de treinar e participar de corridas mais longas.

“Hoje eu continuo - não sendo mais atleta profissional, mas atleta amadora - fazendo atividade física. É muito importante para a nossa saúde. As pessoas acham que atleta não visa saúde - visa, sim. O atleta precisa estar extremamente saudável, senão ele não consegue desenvolver atividade física. Não existe aquela história de ‘atleta não é saudável’, não existe. A gente é extremamente saudável. É lógico que a gente faz exercício de alto impacto, e como qualquer outro trabalho, tem lesões. Vai lá, se recupera e volta”, explicou Rosemar, oferecendo conselhos ao público presente.

“A dica para você é: tenham uma boa alimentação. É muito importante não só fazer atividade física, mas ter uma boa alimentação. Um complementa o outro. Quando for fazer atividade física, escolhe o tênis correto, a roupa confortável, para depois não ter desgaste, ter bolha no pé. Isso é muito importante para a gente levar para a vida, ter uma vida saudável. A dica que eu passo para vocês: continuem fazendo atividade física, que é muito bom e muito importante para que a gente tenha uma longa vida saudável.”

Nove anos depois, a medalha de 2008

A final feminina do revezamento 4 x 100 m em Pequim-2008 consagrou a Rússia, que conquistou a medalha de ouro com o tempo de 42s31. A Bélgica ficou com a prata (42s54), enquanto a Nigéria foi bronze (43s04).

O Brasil fez o tempo de 43s14 e terminou com a quarta colocação. O quarteto era formado por Rosemar Coelho, Lucimar de Moura, Thaissa Presti e Rosângela Santos.

“Eu abri o revezamento. Quando eu passei para a segunda mulher, para a terceira, nós estávamos em segundo. Você imagina, eu assistindo a prova e pensando: ‘Eu vou ser medalhista olímpica, eu vou ser medalhista olímpica’”, descreve Rosemar. “Se vocês olham a chegada… A Rosângela fala: ‘Se eu tivesse um silicone, era só jogar’”, brinca.

Porém, denúncias em 2015 apontaram para um esquema de fraudes de atletas da Rússia em exames antidoping. Uma das beneficiadas era Yuliya Chermoshanskaya, integrante da equipe do revezamento na final de 2008. Um exame com uma contraprova colhida na época e mantida desde então atestou a violação da regra e cassou o resultado da equipe.

“Você vai para uma final olímpica e imagina que todo mundo ali está honesto, você não desconfia de ninguém. Eu estou ali para correr de igual para igual com todo mundo, achando que todo mundo está igual. Todo mundo fala: ‘Mas você não desconfiou?’. A gente está em uma final olímpica, se vou ficar tentando achar quem toma (doping) ou quem não toma, eu não corro”, afirmou.

Em 2016, o COI (Comitê Olímpico Internacional) cassou a medalha de ouro da Rússia e anunciou o novo resultado da final, com o Brasil em terceiro lugar. As brasileiras receberam a medalha de bronze na cerimônia do Prêmio Brasil Olímpico em março de 2017.

Para Rosemar, a sensação foi a mesma de ter recebido o prêmio na final de 2008.

“As pessoas falam: ‘Qual é seu sentimento?’. Gente, é a mesma coisa. Eu fui aos Jogos Olímpicos, limpa, e ganhei uma medalha olímpica. É muito difícil a passagem (de bastão), tem que ser muito rápida, e Brasil ganha uma medalha, mesmo depois de nove anos”, afirmou.

“Agradeço a Deus todos os dias de me dar essa oportunidade de ser medalhista olímpica em vida. Nunca houve na história do COI rever, fazer entrega das medalhas. para a gente - e aconteceu. Eu levo como uma grande conquista da minha vida. Ir aos Jogos Olímpicos é muito difícil, imagine ser medalhista”, completou.

Quem é Rosemar Coelho

Natural de Miracatu (SP), Rosemar Coelho Neto integrou a seleção brasileira de atletismo entre 1998 e 2011. Em 2004, foi campeã dos 200 m e vice-campeã dos 100 m no Troféu Brasil. No mesmo ano, disputou a Olimpíada em Atenas, na qual a equipe brasileira do revezamento 4 x 100 m ficou na nona colocação.

Em 2006, venceu as provas dos 100 m, dos 200 m e do revezamento 4 x 100 m tanto no Troféu Brasil quanto no Campeonato Sul-Americano. Em 2008, conquistou o bronze do revezamento no revezamento na Olimpíada de Pequim.

Aposentou-se em 2011, ainda com resultados expressivos: a medalha de ouro nos Jogos Pan-Americanos, em Guadalajara, e a prata no Sul-Americano, em Buenos Aires. Aposentada das provas profissionais, é atualmente coordenadora de qualidade de vida na unidade de Registro (SP) do Sesi.

Rosemar Coelho também ministra palestras sobre qualidade de vida. Tem uma filha, Valentina, que é bisneta do bicampeão olímpico Adhemar Ferreira da Silva.

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