Hermanos Rodríguez: quem foram os irmãos que dão nome ao autódromo do México

Pilotos, que marcaram a trajetória do México na F1, foram homenageados após morrerem tragicamente em acidentes

Da redação

Os irmãos Rodríguez são considerados símbolos do automobilismo mexicano
Divulgação / Fórmula 1

A Fórmula 1 disputa neste fim de semana o Grande Prêmio da Cidade do México, realizado no Autódromo Hermanos Rodríguez. Ao longo de três dias, o evento deve reunir aproximadamente 350 mil pessoas, estabelecendo um novo recorde de público da história do circuito.

O povo mexicano tem cada vez mais se interessado pela categoria - muito por conta do piloto Sergio Pérez, que atualmente ocupa uma posição de destaque, correndo pela campeã de construtores, a Red Bull.

A prova disso é que a F1 anunciou, na quinta-feira (27), a renovação do contrato do GP da Cidade do México até 2025. Dois fatos foram levados em consideração: a etapa mexicana recebeu, por cinco anos consecutivos, o prêmio de melhor evento da categoria; e os lucros obtidos com os três dias de evento são estimados em aproximadamente R$ 4 bilhões.

O atual sucesso lembra outro período do automobilismo mexicano: os anos 1960 e 1970, quando os irmãos Rodríguez, os mesmos que dão nome ao autódromo, mostraram para o país a paixão, o sucesso e os perigos do esporte a motor.

O início com o apoio financeiro do pai

Nascido em 18 de janeiro de 1940, Pedro Rodríguez de La Vega era irmão de Ricardo Rodríguez de La Vega, este nascido em 14 de fevereiro de 1942, ambos na Cidade do México. Eles eram filhos de Pedro Natalio, apaixonado por automobilismo.

A paixão foi transferida de pai para os filhos, já que desde cedo Natalio fomentou a paixão dos meninos pelo motociclismo. Ricardo, inclusive, chegou a ser campeão nacional de moto quando tinha apenas 11 anos. Tudo isso bancado pelo patrono que tinha uma empresa de fabricação de contêineres para petroleiras.

Anos depois, também foi Pedro Natalio quem comprou e alugou os carros que permitiram Pedro e Ricardo participarem das primeiras competições internacionais.

Ricardo Rodríguez, o primeiro mexicano na F1

Apesar de mais jovem, Ricardo foi o primeiro dos irmãos Rodríguez a fazer história no automobilismo. Em 1961, ele foi convidado pela Ferrari para disputar o Grande Prêmio da Itália, realizado no Autódromo de Monza.

A escolha despretensiosa da escuderia de Maranello levou a uma surpresa agradável: já na qualificação, Rodríguez brigou de forma renhida pela pole-position. O mexicano terminou em segundo, atrás apenas do alemão Wolfgang von Trips e à frente de nomes como dos norte-americanos Richie Ginther e Phil Hill, do britânico Graham Hill e do australiano Jack Brabham.

Na corrida, Ricardo só precisou dar a primeira volta para entrar para a história como o primeiro mexicano a participar de uma corrida de Fórmula 1. É claro que ele queria mais, porém o carro não permitiu: um problema na bomba de gasolina na 13ª volta encerrou precocemente a estreia de Rodríguez.

O jovem Ricardo, de apenas 20 anos, voltaria à categoria em 1962, quando foi convidado pela Ferrari para ser um dos pilotos. Foram mais quatro GPs: Países Baixos, Bélgica, Alemanha e Itália. O melhor deles foi na Bélgica, realizado em Spa-Francorchamps, quando conquistou o quarto lugar.

Ricardo é o irmão mais novo dos Rodríguez e é o único mexicano a ter corrido pela Ferrari na história / Créditos: GP do México - Divulgação

Em casa, Ricardo sofre acidente fatal

Em novembro de 1962, um evento-teste foi promovido no Autódromo Magdalena Mixhuca com o objetivo de colocar o México no calendário da Fórmula 1 no ano seguinte. A Ferrari, de Ricardo, decidiu não participar da prova, mas por ser um ídolo local, o piloto resolveu acertar de forma individual com a equipe de Rob Walker para correr com um carro da Lotus.

No primeiro dia de treinos, Rodríguez foi enfrentar a temida curva Peraltada, na época conhecida por sua alta velocidade e por não ter pontos de escape, o que aumentava o risco de acidentes graves. A suspensão traseira direita do carro quebrou e Ricardo se chocou fortemente com as barreiras de proteção. O impacto foi tão forte que o piloto teve morte instantânea.

O México decretou luto nacional por conta do falecimento de Ricardo. Mesmo assim, o circuito passou a integrar o calendário da F1 em 1963 e várias homenagens foram prestadas em memória do jovem piloto. Curiosamente, a vitória no primeiro GP do México na história ficou com um carro da Lotus, do britânico Jim Clark.

Pedro Rodríguez, o primeiro mexicano a vencer na F1

A primeira vez de Pedro nas competições oficiais foi em 1959, quando correu as 24 Horas de Le Mans com um modesto carro da OSCA. Embora tenha abandonado a prova, foi o primeiro passo para o piloto escrever o seu nome na história.

Mas o maior desejo de Pedro era estar na Fórmula 1. Várias foram as tentativas no início dos anos 1960, especialmente na Ferrari, onde o mexicano tinha bom relacionamento com o staff e tinha o apoio do irmão Ricardo.

Foi só em 1963, no Grande Prêmio dos Estados Unidos, que a oportunidade chegou por meio da Lotus e apesar da frustração de ter abandonado a prova por conta de problemas nas válvulas, Pedro se emocionou por ter feito uma corrida quase um ano após a morte do seu irmão.

A história, porém, proporcionaria novas página gloriosas a Pedro. Em 1967, no GP da África do Sul, o piloto se tornou o primeiro mexicano a vencer uma prova da Fórmula 1. E foi com sobras: 26s de vantagem para o rodesiano John Love, sendo que ambos eram da Cooper. Completou o pódio o britânico John Surtees, da Honda.

No ano seguinte, Rodríguez conseguiu uma expressiva vitória nas 24 Horas de Le Mans, tradicional corrida de resistência realizada anualmente, junto do belga Lucien Bianchi. Foram 331 voltas no circuito a bordo de um Ford GT40, da equipe britânica John Wyer.

Por fim, em 1970, no GP da Bélgica de F1, Pedro voltaria a subir no lugar mais alto do pódio com o carro da BRM, e acompanhado do neozelandês Chris Amon, da March, e do francês Jean-Pierre Beltoise, da Matra.

De 1963 a 1971, Pedro Rodríguez participou de 54 GPs de Fórmula 1 e conseguiu duas vitórias, sete pódios e 71 pontos. Também, até 1971, competiu nas 24 Horas de Le Mans. Teve oportunidades de correr na Can-Am, na Nascar e em carros de rali.

Na Alemanha, outra morte trágica

Em julho de 1971, Pedro Rodríguez foi convidado a disputar uma corrida de Intersérie no Circuito Norisring, em Nuremberg, na Alemanha. Na 12ª volta, por um motivo desconhecido, o piloto mexicano perdeu o controle do carro, que era da Ferrari, e se chocou contra o guard rail. Imediatamente, o veículo pegou fogo, que demorou a ser controlado.

Pedro inalou muita fumaça e, apesar de ter sido resgatado com vida, algumas horas depois teve a sua morte confirmada, gerando grande comoção no México. Ao longo dos anos, o acidente esteve envolto de muitas teorias quanto à causa - desde problemas no encaixe do pneu até uma possível manobra irresponsável do retardatário Kurt Hild.

Irmãos são homenageados com o nome do autódromo

O falecimento de Pedro Rodríguez em 1971 fez com que os mexicanos se lembrassem da dor da perda de Ricardo, em 1962. As duas mortes chocaram e abalaram o povo local, que tinha perdido, em um recorte de quase 10 anos, um prodígio e um símbolo nacional de longevidade na principal categoria automobilística do mundo.

Por isso, em 1973, o então Autódromo Magdalena Mixhuca foi rebatizado com o nome de Hermanos Rodríguez, em memória dos dois pilotos que marcaram a história dos mexicanos no esporte a motor. O país só voltaria a ter um participante na F1 em 1977, com Hector Rebaque, da Hesketh.

Ao todo, seis pilotos representaram o México na Fórmula 1 desde 1951: além dos irmãos Rodríguez e de Rebaque, também correram Moises Solana (oito GPs de 1963 a 1968), Sergio Pérez (232 GPs de 2011 a 2022) e Esteban Gutierrez (59 GPs de 2013 a 2016). Apesar da grande representatividade de Checo, hoje já considerado o maior ídolo do automobilismo local, os legados dos irmãos Rodríguez são lembrados com muita importância no país.

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