Os advogados de Felipe Massa enviaram pedidos formais na última terça-feira (12) para que documentos referentes ao Grande Prêmio de Singapura de 2008 sejam preservados, em um movimento a respeito do pedido do reconhecimento do título do brasileiro na temporada em questão da Fórmula 1.
Na prova em questão, o também brasileiro Nelsinho Piquet, então piloto da Renault, se acidentou de maneira proposital para beneficiar Fernando Alonso, então companheiro de equipe. O espanhol levou vantagem pela entrada do safety car e venceu a prova, com Lewis Hamilton (McLaren) em terceiro.
Massa, que largou na pole position e liderava a prova, acabou terminando fora da zona de pontuação, na 13ª colocação. No fim do ano, Hamilton conquistou o título com um ponto de vantagem sobre Massa: 98 a 97.
Os requerimentos formais – chamados legalmente de “preservation notices”, ou “avisos de preservação” em inglês - foram enviados tanto a Ferrari (então equipe de Massa) quanto a Alpine (sucessora da Renault, então equipe de Nelsinho e Alonso). Os pedidos também foram mandados para a seguradora ING, então patrocinadora da Renault.
Integrantes da cúpula da escuderia francesa na época também foram comunicados: Flavio Briatore (chefe de equipe), Pat Symonds (engenheiro chefe) e Steve Nielse (diretor esportivo). Em 2023, Symonds ocupa o posto de diretor técnico da F1, enquanto Nielsen é o diretor esportivo da FIA (Federação Internacional de Automobilismo).
Com os preservation notices, a equipe jurídica de Felipe Massa torna os destinatários cientes de eventuais litígios e informa que determinadas medidas devem ser tomadas para que documentos relacionados à questão sejam modificados ou até destruídos. Assim, provas são preservadas para averiguação.
Os advogados já haviam enviado à FIA em agosto uma manifestação de intenções. De boa-fé, a equipe aguarda até 12 de outubro por uma resposta formal por parte da entidade.
Singapuragate: entenda o caso
A história começa em 28 de setembro de 2008, no Grande Prêmio de Singapura daquele ano. Lewis Hamilton (McLaren) e Felipe Massa disputavam a liderança da temporada, com vantagem de um ponto para o britânico: 78 a 77.
Massa foi pole position em Singapura e liderava com boa margem até a volta 14, quando Nelsinho Piquet (Renault) rodou sozinho, bateu e provocou a entrada de um safety car. Os pilotos aproveitaram para entrar nos boxes. Fernando Alonso (Renault), que havia entrado nos boxes antes do acidente, levou a melhor e assumiu a liderança.
No fim, Alonso venceu a corrida, com Hamilton em terceiro. Massa teve problemas com uma parada nos boxes e terminou em 13º, sem pontuar. No fim do ano, o britânico foi campeão com um ponto de vantagem (98 a 97) para o rival da Ferrari.
No ano seguinte, veio à tona a informação de que o acidente de Nelsinho Piquet foi proposital para favorecer Fernando Alonso. Vários envolvidos foram punidos, e Nelsinho encerrou sua trajetória na Fórmula 1.
Em entrevista ao site F1 Insider no primeiro semestre de 2023, Bernie Ecclestone, ex-CEO da Fórmula 1, afirmou que a categoria sabia dos detalhes a respeito do acidente do GP de Singapura ainda em 2008, mas optou por não tomar medidas para evitar um desgaste da categoria. Mais tarde, o dirigente disse não se lembrar das declarações da entrevista.
“Decidimos não fazer nada, queríamos proteger a F1 e salvá-la de um escândalo. Havia uma regra que dizia que a posição de um campeão mundial era intocável após a cerimônia de premiação da FIA (Federação Internacional de Automobilismo). Assim, Hamilton recebeu a taça e tudo ficou bem. Mas tínhamos informações suficientes naquele momento para investigar o assunto. Segundo o regulamento, devíamos ter anulado a corrida em Singapura por essas condições”, afirmou.
Pouco depois, Massa anunciou a intenção de levar a decisão da temporada 2008 aos tribunais. Em agosto, amparado por advogados, o piloto brasileiro enviou uma carta à FIA (Federação Internacional de Automobilismo) e à F1 para anunciar a intenção de ajuizar o caso. O envio da carta é um ato obrigatório para que as autoridades britânicas abram processos do tipo, simbolizando um aviso às partes envolvidas.
A FIA tinha até 8 de setembro para se manifestar, mas os dois lados concordaram em prorrogar o prazo até 12 de outubro. Os advogados de Massa pediram ainda que tanto a Ferrari quanto a Alpine (sucessora da Renault na F1) preservem documentos, e esperam contar com o apoio do próprio Hamilton na defesa do caso.
E Hamilton? Questionado a respeito em agosto, esquivou-se. “Honestamente, eu não estou muito por dentro. Eu vi algumas manchetes na imprensa, mas não é algo que eu esteja focado no momento. Eu estou focado na temporada atual, focado em fazer o melhor trabalho possível. Estou tentando não gastar muita energia com isso, porque eu realmente não sei do que se trata e até onde isso vai”, afirmou.