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Tempo, maternidade, pressão estética: desafios femininos na prática da corrida

Mulheres relatam que se sentem 52% mais felizes, 50% mais energizadas, 48% mais confiantes, 67% menos estressadas e 80% menos frustradas quando se exercitam regularmente

Por Cacá Filippini

Nosso Corre

Cacá Filippini é comunicadora e maratonista engajada em saúde, bem-estar físico, mental e esporte. Mãe de dois filhos biológicos e de dois que a vida a presenteou através de seu marido, forma uma família cheia de diferentes desafios etários, que vão da maternidade de um universitário até o dia a dia de uma criança especial. Como uma mulher REAL com muita história de superação, Cacá se divide em universos femininos ligados à maternidade, ao ser mulher 40+, aos desafios do corre diário de quem precisa equilibrar a vida e claro, das maratonas que corre pelo mundo.

Tempo, maternidade, pressão estética: desafios femininos na prática da corrida
Arquivo pessoal

Sabemos que a prática da corrida é uma atividade física benéfica para a saúde, mas as mulheres muitas vezes enfrentam desafios únicos ao se envolverem nesse e em outros esportes.

Recentemente, a marca esportiva Asics realizou um estudo global acerca da diferença da prática de atividades físicas entre os sexos e apontou que, embora a atividade física seja extremamente positiva na saúde física e principalmente mental, mais da metade das mulheres em todo o mundo está desistindo ou parando completamente de se exercitar.

O estudo global Move Hr Mind | ASICS GB foi feito com 24.959 pessoas, encomendado pela marca esportiva e conduzido de forma independente pelos renomados acadêmicos Dra. Dee Dlugonski, professora-assistente do Sports Medicine Research Institute, da Universidade de Kentucky, e professor Brendon Stubbs, da Kings College de Londres. 

O que nos chama atenção é que mulheres relatam que se sentem 52% mais felizes, 50% mais energizadas, 48% mais confiantes, 67% menos estressadas e 80% menos frustradas quando se exercitam regularmente. Mas que, mesmo diante desse cenário, os desafios são enormes.

E estamos falando desde questões relacionadas ao tempo disponível (74%) e baixa autoconfiança (35%) até ambientes intimidadores (44%) ou por não se sentirem suficientemente atletas (42%). 

Encontrar tempo

Muitas mulheres têm múltiplos papéis e responsabilidades, incluindo trabalho, cuidados familiares e outras atividades. Encontrar tempo para correr pode ser um desafio, especialmente com agendas lotadas. Equilibrar essas responsabilidades e reservar um tempo para si mesmas se torna uma luta constante.

Quase dois terços (61%) das mães citaram a maternidade como o principal motivo pelo qual interromperam suas práticas esportivas.

Curiosamente, as percepções dos homens sobre os desafios que as mulheres enfrentam eram diferentes da realidade. Apenas 34% dos homens reconheceram a falta de tempo como uma barreira para o exercício das mulheres, apesar de três quartos (74%) das mulheres citarem o problema.

Pressão estética

Apesar da sociedade muitas vezes colocar uma forte pressão sobre as mulheres para se encaixarem em determinados padrões de beleza e forma física, esse ‘impedimento’ foi constatado pelos homens. Sim, 58% dos homens entrevistados pensavam que as inseguranças corporais eram o principal problema, relatando isso como a principal barreira.

O estudo ainda constatou que mais de um terço das mulheres diz que suas amigas são as mais importantes influenciadoras de exercícios, observando que elas são mais motivadas a se exercitarem por mulheres como elas do que por celebridades. Os pais e os parceiros também influenciam, mostrando que ambos os gêneros podem ter um impacto sobre a participação das mulheres no esporte. ?

Quando perguntadas sobre o motivo pelo qual se exercitariam, as mulheres disseram universalmente que é mais pela saúde mental (92%) e física (96%) do que pela estética. 

Além do que foi constatado, eu, Cacá Filippini, corredora e autora do Nosso Corre, conversei com 379 mulheres corredoras ao longo das últimas 3 semanas. E aqui, trago uma lista elencando outros desafios vistos por essas mulheres brasileiras, que correm em ruas de cidades brasileiras e de outros países.

Segurança

A segurança é o principal desafio para a mulher que corre em ruas. Especialmente ao fazê-lo em áreas pouco iluminadas ou isoladas. Preocupações com assédio, violência ou simplesmente estar sozinha em locais remotos costuma ser obstáculo real para muitas mulheres que desejam correr ao ar livre.

Equilibrar expectativas sociais

Mulheres podem enfrentar expectativas sociais conflitantes em relação ao exercício físico, equilibrando a busca por saúde e bem-estar com outras prioridades, como carreira e família. E, de certa forma, ainda enfrentam esse ‘julgamento’ com seus pares profissionais e até mesmo seus parceiros, como namorados e maridos. Encontrar um equilíbrio saudável e resistir à essa pressão é o segundo desafio mais citado.

Lesões e saúde feminina

Em consequência ao item anterior, há relatos de muitas mulheres corredoras que enfrentam desafios específicos relacionados à saúde ao correr. Isso incluí lesões musculares (eu sou uma delas), dores nas articulações e questões relacionadas ao ciclo menstrual e à menopausa. 

Intimidação e competição

Por último, mas também citado por 72% das mulheres com quem entrevistei: se sentir intimidadas ao correr em grupos ou participar de eventos de corrida devido à competição percebida com outros corredores é um desafio!

Superar essa sensação de inadequação, somada também à cobrança estética de corpos ‘não considerados de corredoras’ e encontrar uma comunidade de apoio pode ser crucial para o sucesso a longo prazo na prática da corrida.

Muitas mulheres relatam se sentirem ‘repelidas’ de grupos de corredoras por não se encaixarem no dito ‘padrão’. Uma constatação triste quando há tantos movimentos de ‘sororidade’ e rede de apoio entre mulheres. 

Com isso, na data de hoje, 8 de março, dia que exalta mundialmente as conquistas femininas, trago esse texto como um lembrete: “SE NÓS MULHERES NÃO ESTAMOS MENTALMENTE BEM, NÃO ESTAREMOS BEM PARA CUIDAR DE NADA E DE NINGUÉM!”

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