Helio Castroneves tem lugar garantido na lista de melhores pilotos da história. Mais ainda se a lista for de melhores pilotos a jamais terem corrido na Fórmula 1. E se a relação for de melhores pilotos brasileiros que nunca correram na F1, aí Helinho é candidatíssimo ao topo da lista.
Mas houve um momento em que Helio Castroneves esteve bem perto de correr na Fórmula 1.
O ano era 2002. Helinho vinha de bons resultados com a Penske no automobilismo norte-americano: havia sido quarto colocado da CART em 2001 e terminaria aquela temporada como vice-campeão da IRL, durante a fase em que a Indy se dividiu em duas categorias. Nos dois anos, venceu as 500 Milhas de Indianápolis, justamente em suas duas primeiras participações na prova.
Enquanto isso, do outro lado do Atlântico, a Toyota se mostrava pouco satisfeita com os resultados do primeiro ano de F1. Embora o projeto viesse sendo realizado com prazos folgados e muitos investimentos, a temporada foi bem abaixo da média, com apenas dois pontos e apagada décima posição no Mundial de construtores.
A solução foi trocar os pilotos. Mika Salo e Allan McNish perderiam as vagas no fim de 2002, mas para quem? Foi aí que a Toyota começou a sondar nomes. E Helinho se prontificou a fazer um teste.
“Faz bastante tempo, mas eu lembro muito bem como foi. Tive uma oportunidade de fazer lá em Paul Ricard com a equipe Toyota de Fórmula 1. Na época, eles tinham duas vagas disponíveis, eu fui fazer o teste e foi muito legal o teste”, contou o brasileiro em depoimento ao Band.com.br.
Na ocasião, Helinho foi para a França participar de um dia de avaliações com o modelo TF102. Ao longo das sessões, logo se adaptou ao carro e conseguiu bons tempos, impressionando a equipe. A porta de entrada da Fórmula 1 parecia aberta, mas se fechou de maneira inesperada ao longo do dia.
“Durante o teste, eles anunciaram que o Olivier Panis já tinha assinado e tudo bem, eu falei: ‘Ainda tem uma vaga’. Começamos a andar e andamos superbem. Chegou na hora do almoço e eles tinham acabado de falar que tinham assinado com o Cristiano da Matta. Eu falei: ‘Poxa, mas nem terminamos o teste ainda e já está tudo fechado?’”, lembrou Helinho.
Mesmo sem a vaga, Helinho não perdeu a chance e partiu para a segunda metade da programação de testes do dia. Livre de pressão, tirou ainda mais desempenho do carro. No começo de novembro, Da Matta foi anunciado pela Toyota, quase dois meses após as primeiras notícias a respeito.
“Enfim, eu simplesmente terminei o teste como quem não tinha nada a perder, e acho que foi até bom. Vi que o carro de Formula 1 tinha servido como uma luva para mim. Eu fazia tudo que eu queria, passava nas chicanes, umas chicanes muito rápidas em Paul Ricard, eu passava como se fosse reta e o carro aceitou”, afirmou. “No final, a gente terminou o teste e foi muito bacana. Os mecânicos começaram a aplaudir pelo tempo que a gente tinha feito.”
Como a Toyota já tinha Olivier Panis e Cristiano Da Matta garantidos para 2002, precisou buscar uma solução para aquele excelente problema que tinha arrumado: o que fazer com o Helinho diante de desempenhos tão bons nos testes? O time japonês ainda propôs que o brasileiro trabalhasse como ploto de testes em 2002, ou que corresse em outra equipe enquanto a vaga ali não abria.
Helinho agradeceu, mas preferiu continuar nos Estados Unidos. Mesmo assim, aprovou aquele dia de testes com a Fórmula 1 em Paul Ricard.
“Foi uma experiência fantástica. Fiquei super contente de ter guiado um carro de Fórmula 1 - ainda mais naquela época em que os motores giravam quase 20 mil RPM. Era muito bacana escutar aquele som. Foi bom. Eles me ofereceram para ser piloto de teste e sair da Penske. Eu não fui justamente pelo fato de que não era o caminho para ir. Não dava para deixar uma super equipe para ir para a Fórmula 1 tentar saber e ser piloto de testes. Estou muito contente com a minha decisão, porque até hoje eu estou aqui na Indy correndo e conquistando quatro Indianápolis. Mas a experiência foi fantástica”, descreveu.
Com Da Matta e Panis, o projeto da Toyota até evoluiu em 2002 (ano em que a F1 passou a dar pontos aos oito primeiros colocados), com 16 pontos e a oitava colocação no Mundial de construtores. Mesmo assim, o brasileiro perdeu a vaga no decorrer de 2003, substituído por Ricardo Zonta. Pouco depois, Panis deu lugar a Jarno Trulli.
A Toyota oscilou, cresceu e chegou a conquistar o quarto lugar no Mundial de pilotos, mas deixou a F1 no fim de 2009 sem jamais conseguir a sonhada primeira vitória. Helinho, por sua vez, repetiu o vice-campeonato da Indy em 2008, 2013 e 2014 e venceu as 500 Milhas de Indianápolis mais duas vezes, em 2009 e 2021, além de conquistar três vezes as 24 Horas de Daytona (2021, 2022 e 2023) e ter sido campeão da IMSA (2020).