Quatro dias após conquistar o bronze no salto triplo em Najing, na China, pelo Mundial Indoor de Atletismo, e ser desclassificado por punição, o brasileiro Almir Júnior quebrou o silêncio e não escondeu sua frustração após perder seu lugar no pódio. Em carta aberta, o triplista definiu-se "destruído."
"Estou tentando ser forte, tentando dizer a mim mesmo que está tudo bem, que vou fazer isso de novo, que pelo menos mostrei do que sou capaz. Mas a verdade é que estou destruído por dentro", escreveu o atleta em suas redes sociais, definindo o atletismo como sua vida. "Sempre sonhei em representar meu país, levantar essa bandeira nas maiores competições do mundo e dar continuidade à forte e respeitada tradição brasileiro no salto triplo. Isso não é só esporte pra mim. É a minha vida. Minha história. Meu legado."
Na ocasião, a organização do Mundial explicou que Almir Júnior utilizou uma sapatilha proibida pela World Athletics. Quarto e quinto colocados no salto triplo entraram com recurso contra o brasileiro e tiveram sucesso.
Almir executou um excelente salto de 17,22 metros em sua terceira tentativa para garantir o bronze em Najing. Seria sua segunda medalha em mundiais após a prata em Birmingham, em 2018. Ele espera que a punição - possivelmente pelo fornecedora de material - não atrapalhe sua carreira.
"Todos sabem como é difícil ser um medalhista mundial no Brasil. Ser atleta profissional já é um ato de resistência - ser um dos melhores do mundo, então, parece impossível. Mas eu consegui. Já estive lá. Foi isso que mudou a minha vida. Foi quando deixei de sobreviver do atletismo e comecei, de fato, a viver do atletismo", afirmou, lembrando de Birmingham.
"Desde então, venho lutando diariamente para me manter entre os melhores. Enfrentei críticas, dúvidas, mudanças. Tive que dar vários passos para trás em busca de um salto ainda maior. Aceitei a pressão, os riscos e segui trabalhando incansavelmente", seguiu. "Depois de anos de reconstrução, consegui novamente mostrar quem eu sou e do que sou capaz. E, no momento em que finalmente consolido essa volta, me tiram isso. De forma inesperada, dolorosa, contraditória. Fruto de uma sequência de falhas que fugiram ao meu controle", explicou, evitando caça às bruxas.
Na visão de Almir Júnior, não é hora de sair detonando os possíveis culpados. "E é justamente por isso que eu não quero, agora, entrar nos detalhes do que aconteceu. O que mais me destrói não é só perder uma medalha. É ver uma conquista dessa magnitude arrancada das minhas mãos. Isso não é apenas um pódio. É a consolidação de uma carreira. De um legado."
Por fim, garantiu que não quis em momento algum levar vantagem sobre os concorrentes. "No Brasil, infelizmente, a cultura esportiva ainda é movida a resultados. E saber que todo o meu esforço pode ser ignorado, colocado em dúvida ou até descredibilizado como se eu tivesse tentado levar vantagem, isso dilacera. Quem entende o mínimo de salto triplo sabe: nada me deu vantagem", disse. "Eu sou a vantagem. O que me levou até ali foi treino, suor, dor e uma fé inabalável de que eu ainda tinha muito a mostrar ao mundo."
E promete não desistir de buscar novas marcas e pódios. "Essas conquistas são decisivas na vida de um atleta. Elas mudam tudo: a preparação, o apoio, o patrocínio, o respeito, a confiança, o futuro. E o topo é um lugar onde só cabem pouquíssimos. Não há margem para tropeços, para desconfiança, para dúvidas. Hoje, volto para o Brasil sem medalha mais uma vez. Mas com o coração cheio de vontade de derrubar o mundo de novo, se for preciso. Porque se tem uma coisa que nunca vão tirar de mim, é essa minha fome de vitória."