O Brasil teve três pilotos campeões na Fórmula 1: Emerson Fittipaldi (1972 e 1974), Nelson Piquet (1981, 1983 e 1987) e Ayrton Senna (1988, 1990 e 1991). Mas tinha talentos suficientes para mais.
É o que afirma Reginaldo Leme, comentarista de automobilismo do Grupo Bandeirantes de Comunicação. Durante a edição especial do Cola do Grid da última quarta-feira (1º), data que marcou os 30 anos da morte de Ayrton Senna, o jornalista listou cinco nomes que poderiam ter brilhado mais do que brilharam na F1.
“O Brasil, desde Emerson, Piquet e Senna, marcou um momento na Fórmula 1 em que todo chefe de equipe queria ter piloto brasileiro. Era uma coisa, um talento natural nosso em esporte individual, que só veio a ser o caso bem mais tarde quando surgiu o Guga Kuerten (no tênis). Esporte individual, esporte de improvisação, como é o automobilismo, a gente sempre foi muito bom”, disse.
Confira os nomes apontados por Reginaldo Leme:
Ingo Hoffmann
Ingo Hoffmann construiu uma carreira de bons resultados no exterior, passando por Fórmula 5000 (1975) e Fórmula 2 (1976 a 1978). Não venceu, mas conseguiu pavimentar o caminho até a Fórmula 1
Na F1, correu pela Copersucar em provas das temporadas 1976 e 1977, sempre quando o time brasileiro inscrevia um segundo carro para correr ao lado de Emerson Fiittipaldi. No melhor momento, Ingo foi o sétimo colocado do GP do Brasil de 1977, quando apenas os seis primeiros somavam pontos.
“Eu acho que tem outros que acabaram não chegando lá por circunstâncias. O Ingo Hoffmann é um piloto assim: ele tentou ocupar o lugar do Emerson, até correu junto com o Emerson na Copersucar, numa época em que a equipe estava nascendo, e não conseguia sequer se classificar para a corrida”, lamentou.
Chico Serra
O caminho de Chico Serra até a Fórmula 1 foi promissor. Em 1979, conquistou o título da Fórmula 3 britânica, repetindo o feito de nomes como Emerson Fittipaldi, José Carlos Pace, Nelson Piquet, Derek Warwick, Gunnar Nilson e Rikky Von Opel. Em 1980, disputou a Fórmula 2 europeia, oscilando entre a briga por pontos e os vários abandonos.
Até que chegou à F1. Em 1981, foi companheiro de equipe de Keke Rosberg na Copersucar, mas ficou com o único carro da equipe brasileira em 1982. Na segunda temporada, viveu o melhor momento ao somar um ponto com o sexto lugar no GP da Bélgica. Quando a equipe fechou as portas, foi para a Arrows, onde foi um dos três companheiros que Marc Surer teve ao longo do ano.
“O Chico Serra também correu na equipe Fittipaldi, e depois pegou a Arrows. Foi um piloto brasileiro que marcou ponto na Fórmula 1”, lembrou.
Rubens Barrichello
Rubens Barrichello correu na Fórmula 1 entre 1993 e 2011. Depois de impressionar pelas equipes Jordan e Stewart na década de 1990, viveu o auge na Ferrari entre 2000 e 2005. Durante este período, conquistou nove vitórias e foi duas vezes vice-campeão mundial (2002 e 2004).
O problema é que Rubinho foi companheiro de equipe de Michael Schumacher, que dominou aquele período. O alemão conquistou cinco títulos seguidos entre 2000 e 2004, e não dava chances para outros pilotos – entre eles, o companheiro de Ferrari.
“O Schumacher montou aquela equipe técnica da Ferrari para ele. Se ele (Barrichello) tivesse corrido em qualquer outra equipe naquele momento, ele teria sido no mínimo duas vezes campeão do mundo”, acredita Reginaldo.
Felipe Massa
Sucessor de Rubens Barrichello na Ferrari, Felipe Massa teve como principal momento o vice-campeonato de 2008. Antes disso, foi o terceiro colocado em 2006, na primeira temporada pela equipe italiana.
Massa ainda correu por Sauber (2002, 2004 e 2006) e Williams (2014 a 2017). Em nenhuma delas, no entanto, teve condições de brigar com regularidade por vitórias e títulos.
“O Felipe Massa era um cara talhado para ser campeão, porque (...) estava sempre na hora certa no lugar certo. Foi assim que ele chegou à Fórmula 1, com muita dificuldade”, acredita Reginaldo.
Para o comentarista, tanto Massa quanto Rubinho chegaram à F1 sem grandes aportes financeiros, em uma época em que “era permitido” alcançar a categoria “com puro talento”.
Antônio Pizzonia
“Vou te falar uma coisa: Antônio Pizzonia era um gênio.”
Quem olha os números de Antônio Pizzonia na Fórmula 1 pode achar exagero da parte de Reginaldo Leme. Mas o caminho até a F1 justificava a expectativa antes da estreia: o amazonense foi campeão da Fórmula Vauxhall Junior (1998) e da Fórmula 3 britânica (2000), entre outros títulos. Entre 1997 e 1999, disputou 59 corridas em diversas categorias e venceu 32 delas.
Entre 2000 e 2002, disputou a Fórmula 3000 enquanto trabalhava como piloto de testes da Benetton e da Williams na F1. Em 2001, chegou a impressionar em testes pela Jaguar, mas a chance de correr pela equipe só veio em 2003. A equipe nunca justificou a expectativa criada antes de estrear na F1.
“O Niki Lauda (diretor da Jaguar) começou a assistir a esse teste do Antônio Pizzonia. Ele falou com o Jayme Britto, que era empresário do Pizzonia: ‘Jayme, quem é esse cara?’. O cara cronometrava e o cara batia recordes, recordes, recordes. Não tinha como ele entrar naquele momento, depois veio a correr pela Jaguar”, disse.
Pizzonia foi dispensado pela Jaguar no decorrer de 2003. Depois, ainda disputou provas pela Williams em 2004 e 2005. Para Reginaldo, faltou sorte ao amazonense. “Várias coisas que ele poderia ter feito, sempre uma coisinha ou outra atrapalhava”, lamentou.