O que o piloto vivencia quando vira passageiro em um acidente na Fórmula 1?

Em 1993, Christian Fittipaldi passou por uma batida marcante no GP da Itália; em pouco tempo, viu a vida passar diante dos olhos e só torceu por um final feliz

Christian Fittipaldi e Pierluigi Martini (Minardi), no GP da Itália 1993
Reprodução

Christian Fittipaldi passou três temporadas na Fórmula 1, entre 1992 e 1994. Teve bons momentos e passou perto de subir ao pódio neste período. Mas é provável que o fato mais lembrado desta trajetória seja o acidente sofrido no Grande Prêmio da Itália de 1993.

Na ocasião, o brasileiro chegou à última volta disputando a sétima posição com seu companheiro de equipe na Minardi, o italiano Pierluigi Martini. A perseguição durou até a linha de chegada, com vantagem para Martini.

Na última tentativa, Christian colou na traseira do carro 24, botou para a direita e tentou o ataque. Martini tentou se proteger, tirou o pé e também jogou para a direita. A roda dianteira esquerda de Christian tocou a roda direita traseira de Martini, e a Minardi número 23 decolou.

A cena foi impressionante.

A mais de 300 km/h, o carro de Christian subiu na vertical e girou. No ar, ficou de cabeça para baixo. O acidente só não terminou em tragédia porque a Minardi M193 praticamente completou o giro e caiu de frente, atingindo o chão com o bico e o pneu dianteiro direito. Depois, quicou forte e bateu no chão com a roda traseira direita, que se soltou.

O carro de Christian se realinhou e seguiu para a bandeirada, todo avariado, em oitavo. Martini foi sétimo. Na época, apenas os seis primeiros colocados somavam pontos na Fórmula 1.

Christian escapou ileso (e feliz) do acidente, mas a relação com Pierluigi Martini azedou de maneira definitiva. No fim daquela temporada, o brasileiro trocou a Minardi pela Footwork Arrows.

Mas o que acontece com um piloto naquelas frações de segundo de um acidente que pode até ser fatal? Será que Christian Fittipaldi fechou os olhos durante o giro no ar?

“Pior que não”, contou ele durante evento na semana do Grande Prêmio de São Paulo de 2024. “Naquele dia, eu olhei para o céu… Passou um filminho da minha vida inteira, ou seja, das coisas importantes que tinham acontecido comigo. Tipo primeiro dia de aula, alguma festinha, algum momento legal, algum momento importante com família”, completou.

Enquanto não sentia o impacto da Minardi no chão, Christian torceu por um final feliz. Se o carro caísse de cabeça para baixo, por exemplo, o santantônio provavelmente não resistiria ao impacto.

“A única coisa que eu pensei foi: ‘Nossa, se o carro não cair nas quatro rodas, provavelmente eu não vou ter história para contar para ninguém’”, descreveu. “Eu tive muita sorte. Naquele dia, Papai do Céu deu um último empurrãozinho e o carro caiu nas quatro rodas.”

O ano que poderia ter sido

Ao fim de 1993, Christian Fittipaldi trocou a Minardi pela Footwork Arrows, onde teve como companheiro o também italiano Gianni Morbidelli. Na nova equipe, encontrou o promissor modelo FA15, que se mostrou competitivo desde a pré-temporada.

Quando o ano começou, porém, o carro sofreu com a falta de confiabilidade. No GP do Brasil, Christian abandonou com um câmbio quebrado. No GP do Pacífico, foi o quarto colocado. No GP de San Marino, vinha em quinto, mas saiu da pista com problemas no freio a quatro voltas do fim.

No entanto, os acidentes fatais de Ayrton Senna e Roland Ratzenberger em Ímola obrigaram a Fórmula 1 a deixar seus carros mais seguros. Depois do GP de Mônaco, várias novidades foram adotadas - em meio a muito lobby de várias equipes, que tentavam preservar as vantagens conquistadas até então.

O GP de Mônaco foi o canto do cisne para a FA15. Christian mais uma vez vinha bem, em quinto, mas recolheu a cerca de 30 voltas para o fim com problemas de câmbio.

“No último ano de Arrows, se não mudasse o regulamento depois de Mônaco, aquele carro era muito bom. E aquele ano, eu tenho certeza de que eu teria terminado no pódio algumas vezes”, afirmou.

Christian foi sexto no GP do Canadá, mas acabou desclassificado. O FA15 se tornou mais confiável, mas menos competitivo. No melhor momento, a Footwork pontuou com os dois carros no GP da Alemanha, com Christian em quarto e Morbidelli em quinto.

Para o brasileiro, a história na F1 terminou em 1994. A partir de 1995, o sobrinho de Emerson Fittipaldi seguiu a trajetória do tio e foi para os Estados Unidos. Lá, teve bons momentos na Indy (com direito ao segundo lugar nas 500 Milhas de Indianápolis de 1995), além de ter vencido três vezes as 24 Horas de Daytona. Foi também bicampeão da IMSA.

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