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Veja imagens da Copa do Mundo de 1950 1/4
Quando se fala na Copa do Mundo disputada no Brasil em 1950 todo mundo lembra do Maracanazo, do gol sofrido pelo goleiro Barbosa, do silêncio no Maracanã, enfim, as nossas referências são todas para aquela derrota histórica.
Mas, afinal, o Brasil perdeu a Copa? Ou foi o Uruguai que ganhou? Por que só vemos pelo lado do derrotado?
A vitória do Uruguai não foi por acaso. Os uruguaios estabeleceram uma estratégia perfeita para derrotar os donos da casa. Estudaram o Brasil como nunca, usaram derrotas sofridas para a Seleção antes da Copa para aprender.
Como o Uruguai ganhou a Copa
Estratégia
Entre 1946 e a Copa de 1950, período correspondente a um ciclo de preparação para a Copa, Brasil e Uruguai se enfrentaram nada menos do que 11 vezes. Três desses jogos foram às vésperas do Mundial, em maio de 1950, pela Copa Rio Branco. O Uruguai ganhou o primeiro por 4 a 3, no Pacaembu, e o Brasil venceu os outros dois, por 3 a 2 e 1 a 0, no estádio de São Januário. Os uruguaios sabiam quais eram os pontos fortes e fracos da Seleção Brasileira.
Tive a sorte de conversar com o goleiro Máspoli, do Uruguai, em 2004, enquanto produzia meu livro “Goleiros - Heróis e Anti-Heróis da Camisa 1” (Editora Alameda). Máspoli me disse que não fossem esses jogos prévios contra o Brasil, o Uruguai não teria sido campeão do mundo. "Aqueles jogos foram muito importantes para conhecermos bem os jogadores do Brasil e a maneira do time brasileiro atuar. Quando chegou a véspera da final da Copa, pudemos analisar cada jogador do Brasil de acordo com o que já tínhamos visto", afirmou.
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Time descansado
A fórmula da Copa de 1950, a primeira após o final da Segunda Guerra Mundial, era bizarra: na primeira fase, as seleções foram divididas em quatro grupos, sendo dois grupos de quatro times, um com três, e um com dois (justamente o do Uruguai). Isso aconteceu porque três países classificados desistiram de jogar a Copa no Brasil: Índia, Turquia e Escócia.
*preço sujeito a alteração
Só o campeão de cada grupo passava para o quadrangular final. O Brasil precisou fazer três jogos para se classificar. O Uruguai jogou só uma vez, ganhando da Bolívia por 8 a 0. Parecia treino.
Despacito
Enquanto o Brasil se perdia na euforia das vitórias com goleada no Maracanã, o Uruguai ia avançando jogo a jogo, pasito a pasito, suave, suavecito, nos vamos pegando, poquito a poquito, como ensinou a música de Luis Fonsi décadas depois. No quadrangular final, empatou com a Espanha por 2 a 2, venceu a Suécia por 3 a 2 e chegou para a decisão contra o Brasil precisando da vitória.
Isolados e perigosos
O time uruguaio deixou o oba-oba e o já ganhou para o Brasil e se refugiou e repassou toda a tática. Além disso, o time estava voando fisicamente.
O dono da coisa toda
O capitão do Uruguai, Obdulio Varela, foi para o Brasil focado em trazer o título na marra, e não se intimidou diante da pressão da torcida no Maracanã. Com toda a sua malandragem, depois que o Brasil fez 1 a 0 no primeiro tempo, gol de Friaça, parou o jogo e esperou a torcida parar de comemorar até o Maracanã deixar de ferver. Deu certo.
Uma dupla afinada
O ponta-direita Alcides Ghiggia e o centroavante Juan Schiaffino jogavam juntos no Peñarol e eram altamente sincronizados. Quando Ghiggia corria com a bola pela direita, Schiaffino entrava em diagonal em direção ao primeiro pau para completar o cruzamento. Assim fizeram o gol de empate do Uruguai, aos 21 minutos do segundo tempo.
Em vez de segurar o resultado, o Brasil seguiu querendo ganhar o jogo. O Uruguai seguiu fechado em sua tática até que, aos 34 minutos, pintou um “lá vem eles de novo!”: Ghiggia correu pela direita, Schiaffino entrou em diagonal no primeiro pau, o goleiro Barbosa tentou antecipar o lance dando um passo para fora do gol, Ghiggia em vez de cruzar, chutou direto uma bola toda cheia de efeito e o resto todo mundo já sabe. O passo de Barbosa para fora da baliza abriu o espaço suficiente para a bola entrar sem que o goleiro brasileiro pudesse defender..
Máspoli me falou que, se fosse ele que estivesse no gol do Brasil, teria feito o mesmo que Barbosa fez naquela jogada. “O Ghiggia tinha uma patada difícil de se defender. Não tinha um chute seco, ele batia ‘rodado’ na bola, que ia para o gol com muito efeito. Era difícil para qualquer goleiro defender um chute dele. O Barbosa não podia esperar que aquela bola fosse diretamente para a sua meta. Ele se preocupou mais com a lógica, ou seja, sair do arco para cortar o cruzamento. Mas o chute do Ghiggia o surpreendeu."
Como o Brasil perdeu a Copa
Jogadores com fome
O técnico Flávio Costa resolveu levar todo mundo para uma missa na manhã do dia da final. Depois, a concentração foi invadida por políticos e celebridades querendo tirar fotos com os jogadores que tentavam dar alguma garfada no prato.
Muita gente ficou sem comer. O jeito foi improvisar sanduíches para o time no caminho para o Maracanã. Faltou proteína para o Brasil. O gás acabou e o time morreu no segundo tempo, quando o Uruguai virou o jogo.
Sem pontaria
Faltou pontaria para um ataque acostumado a vencer de goleada. Nas cinco partidas anteriores, o Brasil marcou 21 gols, mais de quatro por jogo. Na final, só fez um. E o time deu 30 chutes no gol.
Sem defesa
Faltou coordenação na defesa. O técnico Flávio Costa montou um time com jogadores do Rio para agradar ao torcedor. Tinha um trio defensivo entrosado no elenco, Ruy, Bauer e Noronha, todos do São Paulo. Mas preferiu deixar só o Bauer no time e jogar com Danilo Alvin (Vasco) e Bigode (Flamengo).
Sem liderança
Faltou Barbosa ficar parado no primeiro pau. Faltou Bigode ter força nas pernas para alcançar Ghiggia. Faltou um Didi, um Dunga, um Carlos Alberto Torres para fazer o jogo acabar na marra antes de o Uruguai virar.
Faltou um monte de coisa. Principalmente, faltou combinar com o Uruguai que essa Copa era pra ser nossa.
Copa do Mundo de 1950
- Período: 24 de junho a 16 de julho de 1950
- País-sede: Brasil
- Campeão: Uruguai
- Vice-campeão: Brasil
- 3º lugar: Suécia
- 4º lugar: Espanha
- Artilheiro: Ademir de Menezes (Brasil), 7 gols
- Participação do Brasil: vice-campeão. O time era Barbosa; Augusto, Juvenal; Bauer, Danilo, Bigode; Friaça, Zizinho, Ademir, Jair, Chico. Também jogaram Noronha, Alfredo, Maneca e Baltazar, O técnico era Flávio Costa.
Final: Brasil 1 x 2 Uruguai
- Gols: Colaussi (ITA) aos 6, Titkos (HUN) aos 8, Piola (ITA), aos 19 e Colaussi (ITA) aos 35 minutos do 1º tempo; Sarosi (HUN) aos 25 e Piola (ITA) aos 37 minutos do 2º tempo.
- Brasil: Barbosa; Augusto, Juvenal; Bauer, Danilo, Bigode; Friaça, Zizinho, Ademir, Jair, Chico. Técnico: Flávio Costa
- Uruguai: Máspoli; Matias Gonzáles, Tejera; Gambetta, Obdulio Varela, Rodriguez Andrade; Ghiggia, Perez, Miguez, Schiaffino, Morán. Técnico: Juan Lopez
- Árbitro: George Reader (ING)
- Público: 174.000 pessoas (número oficial da Fifa)
- Local: Maracanã, no Rio de Janeiro