Gabriel Bortoleto passou o Grande Prêmio de São Paulo se escondendo da imprensa. O motivo: o acerto para correr na Fórmula 1 com a Sauber a partir de 2025.
A ideia da equipe suíça era evitar que o brasileiro ficasse exposto a perguntas no Autódromo de Interlagos. E a McLaren, à qual Gabriel é vinculado até o fim de 2024, também preferiu blindá-lo da imprensa naquele momento.
“Me esconder, eu me escondi bastante. Até porque a McLaren e a Sauber não queriam que eu ficasse tão exposto no sábado e no domingo, por conta dessas perguntas, por conta das especulações. Muitas vezes naquele final de semana, você me viu ali dentro, as pessoas querendo perguntar alguma coisa, jornalista querendo gravar algo, e a gente não podia. Era uma questão mesmo que as equipes pediram”, explicou Gabriel em entrevista exclusiva à repórter Mariana Becker.
Apesar da proteção adotada pelas equipes, Gabriel Bortoleto já viveu uma realidade diferentes no fim de semana em São Paulo. De maneira inédita, ele se sentiu no centro das atenções.
“Sinceramente, eu ainda não convivi um GP como piloto de Fórmula 1. Mas imagino que o que eu vivi no Brasil era muito por conta que era um GP de casa para mim – mas todas essas especulações, isso também gera um a mais. Eu muitas vezes via os pilotos de Fórmula 1 andando pelo paddock, eu estava do lado, e às vezes os jornalistas vinham falar comigo e não com eles”, disse.
“Não sei se é desse jeito sempre ou não. Se for também, eu estou preparado para isso, entendo que isso é o mundo da Fórmula 1 e não levo isso como pressão, para ser bem sincero. Eu levo isso como consequência dos resultados que a gente teve na Fórmula 3, na Fórmula 2 e agora alcançando a Fórmula 1, e as pessoas querendo saber mais da minha vida, querendo saber mais dos meus planos futuros, dos meus objetivos com a Sauber Audi. Acredito que isso faz parte. Estou preparado, e vou aproveitar esses momentos também, porque é importante a gente aproveitar e se divertir”, completou.
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O que esperar da Sauber?
Passadas as 21 primeiras etapas da temporada 2024 da Fórmula 1, a Sauber é a única equipe do grid que ainda não somou pontos, ocupando a lanterna do Mundial de construtores.
O cenário é pouco convidativo para a estreia de Gabriel Bortoleto na F1 em 2025. Mas o brasileiro prefere um olhar mais otimista para o futuro, percebendo mudanças nos bastidores que podem ajudar a equipe a se tornar mais competitiva nos próximos anos.
“Acho que o Mattia (Binotto, diretor de operações) tem feito um trabalho muito bom até agora, pelo que eu tenho visto. Ele trouxe muita gente nova para a equipe, pegou bastante gente de outras equipes de ponta também. Acho que isso é algo positivo, porque tem como trazer essa mentalidade de equipes que estão acostumadas a um budget mais alto, mais investimento. A Sauber sempre foi uma equipe que não tinha o dinheiro necessário como uma Ferrari, uma Mercedes, uma McLaren, uma Red Bull. Agora, trazendo essas pessoas, eles conseguem também colocar essa mentalidade dentro da equipe, ensinar as outras pessoas que já estão na equipe. Isso é algo que, no fim das contas, é um aprendizado”, analisou.
“Pelo que eu tenho conversado com os engenheiros e tudo, a gente não está esperando ir para pódio ou ganhar um campeonato, de jeito nenhum. A gente sabe que não é algo possível no ano que vem. Mas a gente sabe que um passo grande para frente pode ser feito se a gente tomar as decisões corretas, se a gente desenvolver as coisas certas.”
Entre as contratações da Sauber para 2025, os pilotos estão entre os nomes mais visados. Além de Bortoleto, o time contará com o alemão Nico Hulkenberg, atualmente na Haas e com passagens por equipes como Williams, Renault e Force India.
Para Gabriel, o companheiro será importante no desenvolvimento do projeto, mas não deverá ter privilégios. “É um cara que tem mais experiência, que vai poder me ensinar, sem dúvida nenhuma, e é um cara que vai poder liderar a equipe de alguma maneira. Mas isso não significa que eu não vou ter um poder ali dentro, ou que ele vai ter privilégios. De jeito nenhum. Acredito que isso vai depender de resultados dentro de pista e, conforme isso for se desenvolvendo dentro da equipe, a gente vai vendo para que lado a equipe vai indo”, analisou Gabriel, que acredita também ter condições de contribuir com a condução da equipe.
“São coisa que, durante o ano (na Fórmula 2), eu fui aprendendo. Eu fui liderando a equipe. Eu fui fazendo perguntas que mudam a ideia dos engenheiros, mudam o jeito deles pensarem, o set up do carro, o jeito que eles vão lidar com um treino ou com um qualifying. Acho que isso é uma coisa que eu estou aprendendo, essa parte de liderança. Acho que vai ser importantíssima na Fórmula 1. Com um regulamento novo daqui dois anos, vai ser importante eu saber liderar de certa maneira a equipe para a direção que eu quero que ela leve. É lógico que eu tenho um companheiro muito, muito experiente, o Nico, mas ao mesmo tempo dois trabalhando da mesma maneira, liderando a equipe para o lado certo, é melhor do um fazendo isso sozinho. E eu preciso demonstrar isso”, declarou também.
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Campeão na F1? ‘Sonhar nunca faz mal’
Os primeiros passos na Fórmula 1 devem ser discretos, mas Gabriel Bortoleto sonha alto. Quer ajudar a Sauber a recuperar terrenos e deixar as últimas posições. Depois, quando a Audi assumir a equipe em 2026, espera ajudar o time alemão a ser competitivo.
O futuro? Gabriel não esconder: quer ser campeão mundial.
“O que eu aprendi nesses últimos anos é que sonhar nunca faz mal e nunca é longe demais. No final das contas, quando que eu ia me imaginar competindo na Fórmula 1? Isso é o maior sonho do que tudo que pode existir na vida de um piloto. Eu quero muito ser campeão mundial de Fórmula 1. Acho que isso seria minha maior conquista, acho que seria isso que eu dormiria falando: acho que realizei tudo que eu gostaria no automobilismo”, afirmou o brasileiro.
“Acho que é um início que não vai ser fácil. Estou entrando em uma equipe em desenvolvimento neste momento. Mas sempre tento olhar as coisas pelo lado positivo e não fico tentando me vitimizar, falando ‘nossa isso aqui não está certo’. Acho que estou tendo uma oportunidade incrível. Essa oportunidade é: estou entrando numa equipe que em 2026 vai se tornar Audi, uma das maiores montadoras de carro do mundo, que ganhou praticamente em tudo que fizeram em outras categorias, e tenho a oportunidade de desenvolver dentro dessa equipe, pegar ela praticamente da última equipe do grid e um dia levar ela para um possível campeonato do mundo. Isso para mim seria a maior realização do mundo. Construir, liderar, você levar uma equipe ao campeonato mundial, isso não tem preço.”
Por enquanto, Gabriel já venceu um obstáculo ao se tornar o primeiro brasileiro desde o fim de 2017 – quando Felipe Massa se aposentou da F1 – a disputar uma temporada como titular.
“Eu sou o único representante brasileiro hoje indo para a Fórmula 1, isso é o maior orgulho que eu posso levar. Não é fácil par o brasileiro, a gente de onde a gente vem, as coisas que a gente passa, todas as questões que o Brasil passa no momento. Poder estar levando meu país e mostrando nossa garra, nossa dedicação é um dos meus maiores orgulhos também.”