Entre 1970 e 1980, o Brasil tinha uma "namoradinha", ou seja, uma figura tão amável e querida pelos brasileiros que protagonizava diversos filmes e novelas de sucesso. Esse título foi consolidado quando a famosa foi eleita, em um concurso, como a personalidade favorita do público. Esse apelido era da atriz Regina Duarte.
O título chegou a incomodar a paulistana, que se via presa a papéis de mocinhas românticas e não conseguia interpretar outros personagens mais polêmicos.
Por que “namoradinha do Brasil”?
Regina Duarte conquistou o título de "Namoradinha do Brasil" em 1967, após ser eleita a favorita do público em uma pesquisa da revista “Intervalo”.
Esse apelido refletia sua imagem de mulher doce e romântica, consolidada por personagens icônicas nas novelas da TV Globo. Sua protagonista, Patrícia, na novela "Minha Doce Namorada" (1971) ficou marcada por reforçar esse estereótipo.
No entanto, por trás desse título, havia uma atriz que, com o passar do tempo, começou a se sentir aprisionada pelo rótulo que definia sua carreira e suas escolhas na dramaturgia.
Contudo, em Nina (1977), Regina conseguiu o papel de uma professora dos anos 1920, à frente de seu tempo, o que já mudava um pouco o rumo que seus antigos personagens costumavam seguir.
Foi só em "Malu Mulher" (1979) que ela de fato quebrou os padrões na TV. Isso porque, na produção, foram discutidos temas até então considerados tabus na teledramaturgia, como divórcio (na época, chamado de desquite), orgasmo feminino, violência doméstica, aborto e virgindade.
Além da Paixão
A mudança na percepção pública sobre Regina Duarte começou nas novelas, mas algum tempo depois, em 1985, foi no cinema em que ela quebrou muitos outros tabus, quando protagonizou uma cena de sexo com um garoto de programa, chamado Miguel.
No filme “Além da Paixão”, a fama da atriz foi abalada pela sociedade conservadora da época.
Regina interpreta Fernanda, uma decoradora de interiores, casada e mãe de dois filhos. Ela parece levar uma vida feliz, apesar de lidar com a morte recente do pai. Após atropelar um garoto de programa chamado Miguel, ela decide viver uma aventura amorosa com ele, e a sua vida muda completamente.
No filme, as imagens de sexo são cheias de suor, corpos e beijos. Em meio a todo o romance extraconjugal, a personagem ainda faz uma tatuagem — que apesar de hoje em dia ser símbolo de estilo e autenticidade, na época em que o filme foi lançado, era uma arte marginalizada.
É possível assistir ao filme Além da Paixão em alta resolução e de graça na plataforma de streaming da Band, o Bandplay.
“Nunca me declarei feminista”
Entretanto, apesar das conquistas e de ter acompanhado a evolução da mulher ao longo dos anos, ela não se declara feminista, e ainda diz que achava sua personagem em “Malu Mulher”, por exemplo, chata.
Regina declarou no programa "Conversa com Bial", em 2019, que não se sentia confortável no papel de Maria Lúcia:
Nunca me declarei feminista, mesmo fazendo Malu. Eu achava que não era por aí. Estava achando ela muito chata, muito autoritária, muito dona da verdade, muito feminista. Aquilo que eu nunca quis ser
Apesar disso, casou-se quatro vezes e teve três filhos. Atualmente, a artista tem sete netos e está fora da TV. Seu último papel na Globo foi em 2017, na novela "Tempo de Amar", de Alcides Nogueira.
No Instagram, a famosa conta com mais de três milhões de seguidores e ainda alimenta uma página onde publica seus trabalhos como artista visual, com mais de 15 mil seguidores.
Polêmicas por posicionamento político
A artista chegou a ser 'cancelada' após sua entrada no cenário político. Em 2020, ao aceitar o cargo de Secretária Especial da Cultura no governo de Jair Bolsonaro, suas falas e posicionamentos políticos polarizaram o público.
Suas opiniões, consideradas por muitos como controversas e alinhadas com a ideologia do governo, distanciaram parte de seus antigos fãs e marcaram uma transformação na forma como é vista atualmente — e assim, a imagem de "Namoradinha do Brasil" acabou se desconstruindo de vez.
Além disso, ela foi considerada negacionista por minimizar os crimes da ditadura militar em entrevista ao vivo na TV e por compartilhar publicações antivacina, no auge da pandemia de covid-19.
Sua filha Gabriela Duarte, que também é atriz, chegou a se manifestar sobre os discursos e ações da mãe. “Ela tomou um posicionamento. Eu respeito, ela tem todo o direito, mas há uma diferença no modo como nos posicionamos. Ela se manifesta de uma maneira que eu não sigo, não é o meu estilo. São coisas que geram ruídos complicados”, constatou.