Quando deixou a Stewart no final de 1999 para se tornar piloto da Ferrari a partir de 2000, Rubens Barrichello passou a ter em mãos o melhor carro da Fórmula 1. No entanto, correndo ao lado de Michael Schumacher, o brasileiro não correspondeu às expectativas de boa parte da torcida – e muitas vezes se tornava alvo de piadas.
Reconhecido por seu bom humor, Rubinho um dia sentiu a pressão. Em entrevista ao Queimando a Largada, podcast apresentado pela jornalista Lívia Nepomuceno, o ex-piloto de Jordan, Stewart, Ferrari, Honda e Williams se lembrou da primeira vez que se sentiu magoado pelas piadas. A íntegra do programa vai ao ar na quarta-feira (6).
“Eu rio muito do humor do Brasil, mas ele começou a ficar pesado porque dá audiência. Em cima disso, a coisa perdeu o respeito”, analisou Barrichello, que sentiu nas piadas a falta de reconhecimento por seu trabalho.
“A primeira vez que eu vi (piada sobre ele em) um Casseta & Planeta! (humorístico da Rede Globo que foi ao ar de 1992 a 2010), eu chorei piamente. O choro da injustiça é um choro doído. O reconhecimento nada mais é que um ego tolo mesmo. Todos nós lutamos por esse fator, mas é uma forma tola de fazer com que a gente egoisticamente se sinta bem. Reconhecimento, a gente quer do trabalho, da família, dos filhos. Mas o reconhecimento próprio, a gente só vai ter com a maturidade. É onde a gente fica dando cambalhota em volta.”
Para Barrichello, a imaturidade dos primeiros anos de carreira pesou negativamente na relação com a torcida, principalmente após a morte de Ayrton Senna em 1994. O ex-piloto de Fórmula 1 acredita que não conseguiu controlar as expectativas dos fãs sobre ele.
“Com 20 anos de idade, sem o ídolo e sem ninguém para sustentar os resultados dele de pista... Você peca nas palavras, nas promessas e em um monte de coisa”, avalia.
Se Rubinho se magoou com as piadas durante a carreira, também demonstrou leveza em momentos de celebração. Foi assim que nasceu a sambadinha, que ele exibia nos pódios da F1.
“A sambadinha nada mais é que a invenção de algo que traz a origem do Brasil, mas só porque o tal do pódio é muito triste. Meus amigos falavam: ‘Você vai ter que dar uma pitadinha de alguma coisa lá’. Quando foi inventado isso, mandei o que a gente tinha inventado junto, um movimento bobo. As pessoas falam: ‘Será que ele não tem vergonha?’. Não tenho”, explicou.
Pane seca
Talvez a maior das expectativas tenha sido criada no Grande Prêmio do Brasil de 2003, já como piloto da Ferrari.
Na ocasião, largou da pole position e liderou boa parte da corrida; no entanto, abandonou a sete voltas do fim, com uma pane seca. Seu carro ficou sem combustível.
Giancarlo Fisichella, da Jordan, venceu a tumultuada prova, que teve apenas dois pilotos no pódio – além do italiano, Kimi Raikkonen também foi premiado. O finlandês da McLaren chegou a ser declarado vencedor, mas o erro só foi desfeito na prova seguinte.
“Aquele dia foi um erro humano, de cálculo de gasolina. O Schumacher teria parado antes de mim no box, porque ele tinha uma volta a menos de gasolina. Só que ele havia batido (na volta 27) e a telemetria do carro tinha sido perdida”, descreve.
“Como eu fui o primeiro a dar de cara com o problema, o erro do cálculo foi visto comigo. Se ele tivesse ficado na pista, ele teria ficado sem gasolina e eu teria parado na volta dele.”
Com o passar dos anos, Rubinho passou a entender melhor as expectativas da torcida. A partir de um certo momento, começou a curtir melhor a parte do público que o apoiava – e parou de dar importância a quem não gostava dele.
“As pessoas que eu realmente precisava estavam ao meu lado. O que me fez crescer foi entender que 33% das pessoas gostam da gente, 33% não gostam e 33% não se importam. Você fica tentando falar com os que não se importam: ‘Eu sou um cara legal, levanto a bandeira, vou conseguir fazer isso’. Ali eu vi que a gente não consegue agradar a todos - nem o maior conseguiu. Eu tive (apoio) de quem eu precisava. Ali foi um momento de entender quem era meu amigo.”
Confira o primeiro episódio do “Queimando a Largada”, com Sergio Mauricio