Adrian Newey foi o responsável por projetar os carros que conquistaram 11 títulos do Mundial de construtores na Fórmula 1 – o mais recente deles, o RB18 que garantiu a conquista da Red Bull na temporada 2022. Mas entre tantos trabalhos de destaque, o projetista britânico admite que se arrepende de nunca ter aceitado um convite da Ferrari.
Em entrevista divulgada nesta quarta-feira (27) ao Beyond the grid, o podcast oficial da Fórmula 1, Newey lembrou os três convites que recebeu da escuderia italiana. Em todos, recusou.
O primeiro veio na década de 1980, “durante meus dias na Indy, o que provavelmente não conta”, disse Newey. O engenheiro trabalhou nos Estados Unidos entre 1984 e 1987, projetando carros para a March e conquistando dois títulos (1985, com Al Unser, e 1986, com Bobby Rahal) e duas edições das 500 Milhas de Indianápolis (1985, com Danny Sullivan, e 1986, com Bobby Rahal).
O segundo veio em 1993, quando Newey já estava na Williams após uma passagem pela operação da March na F1 entre 1988 e 1990. Na época, mesmo sem ser contratado, foi ouvido pelo time para que importantes decisões fossem tomadas – como, por exemplo, a contratação de Michael Schumacher, que corria pela Benetton e só chegou à escuderia italiana em 1996.
“A (abordagem) de 1993 foi muito tentadora”, disse o britânico. “Jean Todt havia começado (como chefe de equipe). Eu me lembro de ele falando se deveria contratar Michael ou não. Você acha que foi uma boa ideia?”, brincou.
Contra o acerto da época, pesou o momento conturbado que Adrian Newey vivia fora das pistas. O britânico se casou em 1983 com Amanda, uma enfermeira, de quem se separou em 1989 – entre outros motivos, por causa dos períodos em que precisava se dividir entre a Inglaterra e os Estados Unidos. Ele voltaria a se casar em 1992, desta vez com Marigold.
“A Ferrari é uma equipe italiana”, lembrou. “A ideia de ter um centro de pesquisa e design em um lugar completamente diferente do lugar da equipe – e eu sei que temos uma equipe irmã (a AlphaTauri) que se divide entre Faenza, na Itália, e Bicester, no Reino Unido, que faz isso – é um conceito no qual eu não acredito.”
A terceira e mais conhecida aproximação entre Adrian Newey e a Ferrari veio em 2014. A Red Bull contava com motores Renault, e o designer não estava satisfeito com o relacionamento com a fabricante francesa. Foi quando a escuderia de Maranello voltou à cena.
“Minhas discussões em 2014 com a Ferrari foram fruto puramente de frustração”, contou. “Eu não queria deixar de verdade (a Red Bull), mas estávamos em uma posição na qual a Renault não produzia um motor turbo híbrido competitivo”, completou.
Com o passar do tempo, a situação foi se deteriorando. Então, a Red Bull decidiu bater na porta de Carlos Ghosn, então CEO da Renault. Mas a reunião frustrou o time austríaco.
“A resposta de Ghosn foi: ‘Bem, eu não tenho interesse na Fórmula 1. Só estou porque o pessoal do marketing diz que eu deveria estar’”, afirmou Newey. Nos anos seguintes, a Red Bull correu com motores Renault rebatizados de TAG Heuer (2016 a 2018), antes de iniciar a parceria com a Honda em 2019.
Questionado se havia algum arrependimento na recusa à Ferrari, Adrian Newey indicou que sim – mas que foi apenas uma das experiências que não conseguiu ter na F1 até hoje.
“Emocionalmente, eu acho, que em um ponto, (a resposta é) sim”, disse. “Mas assim como, por exemplo, trabalhar com Fernando (Alonso) e Lewis (Hamilton) teria sido fabuloso. Mas nunca aconteceu. São circunstâncias, é assim que as coisas são.”