Para quem é do rock, Patrícia Perissinotto Kisser, mulher do guitarrista do Sepultura, Andreas Kisser, que morreu em julho do ano passado, faz muita falta. Isso porque, além trabalhar na música, ela era figura importante no trabalho do marido e do filho. Patrícia tratava um câncer de cólon que a levou à morte aos 52 anos.
O câncer de cólon é o terceiro câncer mais comum no Brasil, de acordo com o Inca (Instituto Nacional de Câncer) e atinge indistintamente homens e mulheres. Entre os sintomas está a presença de sangue ou muco nas fezes e cólicas abdominais.
Kisser, um dos músicos mais respeitados do mundo, é guitarrista do Sepultura, banda mineira com fama internacional e a mais importante do heavy metal no país. O artista, aproveita a visibilidade para discutir temas como racismo, ecologia e após a perda da esposa, cuidados paliativos e a ressignificação da morte.
O que são cuidados paliativos?
Em entrevista ao Band.com.br, o músico explica que passou a aprender com o luto: “Vi como a morte educa, dá mais sentido à vida, ao dia a dia e ao presente. Você não vai esperar amanhã para dar um abraço ou falar um ‘eu te amo’ para uma pessoa importante”.
Patrícia esteve sob cuidados paliativos em São Paulo com auxílio de medicamentos para a diminuição de dores. Isto é, um conjunto de práticas de assistência ao paciente incurável que visa oferecer dignidade e diminuição de sofrimento mais comum em pacientes terminais ou em estágio avançado de determinada enfermidade.
Apesar da luta dela e de tantas outras pessoas, ainda não há leis sobre a eutanásia no Brasil. Aqui, a prática é considerada crime. O Código Penal condena a indução ou ajuda ao suicídio com até seis anos de prisão.
Contudo, o marido defende o direito à escolha de como passar os últimos momentos de vida: “A gente não pode ter medo da morte. Precisamos falar de eutanásia, suicídio assistido e sobre fazer escolhas de dignidade na hora da morte”.
Ainda em busca de respostas, o guitarrista foi apresentado à Comunidade Compassiva, ONG que promove conforto a pacientes com doenças ameaçadoras à vida. O atendimento voluntário é feito por médicos, enfermeiros, fisioterapeutas e dentistas no Vidigal e na Rocinha, no Rio de Janeiro, e em comunidades em Minas Gerais e Goiás.
O guitarrista ainda diz que é preciso deixar tudo preparado para o último dia de vida, como inventário, impostos e funeral. Para isso, só basta deixar o tabu de lado e falar sobre a morte. Pensando nisso, o roqueiro fundou o movimento Mãetricia, cujo objetivo é discutir morte digna. Nas redes sociais, o movimento também ensina as pessoas a fazerem testamentos, entenderem o luto e a importância de cuidar da saúde mental.
O que é o Pat Fest?
Até hoje, Kisser faz questão de atuar disseminando o projeto da Comunidade Compassiva por onde vai, como, por exemplo, arrecadando fundos para a ONG. Não só em campanhas em suas redes sociais, mas também com o evento PatFest. Que nada mais é do que um show de rock and roll que reúne Chitãozinho e Xororó, Sandy, Serginho Groisman, Carlinhos Brown, Samuel Rosa ou qualquer outro nome que tenha sido amigo do casal.
Patrícia sonhou com uma comemoração com luzes, instrumentos, onde pudesse reunir todos os amigos com o público e fazer um evento de celebração à vida. Sua doença, porém, se agravou e ela não pode realizar a festa. No entanto, quando a esposa partiu, Andreas percebeu que, apesar da sensação inexplicável do luto, ele se sentia preparado para atender o desejo da esposa.
A primeira edição aconteceu em setembro do ano passado, e reuniu artistas como: Dinho Ouro Preto, Samuel Rosa, Nando Reis e Chitãozinho e Xororó.
Esse ano, o evento já tem data marcada: 25 de outubro na Audio, em São Paulo, e todo o valor arrecadado será destinado para uma ONG. O festival solidário homenageia a vida de Pat, com o encontro de lendários nomes da música brasileira, como Nando Reis, Samuel Rosa, Dinho Ouro Preto, Beto Lee e outros.
“O Patfest foi pensando após a primeira fase da quimioterapia da minha esposa, Patrícia, ela havia pedido uma festa para comemorar, porque foi um processo muito positivo e tranquilo. Infelizmente, não deu tempo, pois a doença voltou rápido e ela acabou falecendo”, explica Andreas.
A curadoria de artistas amigos da família Kisser e admiradores de Pati compõem um line-up que reflete a trajetória da empresária. “Esse ano é o Patfest 2, com participação de vários nomes da música brasileira, desde o roadie ao músico, afinal, a Patrícia conectava muita gente e todo mundo participou com uma energia fantástica na primeira edição”, lembra o guitarrista do Sepultura.
Guiado por Serginho Groisman, o encontro receberá apresentações de Amilcar Christófaro, André Frateschi, Antonio Frugiuele, Badauí, Bruna Viola, Beto Lee, Dinho Ouro Preto, Éder Chapolla, Eduardo Escalier, Egypsio, Enzo Kisser, Fábio Sá, Fernanda Leite, Fernando Nunes, Fi Ricardo, Fred Castro, Igor Godoi, Jão Ratos de Porão, Jean Dolabella, Jean Patton, Johnny Monster, Luís Fernando Luiz Carlini, Marcio Sanches, Marisa Orth, Nana Goes, Nando Reis, Paulo Miklos, Paulo Xisto, Paulo Zinner, Pedro Bandeira, PJ, Rafael Bittencourt, Rafael Mimi, Renato Zanuto, Rodrigo Luminatti, Samuel Rosa, Sol Carlini, Thiago Juliani Wysrah Moraes e Yohan Kisser.
Além disso, o Patfest também tem o compromisso de romper tabus relacionados à morte e ao luto. “Precisamos falar da morte de uma forma mais leve e não ver como uma punição, mas como um estágio natural da vida. A partir disso, a gente consegue se abrir para ter uma vivência muito mais intensa e significativa. Um dos objetivos do festival é levantar essa discussão para toda a sociedade, ela não deve ficar somente entre profissionais da saúde”, explica o guitarrista. Ele arrecadou mais de R$ 90 mil na primeira edição do evento.
Serviço Patfest São Paulo
Data: 25 de outubro (quarta-feira)
Horário: 20h
Local: Audio
Endereço: Av. Francisco Matarazzo, 694, Água Branca, São Paulo
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