A apresentadora Xuxa causou polêmica durante sua participação na Rio Innovation Week.  Ela foi uma das convidadas do evento para falar sobre veganismo — prática da qual é adepta, e uma de suas falas repercutiu nas redes sociais. Contudo, a dúvida que ficou foi: crianças podem ser veganas?

Na palestra, a Rainha dos Baixinhos disse que acredita que o veganismo é o futuro: “É uma necessidade. A gente tem que pensar em ajudar a todos”. Além disso, Xuxa confessou que quer ser avó e espera que o neto não coma derivados de animais. “Eu não como carne desde os meus três anos. Acho que não tem como não ser [vegano]”, explicou. 

Sasha é vegetariana, ou seja, não é tão radical no consumo/uso de produtos de origem animal. “Se ele quiser comer carne, eu vou ficar muito chateada. Mas eu vou dar um ‘defunto’ pra assustar a criança. Claro que estou brincando. Eu não sou ativista assim não”, falou brincando.

“Não dizem que a avó estraga? Eu vou estragar dando balinha, dando biscoito, tudo ‘veganinho’. Não tem como não ser dessa maneira. Eu nunca dei carne para a Sasha. Um dia ela quis provar e ela se sentiu muito mal. Eu fiquei muito feliz por isso. Não por ela ter se sentido mal, obviamente. Por ela não ter continuado com isso”, explicou a artista, que completou que a alimentação vegana é muito difícil, mas mudar os hábitos são uma necessidade.

Mas afinal, crianças podem ser veganas?

Uma pesquisa publicada na revista “Pediatrics”, revela que as crianças que possuem uma dieta vegetariana tiveram crescimento, altura e medidas nutricionais semelhantes às das que comem carnes. No entanto, as que não comem carne, tinham mais chances de estar abaixo do peso. Pesquisadores usaram dados de cerca de 1.000 crianças entre 6 meses e 8 anos que participaram de um programa de estudo entre 2008 e 2019.

As descobertas destacaram a necessidade de um planejamento alimentar cuidadoso para crianças com baixo peso ao considerar dietas vegetarianas.

Segundo a Sociedade Vegetariana Brasileira, a alimentação vegetariana e vegana pode ser adotada em todas as fases da vida, incluindo a infância. De acordo com a nutricionista Juliana Frizzo, é preciso equilibrar a alimentação e ter uma ingestão nutricional monitorada, assim como é feita com crianças sem restrições alimentares.

Vale lembrar que dieta vegetariana não é igual à vegana. Ela normalmente inclui, por exemplo, laticínios, enquanto a dieta vegana evita todos os produtos animais.

“Na alimentação vegetariana, as carnes, ovos, leite e derivados não são incluídos no esquema alimentar, é necessário aumentar as porções de leguminosas (feijão, lentilha, grão-de-bico) e adequar as porções de cereais para que a recomendação nutricional seja atingida”, explica. 

No entanto, a Academia Americana de Pediatria e a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) — a recomendação é evitar uma alimentação sem nenhuma fonte de origem animal até os dois anos de vida.

A especialista reforça que uma dieta sem carne pode ser segura também. “A alimentação vegetariana pode ser adotada na infância e pode ser uma opção segura desde que, assim como os onívoros, seja acompanhada por profissionais de saúde”, avalia. 

Quais cuidados devem ser tomados?

Um ponto importante é suplementação. “A vitamina B12 deve ser incorporada às prescrições de suplementos na dieta vegetariana estrita, já que as fontes alimentares seguras dessa vitamina são as carnes, ovos e laticínios. Outros suplementos podem ser recomendados a depender da ingestão alimentar da criança, assim como acontece com pacientes onívoros”, diz Frizzo.

Dicas para uma alimentação sem carne 

Para os pais que querem seguir essa dieta com bebês ou crianças, Frizzo orienta: 

• O cardápio do vegetariano deve incluir alimentos ricos em zinco, ferro, cálcio, vitamina B12 e gorduras do tipo ômega-3;
• Um nutricionista pode ajudar a incluir fontes vegetais desses alimentos na rotina familiar;
• Procure reduzir a quantidade de fitato nos feijões e leguminosas, deixando-os de molho durante doze horas (ao menos) antes do cozimento;
• Na impossibilidade do leite materno, bebidas de soja, arroz ou amêndoas não devem ser utilizadas por serem inadequadas nutricionalmente pela Sociedade Brasileira de Pediatria. 
   

Existem benefícios na alimentação vegana?

Cada vez mais pesquisas indicam que a alimentação de origem vegetal traz uma série de benefícios para a saúde dos adultos. Na Índia, o crescente movimento vegano tira proveito de uma antiga tradição. Influenciadores e grupos veganos nas redes sociais destacam o poder nutricional dos cereais, leguminosas e grãos locais.

Claiti Cortes, influenciadora de 26 anos que já soma mais de 300 mil seguidores no Instagram com o perfil Imagina Vegan, viralizou ao preparar receitas veganas saborosas e acessíveis junto da filha de 5 anos, Antonela. Em uma entrevista, ela disse que seu engajamento aumentou quando ela começou a mostrar a rotina alimentar:

"Quando começamos a incluir este lado de maternidade vegana, foi quando o nosso público aumentou. Temos uma série de vídeos que se chama 'O que comemos em um dia' e as pessoas, principalmente as mães, adoram este tipo de conteúdo, porque mostramos como pode ser muito simples comer vegano ao longo do dia, além de ter um ótimo custo benefício, principalmente quando é feito em casa", explica.

Além da culinária, Claiti explica que o veganismo é um estilo de vida que contempla outros aspectos como cosméticos e vestuário e que o aprendizado é contínuo e as mudanças no cotidiano proporcionam um crescimento pessoal constante.

“Em 2018 me tornei mãe e o meu desejo é passar-lhe todos os valores que tenho vivido nos últimos anos. Acredito que as crianças têm um nível de sensibilidade muito maior que nós adultos e uma empatia natural com os animais, pelo que o seu instinto primário será protegê-los”, diz ela na apresentação de seu site oficial.

Diferença entre vegano e vegetariano

Não é de hoje que o vegetarianismo vem ganhando cada vez mais adeptos ao redor do mundo. Consciência ambiental e amor aos animais tem sido as principais justificativas para as mudanças na alimentação e comportamento dos brasileiros. No entanto, a diferença entre um e outro confunde muita gente. Veja as definições para não esquecer mais: 

• Ovolactovegetarianismo: utiliza ovos, leite e laticínios na sua alimentação;
• Lactovegetarianismo: utiliza leite e laticínios na sua alimentação;
• Ovovegetarianismo: utiliza ovos na sua alimentação;
• Vegetarianismo estrito: não utiliza nenhum produto de origem animal na sua alimentação;
• Veganismo: evitam e proíbem tudo o que cause algum dano aos animais. Isso inclui também cosméticos, roupas e produtos de higiene.