A primeira dica de hoje é um filme dinamarquês muito diferente, mas que eu adorei. Ele abriu o Festival de Rotterdam deste ano, na Holanda, que é um festival que eu adoro acompanhar e sempre traz filmes ‘diferentões’. É o “Loucos por Justiça”.
Quem é fã do ator Mads Mikkelse vai amar esse filme. Mads é o ator de “Druk – Mais uma Rodada” – que ganhou o Oscar de melhor filme estrangeiro neste ano –, de Hannibal e ele vai estar até no próximo “Indiana Jones”.
Em “Loucos por Justiça”, Mads faz um oficial do exército, que está em trabalho no Oriente Médio e recebe a notícia de que a esposa dele morreu em um acidente de trem, lá na cidade onde eles moram na Dinamarca. A mulher morreu, mas a filha adolescente sobreviveu, aí ele volta para casa, mas está naquela “vibe”, naquela vibração de alguém que estava em uma guerra. Ou seja, ele está sempre resolvendo as coisas pela violência e não consegue entrar em contato com a filha, com o luto e com a dor.
Certo dia, bate na porta dele um cientista, um matemático, que cedeu o lugar dele para a mulher do Mads se sentar no trem. O cientista ainda diz: “Olha, não foi acidente, eu posso provar que foi um atentado terrorista”. Os dois, então, partem em busca de vingança. Só que o filme mistura muitos tipos de filme, uma hora é uma cena de ação, um filme violento, outra é uma situação em família dele com a filha, outra um filme engraçado... é uma história que mexe com as sensações, dando, às vezes, tom de comédia, aí passa para o drama, volta para a ação, para a comédia. Então, assim, ele tira você do lugar de conforto! E, no final, acaba sendo um filme sobre o sentido da vida, de estar com quem a gente ama.
“Doutor Gama” é outro filme que também quero que fique na cabeça das pessoas. Luiz Gama, olha, é um nome que foi crucial para a luta da abolição da escravatura no Brasil.
Antes de falarmos do filme em si, jogo aqui uma premissa: a gente ouviu (pelo menos a minha geração) sobre a princesa Isabel, o José Bonifácio, mas a gente aprendeu muito superficialmente sobre a luta do povo negro pela abolição. A gente aprendeu sobre os quilombos, claro, sabemos que houve a Revolta dos Malês, por exemplo, mas é tudo muito citado. A versão oficial é muito superficial também. E figuras como a do Luiz Gama são profundamente inspiradoras tanto para negros, que estão lutando ainda hoje contra o racismo, quanto para as não negras, porque a gente precisa saber da história desses líderes.
Esse não é um filme didático, tá? Eu estou aqui falando de escola e tal, mas o filme retrata a vida desse homem. Um cara que nasceu livre, mas foi vendido pelo próprio pai como escravo. O pai dele era branco, português. Luiz Gama, porém, conquista sua liberdade na adolescência, era autodidata, falava latim, falava português e aprendeu a ser advogado sem se formar na escola, e ganha o direito de ser advogado por conhecer tão bem as leis.
Ele ainda ajudou 500 pessoas a conquistarem a sua liberdade no momento em que o Brasil se tornava um dos últimos países a abolir a escravatura. Foi um homem incrível que, infelizmente, morreu antes da abolição. Isso não é um spoiler, tá? Ele é uma figura histórica, mas o filme não é sobre isso, é sobre essa transformação dele.
O ator César Mello vive Luiz Gama na fase adulta e Angelo Fernandes, na adolescência. A gente vê tanto filme internacional sobre grandes figuras e adora, então, por que não ver sobre os nossos, né? Ah, e é dirigido pelo Jeferson De., um grande diretor!