Na Copa de 1978, Chicão entrou em campo com a missão de bater em argentino

Famoso pela valentia, volante 'brucutu' colocou moral em no jogo conhecido como a 'Batalha de Rosário'

Paulo Guilherme Guri

Chicão em campo contra a Argentina na Copa de 1978 Site oficial da Fifa
Chicão em campo contra a Argentina na Copa de 1978
Site oficial da Fifa

Muito tempo atrás, bem antes de a Seleção ter um volante elegante, técnico e eficiente como Casemiro, com a inteligência e agilidade de um Clodoaldo ou a segurança cirúrgica de um Mauro Silva, o Brasil teve Chicão.

Chicão foi provavelmente o volante mais limitado tecnicamente que já defendeu a Seleção em uma Copa do Mundo. Longe de ser um Zito, Dino Sani, Cerezo ou até mesmo o gaúcho Batista. Chicão era brabo. Criado em meio à dureza da roça das plantações do interior paulista, começou jogando no XV de Piracicaba, passou por União Barbarense, São Bento e Ponte Preta até chegar ao São Paulo em 1973.

Naquele tempo, futebol era jogado em campos esburacados, iluminação péssima, pressão da torcida e o pau comia feio em campo. Chicão chocou o país na final do Campeonato Brasileiro de 1977, disputada em março de 1978 no Mineirão, entre Atlético-MG e São Paulo. Em uma dividida feia com o são-paulino Neca no meio-de-campo, o jogador Ângelo, do Atlético-MG, começou a se arrastar, com a perna fraturada. Chicão não teve dúvidas, foi lá e pisou na perna quebrada do rival.

Para jogar a Copa do Mundo na Argentina, o técnico da Seleção Brasileira, Claudio Coutinho, não teve dúvidas: levou o valentão Chicão para usar quando achasse necessário, deixando de fora ninguém menos que Paulo Roberto Falcão, que brilhava no time.

Chicão era reserva, mas entrou em campo nos jogos contra a Áustria e o Peru e foi escalado como titular no jogo Brasil x Argentina, no acanhado estádio do Rosário Central. Campo lotado, argentino berrando e cantando o tempo todo, quilos de papel picado no gramado, uma pressão daquelas. Os jogadores da Seleção chegaram ao estádio sob forte pressão. Era jogo para fortes.

Chicão pegou os jogadores pela mão e falou: “Vamos lá pessoal, vamos dar uma volta no gramado”. E assim, o time entrou para aquecer debaixo dos gritos e insultos ameaçadores da torcida argentina. A tática de Chicão deu certo: todo mundo tremeu o que tinha que tremer durante o aquecimento, os argentinos gritaram o que tinham que gritar, a temperatura logo abaixou e os jogadores brasileiros voltaram para o vestiário para colocar o uniforme oficial já devidamente calmos.

Em campo, Chicão tratou logo de dar uns pontapés no atacante argentino Leopoldo Luque e colocou a sua moral de xerife. A Argentina não ameaçou o Brasil em nada naquela partida que terminou empatada por 0 a 0. Os críticos dizem que se em vez de Chicão tivesse jogado Toninho Cerezo, o Brasil teria mais poder de criação e poderia ganhar da Argentina. "Os argentinos queriam fazer aquela catimba de sempre e não conseguiram. Eu cheguei arrepiando e eles se encolheram", lembrou ele, também em entrevista ao site de A Gazeta Esportiva em 2003.

Naquela Copa, os times classificados para a segunda fase formavam dois grupos de quatro seleções. A campeã de cada grupo ia para a final e a segunda colocada ia disputar o terceiro lugar. O Brasil ficou na chave com Argentina, Polônia e Peru.

Aquele empate acabou favorecendo o time da casa que chegou à final após a polêmica goleada por 6 a 0 sobre o Peru. O Brasil ganhou da Polônia por 3 a 1 mas ficou sem saldo suficiente para ir à decisão. Foi disputar o terceiro lugar contra a Itália, venceu a partida por 2 a 1 e ficou com o título de “campeão moral”. A Argentina ganhou da Holanda e foi campeã.

Chicão morreu em 2008, aos 59 anos. A fama de mau que levou em campo contrastou com o cara amável carinhoso fora dele. 


Copa do Mundo de 1978

  • Período: 1º a 25 de junho de 1978
  • País-sede: Argentina
  • Campeão: Argentina
  • Vice-campeão: Holanda
  • 3º lugar: Brasil
  • 4º lugar: Itália
  • Artilheiro: Mário Kempes (Argentina), 6 gols
  • Participação do Brasil: terceiro colocado. O time era Leão; Toninho, Oscar, Amaral e Rodrigues Neto; Batista, Cerezo e Zico; Gil, Roberto Dinamite e Dirceu. O técnico era Claudio Coutinho. Também jogaram Nelinho, Edinho, Chicão, Rivellino, Jorge Mendonça e Reinaldo.
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Final: Argentina 3 x 1 Holanda

  • Gols: Kempes (ARG) aos 38 minutos do 1º tempo; Nanninga (HOL) aos 37 minutos do 2º tempo; Kempes (ARG) 15 aos minutos do 1º tempo da prorogação; Bertoni (ARG) aos 11 minutos do 2º tempo da prorrogação
  • Argenitina: Fillol; Olguin, Luis Galvan, Passarella, Tarantini; Gallego, Ardiles (Larrosa), Kempes; Bertoni, Luque, Ortiz (Houseman). Técnico César Luis Menotti
  • Holanda: Jongbloed; Brandts, Krol, Jansen (Suurbier), Poortvliet; Haan, René Van der Kerkhof, Willy Van der Kerkhof; Rep (Nanninga), Neeskens, Rensenbrink. Técnico: Ernst Happel
  • Árbitro: Sergio Gonella (ITA)
  • Público: 71.483 pessoas
  • Local: Estádio Monumental de Nuñez, em Buenos Aires

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