Caso Cuca: o que se sabe sobre condenação por estupro, anulada pela Justiça da Suíça

Caso volta à tona com o retorno de Cuca ao Atlético-MG; Galo anunciou o treinador neste domingo

Da redação

Caso Cuca: o que se sabe sobre condenação por estupro, anulada pela Justiça da Suíça
O que se sabe sobre condenação de Cuca por estupro, anulada pela Justiça da Suíça
Redes Sociais / Cuca

Anunciado como técnico do Atlético-MG neste domingo (29), Cuca lida com a repercussão de uma condenação por estupro, anulada pelo Tribunal Regional de Berna-Mittelland, na Suíça, em janeiro deste ano – confira mais abaixo o que o treinador diz sobre o episódio.

O caso aconteceu em 1987, em uma excursão do Grêmio, quando Cuca ainda era jogador, e ressurgiu nos últimos anos. Isso gerou uma série de protestos contra o técnico, a partir especialmente de 2023.

No Corinthians, por exemplo, ele desistiu do cargo no ano passado após intensa pressão da torcida. Ele acabou comandando o time em apenas duas partidas. No Galo, onde vai para a sua quarta passagem, também há incômodo de parte dos torcedores.

O último trabalho de Cuca foi no Athletico Paranaense. Quando assumiu o Furacão, em março de 2023, o treinador falou abertamente sobre o caso de estupro (confira mais abaixo).

A seguir, veja o que se sabe sobre a condenação por estupro envolvendo o técnico Cuca, anulada pela Justiça da Suíça.

Cuca foi condenado por estupro? Entenda o caso

A polêmica com Cuca teve início em 1987, quando ele ainda era jogador e o Grêmio participou de uma excursão pela Europa.

Cuca, Eduardo Hamester, Henrique Etges e Fernando Castoldi foram detidos na Suíça sob a alegação de terem tido relações sexuais com uma garota de 13 anos sem consentimento.

Em depoimento, a vítima, Sandra Pfäffli, afirmou ter ido com amigos ao quarto dos atletas para pedir uma camisa do Grêmio. Na sequência, eles teriam expulsado os colegas dela e a forçado a manter relações sexuais durante 30 minutos.

De acordo com apuração do blog da Marília Ruiz, do “UOL”, consta nos registros policiais e nos autos do processo que a vítima jamais identificou ou apontou Cuca como um dos seus agressores.

À época, os quatro jogadores ficaram detidos por quase um mês e prestaram depoimento mais de uma vez. Em seguida, retornaram ao Brasil.

Dois anos depois, em 1989, Cuca, Eduardo Hamester, Henrique Etges foram condenados a 15 meses de prisão por atentado ao pudor com uso de violência. Em janeiro de 2024, o Tribunal Regional de Berna anulou a sentença do treinador.

À época, Fernando Castoldi foi absolvido da acusação de atentado ao pudor e condenado por estar envolvido no ato de violência. Como o Brasil não extradita seus cidadãos, eles nunca cumpriram a pena.

Justiça da Suíça anula condenação

O Tribunal Regional de Berna anulou, em janeiro de 2024, a sentença que condenou o ex-jogador e treinador por ter mantido relações sexuais com uma menor de idade.

A defesa do treinador pedia um novo julgamento, alegando que Cuca havia sido condenado à revelia, ou seja, sem uma representação legal.

A argumentação chegou a ser aceita pela juíza Bettina Bochsler, no dia 22 de novembro de 2023. Porém, o Ministério Público suíço disse não ser possível fazer um novo julgamento, já que o caso havia prescrito, e recomendou a extinção do processo, anulando a pena do treinador brasileiro.

Além disso, a Justiça determinou que Cuca deveria receber uma indenização correspondente a R$ 50 mil.

Com a anulação do processo e extinção da pena, Cuca não chega a ser inocentado pelo caso.

Cuca fala e promete ajudar na luta

Em março de 2023, logo após assumir o comando do Athletico, Cuca falou sobre a condenação por estupro e prometeu ajudar na luta contra a violência contra as mulheres.

“Hoje eu sei que isso não é só sobre mim, mas é sobre mim também. Eu escolhi me recolher durante muito tempo e mesmo assim pude seguir  minha vida. Uma mulher que passa por qualquer tipo de violência não consegue seguir com a vida dela sem permanecer machucada. O impacto dura pra sempre.

Eu pude levar minha vida contornando a história porque o mundo do futebol e dos homens em que vivo não tinha me cobrado nada.

Mas o mundo está mudando, acho que para melhor, e por isso estou me dando conta de que não adianta eu entender o que é ser um grande treinador, pai, avô e esposo se eu não entender que o mundo é feito de outras coisas além do futebol, que eu faço parte disso também.

Eu enxergava sim os problemas, inclusive recorrentes aqui no nosso universo do futebol e dos homens. Mas me calei porque a sociedade permite que o homem se cale.

Aliás, permitia.

Agora eu entendo, mesmo sem ainda conseguir me aprofundar para falar do jeito que seria certo, eu entendo que não posso mais me recolher, ficar calado, porque silêncio soa como covardia.

Venho buscando ouvir mais, aprender, compreender. Não posso mudar o passado. Quantos de nós, homens, que agora me escutam, são capazes de olhar o passado e rever atitudes?

O mundo é um lugar muito diferente para homens e mulheres e quando a gente enxerga isso a gente pode até resistir, mas alguma coisa começa a mudar.

E esse é o primeiro passo. Depois, o sentimento é de real desejo de mudança. Só que as mudanças honestas e verdadeiras levam tempo, exigem dedicação, estudo, são dolorosas e desafiadoras.

Já entendo que a realidade tem que ser transformada para que o mundo seja um lugar mais seguro para as mulheres. O mundo do futebol ainda é um mundo de muito preconceito.

Entendi que quando me cobram não é só sobre mim, é sobre a forma como tratamos as mulheres. Não estou falando isso como fala isolada para agradar alguém, ou da boca para fora. Se fosse assim teria me manifestado antes. Falo isso de coração.

Quero e me comprometo a fazer parte da transformação. Vou fazer isso com o poder da educação. Quero ajudar. Quero jogar luz, usar a voz que tenho para, ao mesmo tempo que me educo, educar também outros homens, principalmente os jovens que amam futebol.

Sucesso repentino é desafio. Muitos se perdem pelo caminho com fama e dinheiro. Somos levados a acreditar que podemos tudo, inclusive desrespeitar as mulheres. Precisamos dar aos mais novos a oportunidade de não errarem como tantos de nós erramos.

É ali que podemos sensibilizar, colocar para pensar, orientar. Sucesso, dinheiro e fama não servem para nada se você se perder no caminho.

Eu pensei que eu estava livre da minha angústia quando solucionei meu problema com a anulação do processo e a indenização. Mas entendi que não acabou porque não dependia apenas da decisão judicial, mas que eu precisava entender o que a sociedade esperava de mim.

O que vocês vão ver de mim daqui para frente não serão palavras, serão atitudes. Podem me cobrar. Obrigado por me escutarem e boa noite”.

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