Conheça histórias de quem usou a dor do bullying como propósito para conquistas

Luta contra o bullying não é uma tarefa de um dia, nem de um grupo de pessoas, mas sim de todos os dias do ano e de todas as pessoas

Por Cacá Filippini

Conheça histórias de quem usou a dor do bullying como propósito para conquistas
Bullying pode também ser o propósito de alguém para ajudar o próximo
Arquivo Pessoal

O dia 20 de outubro é considerado o Dia Mundial de Combate ao Bullying. A data é um alerta internacional para o problema do bullying com que muitos jovens vivem.

Segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), uma em cada três crianças do mundo, entre os 13 e os 15 anos, é vítima de bullying na escola regularmente.

Dessa forma, consciencializar a população mundial para esta forma de violência, apoiar e incentivar as vítimas a denunciarem estas graves situações e encontrar formas de as prevenir são os desafios colocados por esta data. 

Se por um lado, o bullying pode trazer dores fortes para quem sofre, também pode ser o propósito de alguém, que a partir da sua própria dor ajuda outras pessoas nessa dura batalha.

O corredor chileno Antonio Marshall, de 40 anos, que já cumpriu 12 maratonas, deve sua virada de chave há alguns anos. Mesmo atuando na área técnica do canal legislativo chileno, passou a correr pelas Américas com o propósito de combater o bullying.

Antonio conta que sofreu muito bullying quando era criança e no início da juventude. E assim, como toda vítima, cada nova agressão, um novo sofrimento para lidar. “Aquelas situações me faziam muito mal. Doíam de verdade. A cada novo episódio, mas eu me fechava no meu sofrimento”.

O relato do chileno não é novo para quem já viveu na própria pele ou convive com alguém que tenha sido vítima de bullying. Falo, inclusive com propriedade. Como mãe de um adolescente autista, presenciei alguns episódios em que meu filho foi alvo. E imagino que possam ter tido outros, longe da minha presença. 

Da primeira vez, fiquei muito brava e respondi com agressões verbais também. Mas depois entendi que o bullying, fala mais sobre o agressor do que o agredido. E decidi educar o agressor, ao invés de punir ou entrar em um ciclo de agressividade. 

Antonio que há muitos anos colocou a corrida em sua vida, teve uma ideia, tão logo deixou os cabelos e barba crescerem em decorrência da pandemia, e passou a ser apelidado de Forrest Gump (interpretado por Tom Hanks no cinema) pelas pessoas mais próximas. Assim, ao invés de se deixar abalar pela comparação, viu a oportunidade de fazer algo diferente: se fantasiar para correr a Maratona de Santiago 2023, que voltava a acontecer em 2022. ”Sendo a maratona em abril, comecei a ter vontade de comprar a fantasia em setembro, mas a ideia ia e vinha. Todas as vezes me perguntando se eu seria ridículo... o que as pessoas pensariam de mim?", disse.

“Muitas dúvidas e lutas internas por meses, até que em dezembro, resolvi fazer a compra. Mas ainda assim, não sabia se iria ou não usar”, disse. "Decidi estudar o personagem e assisti várias vezes ao filme. E cada vez que eu assistia, tinha uma interpretação diferente. Forrest tinha muito mais coisas em comum do que apenas a aparência. E o bullying veio à tona!”

Essa foi a motivação que o conhecido Forrest Gump Chileno precisava para sair correndo por aí e transmitir a mensagem de esperança, respeito e inclusão social, em especial às pessoas no espectro autista, como o personagem Forrest Gump.

Meu encontro com Antonio aconteceu na Meia Maratona de Buenos Aires, quando literalmente nos esbarramos na entrega das medalhas ao final da prova. Dali em diante, decidi saber quem era aquela pessoa vestida de Forrest Gump e descobri um trabalho extraordinário de um esportista que corre pelas Américas e faz encontros com crianças e jovens em escolas locais, antes ou após as corridas. Nesses encontros, o Forrest Chileno chama a atenção que em uma escola todos têm a responsabilidade da ação do outro quando são espectadores e nada fazem. 

Como resultado, os diretores e coordenadores dessas escolas compartilham resultados muito positivos na redução de casos de agressões verbais e físicas. E relatam também maior consciência sobre o respeito às diferenças e a inclusão social.

Atualmente, o chileno concentra suas corridas em distâncias menores para que possa, todos os finais de semana, estar em alguma cidade diferente transmitindo a sua mensagem. Não apenas para o combate ao bullying, como também o encorajamento a pessoas com TEA (Transtorno do Espectro Autista) a superarem seus limites dentro de suas capacidades.

Eu, Cacá Filippini, decidi usar uma frase (adaptada) do filme ‘À procura da felicidade’ na educação do meu filho, que diz: “Nunca deixe que ninguém diga pra você que você não é capaz de fazer algo. Nem mesmo eu, que sou sua mãe”.

E nesse cenário de incentivo constante aos desejos dele, no início desse ano, vi meu filho autista correndo e sorrindo, em meio à centenas de pessoas, buzinaços e gritos, cruzar a linha de chegada dos seus primeiros 4k desacompanhado. Uma emoção sem precedentes pra mim. Uma conquista para ele que, diariamente, tem sua capacidade questionada.

Ao concluir, ele me pediu para gravar um vídeo para colocar em sua rede social e disse: “Essa medalha é para você que disse que não acreditou que eu iria conseguir. Eu posso tudo, se eu acreditar que eu posso!”

Por fim, vale ressaltar que a luta contra o bullying não é uma tarefa de um dia, nem de um grupo de pessoas, mas sim de todos os dias do ano e de todas as pessoas. Como alerta o Forrest Gump Chileno, se vemos uma pessoa insultando um terceiro e não falamos nada, nós também estamos contribuindo para que o bullying siga acontecendo.

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