Pelé fez a fama de goleiros pelo mundo e jogou no gol em quatro partidas

Rei do Futebol jogou 54 minutos como goleiro e jamais foi vazado. Conheça a história da relação dele com as vítimas dos seus gols

Paulo Guilherme Guri

Pelé foi tema de um dos capítulos do livro "Goleiros - Heróis e Anti-Heróis da Camisa 1", que escrevi e publiquei em 2006 pela editora Alameda. A ideia foi mostrar como levar ou evitar um gol de Pelé fez a fama de tantos goleiros e também como o próprio Rei do Futebol foi também um craque jogando no gol. Tive a oportunidade de entrevistar Pelé sobre este tema e ainda ter a assinatura dele no contrato de cessão de direito das fotos para o livro. Edson Arantes do Nascimento morreu nesta quinta-feira (29) aos 82 anos. Obrigado por tudo, Pelé! Abaixo, a íntegra do capítulo sobre Pelé e os goleiros.

Todos os homens do Rei

"Não era fácil ser goleiro no Brasil nos anos 60. A menos que você jogasse no Santos, como Gylmar. Caso contrário, seguramente, em algum momento da carreira, teria de encarar a genialidade de Pelé. Aí, tudo podia acontecer. Pelé era capaz de fazer jogadas que até suas próprias vítimas, incrédulas, se perguntavam: “Mas como foi que ele fez isso?”.  

Para muitos, tomar um gol de Pelé era motivo de orgulho pessoal. Coisa para se colocar no currículo. O goleiro Zaluar, do Corinthians de Santo André, tornou-se advogado e colocou em seu cartão de visitas a frase “Zaluar Torres Rodrigues, goleiro do 1º gol de Pelé”. O argentino Amadeo Carrizo, eleito pela Federação de História e Estatística de Futebol (IFHHS) o melhor goleiro da história da América do Sul, foi a primeira vítima de Pelé jogando pela Seleção, em 1957, em um Brasil e Argentina no Maracanã. Aníbal, goleiro do Comercial de Ribeirão Preto, entrou para a história ao ser o primeiro homem que conseguiu defender um pênalti cobrado por Pelé, em um jogo de sua equipe contra o Santos, em 1962.  

O goleiro Morais, mais conhecido como “Mão de Onça”, do Juventus, sofreu o gol mais bonito de Pelé, em 1959, na Rua Javari, quando o camisa 10 deu quatro chapéus consecutivos sobre três zagueiros do Juventus, mais um chapéu no goleiro “Mão de Onça” e completou de cabeça para o gol. 

O consagrado Castilho sofreu o primeiro “gol de placa” da história do futebol, feito por Pelé, em um Santos e Fluminense disputado em 1961 no Maracanã. Ainda na intermediária, Pelé arrancou com a bola e foi fazendo fila nos jogadores do time carioca. Primeiro passou por Valdo e Edmílson. Depois, deixou para trás, num avanço espetacular, Clóvis, Altair e Pinheiro. Já na grande área, cortou Jair Marinho. O goleiro Castilho por pouco não defendeu o chute. O Santos venceu por 3 a 1 e Pelé ganhou uma placa no Maracanã pelo feito. Assim surgiu a expressão “gol de placa”. Segundo Castilho, Pelé só ganhou esse prêmio porque ele foi o goleiro que sofreu o gol. Se fosse outro arqueiro, sem o talento e fama de Castilho, não haveria placa nenhuma para o Rei.  

A obra mais famosa de Pelé no Maracanã, no entanto, foi o milésimo gol marcado no dia 19 de novembro de 1969 durante o jogo Santos e Vasco pela Taça Brasil. O gol de pênalti marcado pelo camisa 10 cravou na história do futebol mundial, por tabela, o nome do argentino Edgardo Norberto Andrada, para sempre conhecido como “o goleiro do milésimo gol de Pelé”. 

Zaluar levou o primeiro gol de Pelé (Foto: Reprodução)

Nada mais perfeito para consagrar o feito do astro brasileiro do que fazer o gol de número mil em um goleiro da Argentina, grande rival do Brasil no futebol. E nada mal para um goleiro ficar mundialmente conhecido ainda que por causa de um gol sofrido. Andrada, no entanto, levou muito tempo para se dar conta de que aquele acontecimento acabaria sendo um bom negócio para ele.  

Naquele dia, o goleiro do Vasco fez de tudo para não deixar a bola entrar. Podia até tomar um gol do Santos, mas não de Pelé. Por isso, procurou fazer o que considerava um ritual da sorte. Andrada dormiu na mesma cama, vestiu a mesma camisa, fez o sinal da cruz ao entrar em campo, saudou o público do mesmo lado do gramado. Queria estar com o corpo fechado para a artilharia de Pelé.  

No decorrer da partida, Andrada fez defesas milagrosas. Em uma delas, evitou um golaço de Pelé, que arriscou um chute de três dedos, colocando um efeito na bola para encobrir o goleiro vascaíno. A bola ia no ângulo, mas Andrada recuou dois passos e deu um salto para trás, desviando a trajetória com um leve toque com os dedos, de mão trocada. Aos 34 minutos do segundo tempo, pênalti para o Santos. Na cobrança, Pelé fez a sua tradicional paradinha, a jogada imortalizada por ele, que consistia numa súbita travada na corrida em direção à bola, para ludibriar o goleiro e induzi-lo a pular para um dos cantos. Assim, o Rei simplesmente rolava a pelota para o lado oposto. Mas Andrada permaneceu estático. Tinha estudado a fundo a técnica de Pelé. Estava muito bem preparado para não levar aquele gol.  

Pelé, por sua vez, estava nervoso. “O Maracanã estava lotado e pela primeira vez na minha vida eu senti as minhas pernas tremendo. Pensei, e se eu perco esse pênalti?”, revelou o Rei. Chutou, então, no canto esquerdo, sem muita força. Andrada pulou para o lado certo, chegou a resvalar na bola, mas não com força suficiente para impedi-la de entrar no gol.

Inconformado, o goleiro deu vários socos no gramado do Maracanã, lamentando seu fracasso. Quase quatro décadas depois, Andrada comentou: "Como goleiro, não gostei de ter levado o milésimo gol do Pelé. Ia contra os meus princípios, que eram os de evitar que minha equipe levasse um gol. Queria muito ajudar meu time e, na minha cabeça, seria inconcebível aceitar sofrer um gol, mesmo que fosse um gol histórico. Por outro lado, se não tivesse sofrido aquele gol, hoje não estaria dando esta entrevista. Aquele gol marcou a minha carreira e foi uma honra ter participado deste momento histórico do futebol."

Mão de onça, vítima do gol de placa (Foto: Reprodução)

Cinco dias antes do jogo contra o Vasco, o Santos foi jogar um amistoso contra o Botafogo da Paraíba. Pelé contabilizava 998 gols na carreira. Em João Pessoa, os comentários eram de que o time do Botafogo iria facilitar as coisas para que Pelé fizesse dois gols, atingisse a tão aguardada marca e colocasse a Paraíba no mapa múndi do futebol. Os dirigentes do Santos, no entanto, alegavam que João Pessoa entrara no roteiro do time de última hora e, por isso, não seria correto ficar com  

as honras de sediar o milésimo gol. Por isso, o Santos entrou em campo com uma estratégia anti-Pelé. O técnico Lula não deixou que o goleiro titular do time, Agnaldo Moreira, entrasse em campo naquele dia. “Nosso treinador mandou espalhar a notícia de que eu estava doente. Todo mundo estava dizendo que qualquer bola que o Pelé chutasse eles iam deixar entrar”, revelou Agnaldo.

O reserva Jair Esteves foi escalado como goleiro e o Santos ficou sem um substituto para a posição. O jogo transcorreu normalmente. O ponta-direita Manoel Maria fez dois gols para o Santos e, aos dez minutos do segundo tempo, o árbitro pernambucano Armindo Tavares marcou um pênalti a favor do time visitante. A torcida paraibana que lotou o Estádio José Américo de Almeida Filho exigiu que Pelé fizesse a cobrança. Não teve jeito: de pênalti, Pelé marcou o gol de número 999.  

Havia tempo de sobra para Pelé fazer mais um. Mas ele ficou só fingindo que jogava, tocando sempre a bola de lado. Foi quando o goleiro Jair Esteves simulou uma contusão e deixou o gramado. Pelé, então, vestiu sua camisa de goleiro e foi para a meta. Só assim não haveria o risco dele fazer o gol mil antes da hora. No jogo seguinte, contra o Bahia, em Salvador, Pelé só não fez o gol histórico porque o zagueiro Nildo impediu a bola de entrar, salvando em cima da linha. Ele foi vaiado por todo o estádio da Fonte Nova e pelo goleiro do seu time Jurandir, que por causa disso não entrou para a história.  

Brincar de goleiro era uma das maiores diversões de Pelé nos treinos recreativos do Santos e da Seleção Brasileira. Ele mostrava um grande senso de colocação e de tempo de bola para dar os saltos na hora certa. Além disso, as substituições no futebol eram proibidas até 1968, quando a Fifa oficializou a mudança de dois jogadores por equipe. Até então, se o goleiro se machucasse ou fosse expulso, um jogador de linha devia ir para o gol. No Santos e na Seleção Brasileira, o escolhido era Pelé, conforme ele mesmo explicou:  

"Eu gostava de jogar no gol. No começo da minha carreira não havia substituição no futebol. Se tivesse contusão ou expulsão do goleiro, um dos atacantes ia para o gol. E eu era sempre escolhido. Treinava, mesmo na Seleção Brasileira, para ser reserva do goleiro. Por isso joguei algumas vezes no gol."

Além do jogo na Paraíba, Pelé foi goleiro outras três vezes, todas pelo Santos. Foram 26 minutos contra o Comercial em 4 de novembro de 1959 em lugar de Laércio, que se machucou; quatro minutos diante do Grêmio em 19 de janeiro de 1964 com a camisa de Gylmar, expulso; e mais nove minutos no amistoso contra o Baltimore Bay, em 19 de junho de 1973. Somando-se o tempo em que atuou improvisado nas quatro partidas, Pelé jogou 54 minutos como goleiro e não sofreu nenhum gol.  

A grande ironia  

Por ironia do destino, Pelé acabou por gerar um arqueiro de verdade. Dois meses depois de ter conquistado o tricampeonato mundial e maltratado os goleiros adversários que disputaram aquela Copa, Pelé viu nascer seu primeiro filho homem. O menino Edson Cholby do Nascimento herdou do pai o nome próprio e a paixão pelo esporte. Edinho cresceu nos Estados Unidos, onde jogou basquete, beisebol e futebol americano, os esportes prediletos dos ianques. Mas ele gostava mesmo era do futebol.  

Com três anos de idade, Edinho revelava afinidade com a bola. Imitava as bicicletas do pai no meio de cadeiras e sofás de sua casa em Nova York. Sempre que podia, acompanhava Pelé nos jogos do Cosmos. Na época, Pelé já se mostrava contrário à ideia de ver o filho como jogador de futebol: "Sabe o que é? No dia que ele cismar de jogar, vão cobrar dele o meu futebol. Você lembra do Zoca, meu irmão? Pois é, era um bom jogador, mas insistiam sempre em compará-lo comigo. Então ele não conseguia jogar. E, se não fosse meu irmão, estaria jogando até hoje em qualquer grande clube. O único jeito foi jogar futebol com quem gosta, os estrangeiros."

Quando tinha dezesseis anos Edinho foi levado por um amigo de seu pai, o ex-jogador Jorge Cintra, para jogar em uma equipe de descendentes alemães. Chegou para ser goleiro. Depois de duas temporadas disputando campeonatos metropolitanos, Edinho teve de optar entre seguir a carreira universitária ou ser jogador de futebol. Escolheu a segunda. É claro que ser filho de Pelé tem também suas vantagens, e Edinho não teve problemas para ser incorporado ao elenco de juniores do Santos. A agilidade e a impulsão desenvolvidas jogando basquete nos Estados Unidos ajudaram muito no seu início, mas Edinho tinha ainda muita coisa para aprender até se tornar um goleiro completo. Seu porte físico não ajudava muito. Tinha 1,78m e era considerado baixo para a posição. E sua capacidade psicológica para suportar a pressão de viver no meio futebolístico sendo filho de Pelé precisaria ainda ser testada.  

Assim que chegou para o primeiro treino com os juniores do Santos, em um campo esburacado que dava fundos para a Santa Casa de Misericórdia, Edinho foi surpreendido pelo batalhão de repórteres e fotógrafos ali presentes. Nunca um treino dos garotos tinha sido tão prestigiado pela mídia. Todos queriam ver de perto o terceiro goleiro reserva dos juniores do Santos. “A expectativa da imprensa era grande. Quem é esse cara que quer começar no futebol agora, com 16 anos, só por causa do pai? Todo aquele assédio me serviu para motivar ainda mais em meu trabalho. Eu queria vencer de qualquer forma. Não ia me expor à toa”, destacou Edinho.

Foram anos de preparação para poder assumir o posto de titular do gol do Santos. Edinho foi emprestado à Portuguesa Santista e ao São Caetano para ganhar experiência. A chance de ser titular no Santos veio em 1994. Edinho começou a se destacar na posição, principalmente nos clássicos contra o Corinthians e o Palmeiras. Não era um fora-de-série, mas executava bem a sua função e demonstrava grande reflexo e agilidade debaixo das traves.  

O título que faltou para a família  

O grande momento da curta carreira de Edinho foi o Campeonato Brasileiro de 1995, ano em que Pelé trocava o título de Rei do Futebol pelo de Ministro dos Esportes, nomeado pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso. Naquele ano, o Santos formou uma equipe forte e muito motivada, na qual o grande destaque era o camisa 10 Giovanni, um dos poucos jogadores que não sentiram o peso de jogar com a camisa consagrada por Pelé.  

A consagração, no entanto, bateu na trave. O Santos perdeu o título para o Botafogo e Edinho ficou sem a glória de ser campeão. Além de compartilhar com o filho a frustração da perda do título brasileiro – única conquista que faltou para Pelé, que disputou quatro edições do Campeonato Brasileiro criado em 1971 –, o Rei veria Edinho sofrer um gol digno de Pelé. No clássico entre Santos e Corinthians pelo Campeonato Paulista de 1996, o meio-campista corintiano Marcelinho Carioca fez um  golaço em plena Vila Belmiro, ao dar um chapéu no zagueiro Ronaldo Marconato e, sem deixar a bola cair, chutar no canto esquerdo de Edinho. Um gol de placa que Pelé teve de reconhecer e parabenizar o autor e algoz do seu menino. 

“Parabéns pelo gol de placa feito no jogo Santos 2 x 2 Corinthians na Vila Belmiro, em cima do meu filho Edinho. Com admiração, Pelé. 14 de Fevereiro de 1996”, escreveu o ministro dos Esportes no troféu de prata que Marcelinho Carioca exibe com orgulho em sua galeria pessoal. “Durante toda a minha carreira eu maltratei os goleiros do mundo todo. Até que um dia o meu filho resolveu ser goleiro. Acabei pagando por todos os meus pecados”, disse Pelé.

Nos anos seguintes, Edinho não conseguiu repetir a boa fase. Ele deixou o Santos, jogou na Ponte Preta e, aos 28 anos, cansado das cobranças por ser filho de Pelé e das insinuações de que teria tratamento diferenciado em relação aos outros jogadores, abandonou o futebol.  

Os gols que não foram  

Edinho ainda estava na barriga de Rose, primeira mulher de Pelé, durante a Copa do Mundo do México em 1970, quando o Rei protagonizou três das jogadas mais geniais de sua carreira e que acabariam garantindo para três goleiros uma notoriedade inusitada. O checo Ivo Viktor, o inglês Gordon Banks e o uruguaio Ladislao Mazurkiewicz ficaram mundialmente conhecidos como os goleiros que levaram os “quase-gols” mais bonitos da história do futebol mundial. Foram três lances antológicos. Contra Viktor, Pelé quase marcou um gol chutando a bola antes da linha do meio de campo. O goleiro da Checoslováquia tinha mania de jogar quase na linha da grande área e  por pouco não foi surpreendido pela genialidade do camisa dez do Brasil. O chute de Pelé passou rente à trave esquerda do gol dos checos.  

Contra Banks, Pelé fez tudo certo. O ponta-direita Jairzinho recebeu uma bola, avançou até a linha de fundo e cruzou para a área da Inglaterra. Pelé usou toda a sua impulsão para cabecear, de olhos abertos, para o chão, com força. A bola quicou e subiu. Banks, no entanto, foi ainda mais genial. Saltou rapidamente e com a mão direita conseguiu jogar a bola por cima de sua trave. Incrível.  

Diante de Mazurkiewicz, Pelé foi mágico. Ele recebeu um passe de Tostão e, em vez de tocar a bola e partir para o gol, deixou ela passar. O goleiro do Uruguai foi surpreendido pela jogada e ficou no meio do caminho: Pelé passou por ele pela direita e a bola pela esquerda. Depois de dar a volta no goleiro, Pelé se reencontrou com a bola e a chutou para o gol. Mas, feito o mais difícil, ele acabou errando o alvo, com a bola passando ao lado da trave direita. Ainda naquele jogo, Pelé faria outra jogada genial, respondendo de bate-pronto um tiro de meta cobrado por Mazurkiewicz. O goleiro uruguaio defendeu o chute no susto.  

No dia 19 de novembro de 1997, os jornais Notícias Populares e Folha de S. Paulo publicaram uma brilhante reportagem do jornalista Leandro Loyola, que localizou os três goleiros para colher o testemunho deles sobre a experiência vivida com Pelé em 1970. O checo Viktor revelou que pelo resto da vida sonhou com o lance  

em que correu desesperadamente atrás da bola chutada por Pelé desde o meio de campo. Aquela jogada foi um verdadeiro trauma para ele, como declarou:  

"Ele chutou de surpresa, eu não tinha chance. Tentei voltar para o meu gol, mas a bola estava mais rápida do que eu. Dei sorte de ela ir para fora. Eu estava adiantado porque achava impossível alguém tentar acertar um chute de tão longe. Mas o que me surpreendeu é que a bola estava muito rápida por causa da altitude do México. Se a bola tivesse entrado, Pelé seria mais famoso e seria horrível para mim."

O inglês Gordon Banks disse que chegou a ouvir Pelé gritar gol quando ele fez a defesa mágica ao cabecear para o chão uma bola cruzada por Jairzinho. Descreveu Banks:  "Foi a defesa mais importante da minha vida. Eu estava na primeira trave e tive de pular o mais rápido possível. Ao mesmo tempo, tive de pensar a que altura a bola subiria depois de tocar no chão. Quando estiquei a mão e toquei na bola, não sabia onde ela ia parar. Achei que tinha sido gol, que tinha entrado no ângulo. Eu ouvi o Pelé gritar gol. Quando ele cabeceou a bola, acho que pensou que tinha sido gol, porque cabeceou muito bem."

Para o uruguaio Mazurkiewicz, o drible histórico que levou de Pelé, sem a bola, lhe garantiu o orgulho de ter participado de uma jogada que jamais foi vista novamente no futebol mundial: "Foi uma jogada que só Pelé poderia fazer. O que aconteceu é que qualquer jogador tocaria na bola para driblar ou chutaria a gol. Mas ele não fez nada disso. Logicamente ninguém esperaria uma coisa daquelas. Pelé estava sozinho, só havia eu e ele, mais ninguém na jogada. Se eu ficasse parado, não teria nenhuma chance contra ele. Eu saí para tentar evitar o gol. Só Pelé faria algo como aquilo. Eu já havia me entregado depois do drible. Acho que Pelé só não fez o gol porque um companheiro meu estava atrás dele."

O próprio Pelé pondera que, talvez, o mito em torno de seu nome tenha ganho com o fato de estas jogadas não resultarem em gols. Ele acha que, se aquelas bolas tivessem entrado, os lances poderiam não ficar tão famosos como de fato ficaram. “Estas jogadas ficaram mais famosas do que muitos gols que eu fiz em minha carreira”, comentou Pelé. “Até hoje não sei se foi melhor para mim que elas não tivessem terminado em gols.”

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