Um dos convidados do quinto episódio do podcast Denílson Show, Alan Ruschel falou sobre o processo contra a Chapecoense e a revolta que sentiu quando a defesa do clube catarinense alegou que ele é “um sobrevivente, e não uma vítima” do voo da LaMia 2933 em novembro de 2016.
Em documento que acabou sendo divulgado na internet, a Chape diz ainda que o acidente deu “notoriedade ao reclamante" e “alavancou os seus ganhos", além de citar que o lateral esquerdo obteve “reconhecimento mundial” e sua vida continuou normalmente.
Ao lado de Jakson Follmann e de Neto, os outros dois membros do elenco da equipe que não perderam a vida na tragédia na Colômbia, Alan Ruschel afirmou no podcast que “teve que externar sua revolta” depois de ver estes argumentos da defesa.
“O Follmann e o Neto estão aqui e posso falar que a gente se calou por muito tempo. Não só por coisas que aconteceram agora, mas que aconteceram logo depois (do acidente). O Neto já falou que no jogo de 2017 contra o Barcelona, que aconteceu muito mais por conta do que aconteceu, por conta nossa, fato, o Follmann e o Neto não tinham passagem pra ir! Eles [diretoria da Chapecoense] não tinham comprado passagem para eles!”, disse.
“As coisas não tão erradas só agora. Estão faz tempo, mas permanecemos calados, nós éramos funcionários do clube… Não estou cuspindo no prato que comi, longe disso. Tem situações que não dá para se calar”.
Jogando por piedade?
Alan contou no Denílson Show que saiu a primeira vez da Chapecoense, em 2019, porque soube que um dirigente havia dito que ele só estava na equipe “por piedade”. Follmann, que atuava como embaixador do clube, confirmou a versão e afirmou que só não contou ao companheiro porque ele vinha jogando e não gostaria de desestabilizá-lo.
“Quando eu soube isso me chateou muito”, disse Alan Ruschel, que decidiu telefonar para Ney Franco, técnico com quem havia trabalhado na Chape, e questionou se ele tinha interesse em levá-lo para o Goiás.
“Joguei lá, fiz gol importante pelo Goiás e ajudei o time a ir para a Sul-Americana. Quase brigamos por Libertadores depois de o time passar um bom tempo na Série B. E comigo ajudando. Então quem tava errado eram eles (na Chape). Realmente voltei a jogar em alto nível, porque no Goiás eu não jogaria por piedade”, afirmou.
Alan Ruschel acrescentou que o futebol que mostrou no esmeraldino o fez voltar à Chape em 2020 com “outro status, como capitão e um dos líderes da equipe”. Eleito o melhor lateral esquerdo da Série B daquele ano, o jogador também teve que atuar bastante nos bastidores.
“Entrei com o processo para cobrar o que é meu por direito. O Neto (que foi dirigente da Chape) estava lá e sabe disso. Eu carregava o time não tecnicamente, mas psicologicamente. Ficamos nove meses sem receber e a bomba caia no colo de quem? Do capitão. Ajudei muito no vestiário”, disse ele.
Ruschel falou que chegou a ficar 18 meses sem receber por imagem e que teve uma proposta para deixar a Chape em meio à Série B, mas recuou ao ouvir a promessa de que teria aumento de salário. “Aí quando a gente subiu e foi campeão os caras queriam reduzir meu salário. O que isso significa? Meu, vai embora!”.
Neto sem medalha da Série B
Ex-zagueiro e dirigente do clube, Neto também externou a mágoa com alguns episódios na Chapecoense após o acidente. “Se falaram que o Alan não é vítima, é um sobrevivente, falaram isso de mim e do Follmann por tabela. A gente só não tem processo”, afirmou.
“No meio do ano o Ruschel tinha chamado a mim e a outro diretor e falado para pagar os meninos primeiro, que ele tava dando carona para meninos da base. Tem bastidores que ninguém sabe”, completou.
Neto revelou que chegou a emprestar dinheiro ao clube para pagar salário de funcionário e passagem de jogador e que a gota d’água foi quando não ganhou uma medalha de campeão da Segundona em 2020.
“A CBF mandou 40 medalhas e o Neto ficou de fora. Vi que tava sendo escanteado. Aí tinham mandado mais 40, porque o América-MG também poderia ser campeão na última rodada. E nada. Chegou a final do Estadual e falei: ‘me demite, presidente, ou me coloca no marketing, porque os patrocinadores gostam. Me tira. Tem muita coisa que não concordo, tão me colocando pra escanteio e nem medalha ganhei’”.
Apresentado por Denílson e por Chico Garcia, o podcast Denílson Show é disponibilizado no YouTube, na Twitch e nas plataformas de podcast todas as segundas-feiras, às 20 horas, ao vivo, e conta com a participação de personalidades do futebol, músicos, artistas e influenciadores.