Academia "de nerds" tem promessas do Brasil no UFC; conheça a história e os atletas

A Fighting Nerds acumulou 23 vitórias no UFC e acredita que "lutar é como fazer um vestibular"

Mauricio Ruffy, Caio Borralho, Jean Silva e Carlos Prates
Mauricio Ruffy, Caio Borralho, Jean Silva e Carlos Prates (Foto: Reprodução/ Fighting Nerds/ Full Violence)

O significado da palavra “nerd” mudou ao longo do tempo. Inicialmente tinha um tom pejorativo, mas logo passou ter uma reputação melhor. É usada para definir alguém que se interessa demais por um assunto e estuda isso. E agora os “nerds” foram mais longe: invadiram o UFC. A academia “Fighting Nerds” reúne várias promessas do MMA brasileiro e já começou a chamar atenção internacionalmente. 

A história começou com Pablo Sucupira, que tinha sofrido bullying na adolescência por ser mais baixo e mais quieto - uma história comum de “nerd”. Ele aprendeu a lutar e praticou boxe e muay thai profissionalmente. Mas logo virou treinador de lutas e encontrou outro “nerd” - Caio Borralho, que se formou em química e até deu aulas de matemática, mas queria virar atleta de MMA. A parceria entre eles deu certo. Neste sábado (24), Caio fará a luta principal do UFC Vegas 96 e já prometeu que futuramente será campeão do peso médio.

Pablo e Caio resolveram criar a Fighting Nerds (em português, “nerds lutadores”), uma academia com atletas que estudam mais, são mais estrategistas e usam a inteligência de luta. Inicialmente a ideia não foi bem vista, segundo Pablo.

O pessoal fez umas brincadeiras. Não foi muito bem aceito o nome. Mas com os resultados e a forma que a a gente luta, o pessoal começou a entender que era uma nova forma de ver a luta e a profissão. A gente começou a ganhar tudo. E hoje em dia, as mesmas pessoas que não gostaram do nome estão usando óculos

Pablo criou o óculos que virou uma marca registrada da Fighting Nerds. O treinador é formado em publicidade e criou um óculos que parece quebrado e consertado. “Pensei em algum ícone que simboliza essa equipe. Esses óculos quebradinhos, como se o nerd tivesse brigado, passa muito do nosso conceito”.

Pablo Sucupira (esq.) criou os óculos da Fighting Nerds

O objeto já ganhou adeptos internacionais, como Joe Rogan e até o adversário de Caio Borralho neste sábado. Jared Cannonier comentou sobre o óculos na encarada desta semana.

Treinos diferenciados

A ideia de treinar atletas para que eles se tornem mais inteligentes não chega a ser inovadora. A maioria dos treinadores quer isso. O difícil é conseguir. E a Fighting Nerds tem atingido todos objetivos. Mas qual é o diferencial? Pablo explica que é importante preparar o “estado de espírito” dos atletas para que eles usam a inteligência na luta.

“A gente vai além de deixar eles mais inteligentes. É usar a inteligência dentro da luta"

Lutar é como fazer um vestibular. Se você tiver muito emocionado, com muita raiva, você não vai pensar. Então a gente achou um estado de espírito em que a razão funciona melhor que a emoção dentro do octógono 

“Isso fez com que os atletas entendessem melhor o adversário, entendessem melhor eles mesmos, e entendessem melhor o caminho para ganhar a luta”

Essa preparação acontece com diversos treinos, mas Pablo destaca um de forma especial: “Eu repito muito cenários da luta. Eu faço ensaios que serão repetidos todos os dias. A luta é apenas uma apresentação do que foi ensaiado muitas vezes. Então o atleta chega acostumado com a luta. Isso já faz com que ele realmente entenda a luta, perceba o que está acontecendo e tome as melhores decisões”.

Borralho completa: “O Pablo fala que não somos trocadores de golpes. A gente foca em outros aspectos da luta - o controle da distância, como chegar no adversário e no ataque e resposta. Não só em dar soco e dar chute. Além disso, a gente estuda muito e adapta todos os treinamentos para o adversário que a gente vai lutar, para que seja uma coisa mais exclusiva. O Pablo tem o método que ele faz os começos de rounds, meio de rounds e finais. Tem treino intervalado, que é de alta intensidade e trabalha nossa recuperação entre os esforços. 

Então a gente tem usado a ciência a nosso favor, como bons nerds, e acho que está funcionando

O técnico entende que esse tipo de treinamento já está virando uma tendência internacional no MMA: “Eu estou começando a ver outras equipes treinarem assim também. Eu acho que não existem verdades absolutas na luta. Existem novidades e novos caminhos. Eu acho que a gente está apenas um pouquinho na frente da maioria das equipes”.

Maiores promessas do MMA brasileiro

É fácil ver como a Fighting Nerds está na frente de muitas academias. Basta observar os resultados dos atletas que chegaram no UFC. Até agora são 23 vitórias e apenas 6 derrotas, contabilizando também os combates do reality show “Dana White’s Contender Series”.

Caio Borralho: 8 vitórias
Carlos Prates: 4 vitórias
Jean Silva: 4 vitórias
Marcelo Ruffy: 2 vitórias
Thiago Moisés: 1 vitória e 1 derrota
Kaynan Bahia: 1 vitória e 2 derrotas
Bruna Brasil: 3 vitórias e 2 derrotas
Jair Farias: 1 derrota

Borralho já está no ranking do peso médio e deve subir para a 5ª posição, se derrotar Jared Cannonier neste sábado. Nesta semana ele disse ao Band.com.br que será campeão do UFC e entende que a Fighting Nerds merece isso: “A gente imaginava que ia chegar na luta principal a qualquer momento. A gente merece esse posto porque a gente trabalha muito dentro e fora do octógono”.

Pablo Sucupira destacou o lado estratégico de Caio: “É um cara que, em 8 lutas, só perdeu um round e nunca se machucou. Sempre tomou boas decisões. O UFC quer é um pessoal que vai pro tudo ou nada, que dá show, por isso o Caio demorou para ser mais valorizado. Mas depois da luta contra o Paul Craig, viram a qualidade do Caio e agora ele está no lugar que merece”.

Já Carlos Prates parte pro espetáculo, como no sábado passado, quando venceu com um nocaute brutal. Ele já foi comparado com Anderson Silva pelo estilo de luta em pé: preciso e fatal. Mas causa desconfiança sobre a luta de chão. Pablo Sucupira vê Carlos bem preparado pra isso: "Ele tem desenvolvido muito a parte de chão. Na penúltima luta dele, ele defendeu bem as quedas. Mas na hora que precisar mostrar a parte de chão dele, ele vai estar pronto”.

Jean e Ruffy também já conseguiram vitórias impressionantes, mas ainda não estão com lutas marcadas. Pablo acredita que Ruffy voltará ao octógono em outubro. Já Jean precisa se recuperar de uma lesão nas mãos.

Os quatro já pintam como esperança para o Brasil ter mais campeões no UFC futuramente.

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