Rolando Boldrin sabia como ninguém contar um “causo” e uma boa história. E com sua perspicácia, gravou a música “Futebol da Bicharada”. reunindo os bichos do universo rural para falar sobre o futebol, a catimba, o juiz, a violência em campo. Era o clássico “Quebra-Dedo x Pé-Rapado". Apresentador, cantor e ator, Rolando Boldrin, mestre da moda de viola, morreu nesta quarta-feira (9), aos 86 anos.
Boldrin, em “Futebol da Bicharada”, canta a música de Raul Torres, que escalou o time do Quebra-Dado com: Sapo, Leão, Cavalo e Preá; Veado, Gambá e Rato (Macaco); Gato, Tigre e Bode. E o juiz era o lagarto. E a torcida invadiu o campo quando o pau comeu. Qualquer semelhança com um jogo de várzea ou do Brasileirão, não é mera coincidência.
Futebol da Bicharada
Lá no arraiá das coruja fizero dois cumbinado
O time do quebra-dedo, e o time do pé-rapado
A bicharada reuniu, formaro logo seu quadro
Nóis fumo vê esse jogo, por sê um jogo faladu
A bicharada pediu pro jogo sê irradiadu
Na estação du lugá, PRJ-Bichadu
O ispriqui era o jumento, rapaizinho apreparadu
As quinze hora da tarde o jogo foi cumeçado
O time do quebra-dedo tinha fama de campeão
Sapo jogava no gol, béqui de espera o leão
Cavalo o béqui de avanço, o arco esquerdo preá
Veado de center-arco, arco direito o gambá
A linha tava um perigo, na meia jogava o rato
No centro jogava o tigre, na otra meia o macaco
Na esquerda jogava o bode, direita jogava o gato
E pra atuá di juiz, foi convidado o lagarto
Boa tarde senhoras e senhores
Ai que bicharada gorda, barbaridade
O tigre deu a saída, coelho foi pra tirá
O tigre passô pru bode, mais quando ele foi chutá
Puxaro a barba do bode, o bode foi recramá
Juiz falô que num viu, cachorro já quis brigá
A cabra muié do bode, xingô o juiz de ladrão
Torcida do quebra-dedo fizéro recramação
A capivara e a cotia pegaro a xingá o leão
Preguiça dava risada, de vê o sapo de carção
Largato que era o juiz, na hora dele apitá
Tinha engulido o apito, num pôde o jogo Pará
A torcida entrô no campo, de pau, de faca e punhá
O pau cumeu direitinho, mataro trêis no lugá
O bode ficô ferido, mataro o béqui leão
Rasgaro a saia da cobra, cavalo quebrô a mão
O sapo saiu correndo, jogou-se no riberão
Por que na hora da briga ele ficô sem carção
O jogo num terminô, pur isso ficô empatado
Agora nóis vai falá, do center-arco veado
Nervoso ele dizia, entre suspiros e ais
Ai meu Deus do céu qui jogo bruto, meu Deus, que estupidez
Assim num jogo, num jogo, num jogo mais