Uma das revelações do Trap nacional, Oruam virou alvo de projetos de lei contra apresentações dele em diversas cidades de São Paulo. O cantor já havia causado polêmica no ano passado, quando se apresentou no Lollapalooza. Ele pediu a liberdade do pai, Marcinho VP, apontado como líder do Comando Vermelho, uma das maiores facções do Brasil.
No começo do ano, a vereadora Amanda Vettorazzo (União Brasil), propôs proibir shows e eventos públicos que promovam apologia ao crime e ao uso de drogas para menores de idade. A ideia ganhou força no interior do estado, sendo aprovada em Cruzeiro e apresentada em São José dos Campos.
O projeto recebei o nome de Lei Anti-Oruam. A razão é que letras e temáticas cantadas por ele têm sido alvo de debate sobre influência cultural nos jovens. Oruam respondeu à proposta com uma série de vídeos de curta duração no Instagram, onde disparou ofensas contra a vereadora, chamando-a de "doente mental" e "idiota" e defendendo que suas músicas refletem sua própria realidade.
O rapper também compartilhou um vídeo em que um outro interlocutor diz para "alguém comer ela", em referência à vereadora. Ao fundo, o próprio Oruam repete a frase e completa: "Toma jack". A declaração gerou uma onda de críticas, principalmente porque o termo "jack" é usado nas penitenciárias brasileiras para se referir a um estuprador. "Basicamente, (o Oruam) convocou seus animais para estuprarem a Amanda", disse o Coordenador Nacional do MBL, Renan Santos, pelas redes sociais.
Principais pontos da "Lei Anti-Oruam"
- Proibição: A Prefeitura de Cruzeiro ficará impedida de contratar, apoiar ou divulgar shows e eventos que promovam apologia ao crime e ao uso de drogas.
- Cláusula contratual: Qualquer artista contratado para eventos públicos deverá assinar um compromisso de não promover conteúdos inadequados durante suas apresentações.
- Penalidades: O descumprimento da norma resultará na rescisão imediata do contrato e na aplicação de uma multa correspondente a 100% do valor acordado. O montante arrecadado será destinado ao Ensino Fundamental da Rede Municipal.
- Fiscalização: A população poderá denunciar possíveis infrações à Ouvidoria do Município, permitindo que a Prefeitura tome as devidas providências.
Quem é Oruam?
Mauro Davi dos Santos Nepomuceno, conhecido como Oruam, nasceu em 2001, cinco anos após seu pai, o traficante Marcinho VP, ser preso. Cresceu no Morro do Alemão, na Zona Norte do Rio, onde seu pai criou um império com o Comando Vermelho.
O jovem viralizou nas redes sociais em 2021, mas ganhou notoriedade ao participar do "Poesia Acústica 13", lançado em setembro de 2022 — quando também assinou um contrato com a gravadora do Orochi, a Mainstreet Records.
Atualmente, ele é reconhecido por sua música e tem parcerias com MC Ryan SP, MC Daniel e Chefin, e já gravou com nomes como Xamã, Orochi e Ludmilla.
Contudo, Oruam sempre reforça que conquistou sua fama independente da trajetória de seu pai, e sempre que possível, ele fala sobre o assunto nas redes.
Em entrevista ao PodPah, o trapper disse que o pai tem muito orgulho de sua trajetória: “Imagina para ele. Ele sofreu pra c*****, tá lá, pagando por tudo o que ele fez. Ninguém pode falar nada. É meu pai. Vagabundo fala vários bagulhos, querendo 'difamar' minha imagem por causa dele. O bagulho que ele fez foi ele que fez, não tenho nada a ver com isso", disse. "Eu bombei não falando nada com meu pai, bombei com a minha música, sozinho", completou.
Nas redes sociais, Oruam conta com quase 8 milhões de seguidores. No Spotify, o artista tem mais de 11 milhões de ouvintes mensais.
Quem é Marcinho VP?
Marcinho VP, cujo nome verdadeiro é Márcio dos Santos Nepomuceno, é um dos principais líderes do Comando Vermelho, a maior facção criminosa do estado do Rio de Janeiro. Preso desde 1996, aos 26 anos, ele construiu sua influência mesmo atrás das grades, ao lado de Fernandinho Beira-Mar.
Nascido em Vigário Geral e criado em São João de Meriti, na Baixada Fluminense, Marcinho VP teve uma infância marcada pela violência, com o assassinato do pai. Em um livro escrito na cadeia, ele conta que aos 13 anos, iniciou sua vida no crime, buscando luxos como roupas de marca.
Sua rápida ascensão o levou a se tornar o líder do Complexo do Alemão, importante ponto de tráfico na Zona Norte do Rio. Suas condenações por tráfico de drogas e homicídios totalizam 44 anos de prisão.
Oruam já se defendeu de críticas por defender Marcinho VP
Após ser atacado pela manifestação no Lollapalooza de 2024, o jovem usou as redes sociais para desabafar:
“Meu pai foi preso com 20 anos, há quase 30 anos. Há mais de 15 anos vive trancado em uma cela de 6 metros quadrados, com 2 horas de banho de sol por dia, quando é autorizado, e sem contato com nenhuma outra pessoa que não os carcereiros.
Eu e minha família podemos, quando é autorizado, ver ele uma vez por mês, por poucas horas e através de um vidro, sem nenhum contato físico. Minha vida é assim desde que sou uma criança, não tenho uma foto sequer com meu pai e muito menos tive o prazer de desfrutar de coisas simples com meu pai. A cadeia deveria servir para ressocializar e não para torturar.
Meu pai errou, mas está pagando pelos seus erros e com sobra. Só queria que pudesse cumprir uma pena digna e saísse de cabeça erguida. Que quando chegue sua hora, você possa ter sua liberdade! E que o estado realmente deixe você vir como é de direito, afinal, todos sabem que você já pagou sua pena. Não tentem tirar de uma pessoa o direito de reivindicar condições melhores para o seu pai, e nem de querer vê-lo em liberdade.
Te amo pai, o maior sonho da nossa família é ter você conosco, estamos ansiosos para que você veja o futuro novo que estamos construindo e mostre que todo mundo merece uma segunda chance”.
Em 2010, Márcia Gama, mãe de Oruam, também foi presa sob a acusação de servir como “pombo-correio” em visitas íntimas ao traficante. Hoje ela atua como empresária.
'Tio' de Oruam foi condenado por matar jornalista Tim Lopes
Do lado esquerdo do peito, além do coração, Oruam também tem o rosto de seu pai tatuado. Além dele, o trapper tem os rostos do tio e do sobrinho marcado na pele.
Chamado de "tio" por Oruam, Elias Pereira da Silva, o Elias Maluco — era amigo de Marcinho VP e condenado pela morte do jornalista Tim Lopes. O detento foi encontrado morto no presídio federal de Catanduvas (PR), em 2020.
O homem estava em presídio federal de segurança máxima desde 2007, quando foi enviado o primeiro grupo de presos do Rio, integrantes da maior facção criminosa do estado, para Catanduvas.
Desde então, ele passou por outras unidades, como a de Mossoró, no Rio Grande do Norte. Em 2017, ele retornou para o presídio no Paraná.
Tim Lopes foi morto em 2 de junho de 2002, a mando de Elias Maluco. Repórter da Globo, ele foi torturado, morto e queimado enquanto fazia uma reportagem investigativa na Vila Cruzeiro, favela da zona norte do Rio de Janeiro.
Maluco recebeu a maior pena, sentenciado a 28 anos e 6 meses de prisão. Ele foi considerado culpado por homicídio triplamente qualificado, formação de quadrilha e ocultação de cadáver. Outras nove pessoas foram indiciadas pelo assassinato.