Mick Schumacher e as segundas chances que a Fórmula 1 não costuma dar

Desde 2023, alemão é especulado em diversas vagas no grid, em uma competição que não costuma ser generosa com quem foi descartado

Mick Schumacher no GP de Mônaco de 2024
REUTERS/Jennifer Lorenzini

A cada vaga aberta no grid da Fórmula 1, um nome aparece com força no mercado: Mick Schumacher. Desde que deixou a Haas no fim de 2022, o alemão já foi cotado em inúmeras equipes – da Mercedes para a Sauber, passando por Alpine e Aston Martin.

O rumor mais recente ligava o filho de Michael Schumacher à vaga de Logan Sargeant na Williams. O norte-americano saiu e deu lugar a Franco Colapinto, mas o desfecho da história gerou uma crise diplomática na F1.

O chefe de equipe da Williams, James Vowles, tinha um dilema: um nome mais experiente ou um nome com potencial futuro? Tentou Liam Lawson, mas a Red Bull não liberou. Então, tinha Mick Schumacher de um lado e Franco Colapinto do outro.

“Acho que os dois cairiam na categoria de ‘bom’, não ‘especial’. Acho que temos que ser diretos quanto a isso”, afirmou Vowles. “Mick não é especial. Ele teria sido apenas bom”, completou o dirigente.

E aí é que precisamos falar de Mick Schumacher.

Mick Schumacher é um nome prestigiado entre os alemães na Fórmula 1. Sebastian Vettel sempre apoiou o compatriota, como um afilhado – até como uma dívida de gratidão, já que foi apadrinhado por Michael Schumacher quando chegou ao grid.

Na imprensa da Alemanha e da Europa, há sempre espaço para os comentários de Ralf Schumacher, ex-piloto de equipes como Williams e Toyota, e comentarista – além de tio de Mick. Por isso, não é difícil entender como o nome de Mick é tão presente nas especulações.

Coube a Ralf puxar a fila das respostas. “Você poderia respeitar a decisão, porque Colapinto é um piloto do programa de formação da Williams. Mas acho que é um absurdo e não faz sentido se você olhar para o desempenho. Acho que o risco para a equipe e para o piloto é muito maior do que se você colocasse alguém com a experiência com a de Mick”, alfinetou.

Veio também Toto Wolff, chefe de equipe e CEO da Mercedes na F1. Mick Schumacher é piloto reserva do time alemão. Curiosamente, James Vowles deixou a própria Mercedes para assumir a atual função na Williams.

“Mick venceu tudo que havia para vencer, na Fórmula 4, na Fórmula 3 e na Fórmula 2, e trabalhou em um ambiente com Günther (Steiner, ex-chefe de equipe da Haas), que é brutal e que talvez não fosse quem ele precisasse para se desenvolver como piloto”, contra-atacou. “É por isso que ele merecia a chance. Se não fossa dar a ele, não deveria comentar. Deveria deixar todo mundo seguir a vida.”

Ah, e também teve Vettel. “Se fosse minha decisão, eu tenderia a favorecer Mick”, disse o tetracampeão em entrevista ao jornal alemão Bild. “É claro que eu sou um pouco enviesado, já que ele é meu amigo. Mas, do meu ponto de vista, ele é a melhor solução.”

A repercussão foi forte, e James Vowles precisou responder à crise. O dirigente então procurou Mick Schumacher para se desculpar pelas expressões usadas.

“Eu não quero colocar Mick para baixo. Mick está em um time que optou por usá-lo como reserva, e há uma boa razão para isso: é porque ele é um candidato extremamente forte”, argumentou. “A palavra ‘especial’, eu usei em um contexto de multicampeões, como Ayrton Senna e Lewis (Hamilton). Claramente foi algo bobo a fazer, porque essa é a comparação. Eis o que Mick é: ele teve uma experiência dura, teve um progresso excepcional e tem uma equipe muito forte no entorno. Nossa decisão se baseou no fato de que queremos prosseguir com nossa academia (de formação) e nossos pilotos.”

Imagem na F1

O retrospecto de Mick Schumacher nas categorias de base conta com resultados excelentes. Em 2016, ficou com o segundo lugar nos campeonatos alemão e italiano de Fórmula 4. Depois, faturou os títulos da Fórmula 3 (2018) e da Fórmula 2 (2020).

Ao mesmo tempo, o sobrenome abriu portas. Mick Schumacher sempre contou com o apoio raro para outros pilotos na formação, integrando a academia da Ferrari entre 2019 e 2022 e correndo pela forte equipe Prema em diversos campeonatos entre 2016 e 2020. Ele não desperdiçou as oportunidades.

Mas os resultados na F1 jamais corresponderam. Em 2021, com o fraco carro da Haas, não pontuou e terminou o ano à frente apenas do companheiro de equipe, Nikita Mazepin. Em 2022, o russo deu lugar a Kevin Magnussen e o carro colheu os frutos dos investimentos represados, mas Mick novamente ficou bem aquém do esperado: somou menos da metade dos pontos do dinamarquês (25 a 12), sofreu custosos acidentes nos GPs da Arábia Saudita e de Mônaco, e foi dispensado após uma sequência de 11 corridas sem terminar no Top 10 – uma série curiosamente iniciada após o melhor resultado da carreira, o sexto lugar no GP da Áustria.

A Fórmula 1 tem sempre um fila de candidatos a entrar, e não costuma ser generosa em dar segundas chances. Mesmo pilotos com sobrenomes famosos sofreram – impossível esquecer Michael Andretti, dispensado pela McLaren em 1993 após o primeiro pódio com o time. 

E com Mick Schumacher, o cenário indica que pode se repetir. Afinal, a primeira impressão não foi das mais empolgantes, e não justificaria a presença de seu nome em tantas especulações em um vestibular tão concorrido.

Titular da Alpine no Mundial de Endurance em 2024, Mick Schumacher ainda tem uma possibilidade: a Sauber. O time suíço tem uma vaga aberta em 2025, antes de passar o bastão para a Audi em 2026. Para a marca da Volskwagen, pode ser interessante ter uma dupla de pilotos alemães – Nico Hulkenberg já está confirmado para 2025.

São as últimas fichas. “Ele tem que conseguir. Do contrário, acho que seria muito tempo longe da Fórmula 1”, defende Ralf Schumacher. “Acho que Mattia Binotto (ex-chefe de equipe da Ferrari e já contratado pela Audi como diretor de operações) conhece Mick muito bem de seus primeiros distas, então acho que ele não precisa de apoio na decisão.”

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