No último sábado (22), morreu aos 78 anos o empresário Dietrich Mateschitz, responsável por ajudar a fundar a Red Bull e impulsioná-la no meio esportivo, principalmente na Fórmula 1. O empresário lutava há alguns anos contra uma doença terminal não revelada.
Com o falecimento, a equipe taurina se comoveu no último Grande Prêmio dos Estados Unidos, realizado no Circuito das Américas, em Austin. Várias homenagens foram prestadas pelos componentes da Red Bull, sendo algumas delas feitas pelo bicampeão mundial Max Verstappen e pelo chefe da escuderia, Christian Horner.
A Fórmula 1 também se manifestou por meio de uma nota oficial escrita pelo CEO Stefano Domenicali e a FIA (Federação Internacional de Automobilismo) deixou as suas condolências por meio de uma carta do presidente Mohammed Ben Sulayem.
Mas quem foi Dietrich Mateschitz? Apesar da importância do bilionário para a Red Bull e para a Fórmula 1, muitos fãs desconheciam ou se depararam pela primeira vez com o nome do austríaco. Confira um resumo da história de Mateschitz.
COFUNDADOR DA MARCA RED BULL
Nascido em 1944 na pequena cidade de Sankt Marein im Mürztal, na Áustria, Dietrich Mateschitz se formou em marketing na Universidade de Economia de Viena. Ganhou a sua primeira oportunidade profissional na Unilever, na área de detergentes, e depois se mudou para a Blendax, empresa alemã de cosméticos.
Em uma das viagens a trabalho no início dos anos 80, Mateschitz conheceu uma bebida cafeinada muito semelhante à atual fórmula dos energéticos da Red Bull. Foi assim que a marca foi criada, em parceria com o empresário tailandês Chaleo Yoovidhya. A primeira sede da empresa foi inaugurada em Fuschl am See, próxima de Salzburg (capital da Áustria), onde se tornaria a casa dos taurinos.
A visão empresarial e de marketing de Mateschitz ajudaram a impulsionar a Red Bull, que nos anos 1990 passou a exportar os seus produtos para quase todos os cantos do mundo. O comercial “Te Dá Asas”, veiculado dos anos 1990 aos anos 2010, fez sucesso e despertou a curiosidade dos consumidores.
Em 2021, o faturamento estimado foi de 7,8 bilhões de euros (aproximadamente R$ 42 bilhões), com a venda de quase 10 bilhões de latas. A fortuna do empresário era calculada em 25 bilhões de euros (aproximadamente R$ 135 bilhões).
O MAGNATA DA FÓRMULA 1
No século 21, a marca de Red Bull se tornou bastante ativa no cenário esportivo, mas é possível dizer que o maior apreço de Mateschitz era pela Fórmula 1. O primeiro passo foi dado em 1995, com um patrocínio de peso para a Sauber. Os investimentos permaneceram até 2004, quando o austríaco optou por entrar de cabeça no universo do automobilismo.
A Jaguar Racing anunciou, em julho de 2004, que as suas operações seriam encerradas no término daquela temporada por conta de “graves problemas financeiros”. Naquele ano, a escuderia britânica terminaria em sétimo (de 10 equipes) no Mundial de Construtores, muito por conta do talento do australiano Mark Webber, que tinha como companheiro o austríaco Christian Klien.
Diante da desistência da Jaguar em disputar a categoria em 2005, Mateschitz adquiriu o time automobilístico e deu a ele o nome da marca Red Bull. A estreia da escuderia, entretanto, foi tímida: apenas 34 pontos e um novo sétimo lugar (de 10 escuderias) no Mundial de Construtores. O britânico David Coulthard, o italiano Vitantonio Liuzzi e Christian Klien foram os pilotos.
Até a adoção do teto de gastos e, mais especificamente, até este ano, no qual o limite de orçamento pode ser considerado austero, a Red Bull se destacou pelo dinheiro despendido para que o seu carro e a sua estrutura pudessem evoluir. Isso se refletiu diretamente nos títulos mundiais: são cinco de construtores e seis de pilotos. Junto da Ferrari e da Mercedes, forma o trio mais vitorioso no século 21.
O último título de construtores foi conquistado no GP dos Estados Unidos, em Austin, no último fim de semana. Christian Horner, chefe dos taurinos, dedicou o feito ao patrono da escuderia austríaca.
“Acho que isso significa tudo para nós. Isso tem sido uma jornada e Dietrich era um homem muito reservado, mas ele era apaixonado pela vida. Ele era apaixonado por esportes e especialmente apaixonado pela Fórmula 1. Ele tinha um sonho que era ter uma equipe de F1 e no fim teve. Ele deu a todos nós uma oportunidade. Ele acreditou em nós, nos apoiou e isso é para ele [o título mundial]”, disse Horner em entrevista à Sky Sports.
UM LEGADO ALÉM DO DINHEIRO NA F1
É justo dizer que Dietrich Mateschitz foi um dos principais incentivadores das categorias de base na Fórmula 1. A começar pelo acordo com Gerhard Berger para assumir o controle da Minardi Team, em 2005. Com o nome alterado para Toro Rosso e depois AlphaTauri, a escuderia atualmente se notabiliza por dar as primeiras oportunidades a jovens pilotos na categoria – como o japonês Yuki Tsunoda – e por servir como uma plataforma de testes para a Red Bull.
Além disso, em 2001, o empresário criou a sua primeira Academia de Pilotos, comandada por Helmut Marko, atual consultor e coordenador dos taurinos. Apesar do ex-piloto da BRM ter alguns métodos considerados controversos, como o alto nível de exigência, vários prodígios surgiram da academia ou das bases da Red Bull: Sebastian Vettel, Pierre Gasly, Daniel Ricciardo, Alexander Albon e, o mais recente deles, Max Verstappen.
Após o sucesso da Academia de Pilotos dos taurinos, outras escuderias também fortaleceram as suas categorias de base, como a Ferrari, a Mercedes e a Alpine.
Além disso, Mateschitz deixou um legado para a própria Red Bull, que pode se estabelecer como uma das equipes mais poderosas nos próximos anos. A começar pela criação da Red Bull Powertrains que consiste na produção de um motor próprio da marca a partir de 2026.
"Ele que criou essa visão, e estava envolvido até a última semana. Ele tinha a visão e endossou o plano da Red Bull Powertrains, montando o time para o futuro, um futuro de longo prazo. E esse compromisso que ele mostrou, o que ele permitiu que nós criássemos em Milton Keynes, coloca a Red Bull Racing em uma posição forte para muitos e muitos anos", declarou Horner.
Com a Red Bull cada vez mais fortalecida e estruturada, e com Max Verstappen recebendo um carro projetado por Adrian Newey para a sua pilotagem a fim de que ele possa extrair o máximo, no limite da agressividade, a expectativa é de que a escuderia austríaca domine a Fórmula 1 nos próximos anos.
A RED BULL EM OUTROS ESPORTES
Antes de Dietrich Mateschitz falecer, a Red Bull já tinha avançado em várias outras categorias automobilísticas e também em outros esportes a desejo do empresário. Atualmente, a marca está presente na Nascar, na DTM (categoria de carros de turismo da Alemanha) e na WRC (Campeonato Mundial de Rali).
No futebol, a Red Bull avançou consideravelmente nos últimos anos. O primeiro time da franquia foi o Red Bull Salzburg, fundado em 2005, e que já conquistou 13 títulos do Campeonato Austríaco. O projeto foi ampliado para os Estados Unidos (New York Red Bulls), para a Alemanha (Red Bull Leipzig) e para o Brasil, inicialmente com o Red Bull Brasil, com sede em Jarinu/SP e com os jogos sendo realizados em Campinas, no estádio Moisés Lucarelli.
Posteriormente, a Red Bull adquiriu o Bragantino, de Bragança Paulista/SP, onde se estabeleceu de forma definitiva e onde tem feito campanhas seguras no Campeonato Brasileiro. O clube já foi vice-campeão da Copa Sul-Americana em 2021, após derrota para o Athletico Paranaense.
A marca também está presente nos esportes radicais (como paraquedismo) e no surfe. Os mais recentes investimentos estão sendo feitos no ciclismo com a promoção de etapas de mountain-bike e o patrocínio de eventos e atletas relacionados à modalidade.