A incorporação de tecnologias nos processos artísticos e nas curadorias em instituições culturais – em especial as localizadas em centros urbanos —, atualiza as possibilidades de experiência em exposições de arte. O Band.com.br foi convidado a explorar o universo de um dos maiores artistas de todos os tempos, na mostra “Os Mundos de Leonardo da Vinci”, para entender esse fenômeno.
A exposição tecnológica sobre Leonardo da Vinci celebra o seu segundo mês em cartaz na cidade de São Paulo e é tida pelo grande público como uma mostra que vai além das propostas imersivas. A ideia do espaço é desmistificar as diversas facetas do gênio italiano, não só através das imagens e objetos expostos, mas também com shows, apresentações teatrais, programação infantil e palestras.
Alfredo Nora, ator e interprete de Giorgio Vasari, primeiro biografo de Leonardo Da Vinci, ou segundo ele “o primeiro fofoqueiro”, fica na exposição para contar histórias. O mediador explica que muda a didática para falar com crianças, especialmente devido aos detalhes “apimentados” em termos de política e sexualidade que permeiam a vida do artista.
“Com as crianças, eu faço um guia mais lúdico, para as questões estéticas e principalmente para a curiosidade. Para adolescentes e adultos, eu conto as coisas mais audaciosas que ele viveu”, instiga o ator.
Ele explica, que antes de Leonardo, não eram retratadas as características e opiniões das pessoas nos quadros e ele inovou neste sentido. Além disso, tinha muita coisa proibida pela igreja e que Leonardo fazia, como dissecar cadáveres para estudá-los e desenhá-los.
“O artista chegou a conclusão que não queria se alimentar, se vestir, ou usar materiais vindos de seres com terminações nervosas para não causar dor. Ou seja, Leonardo era um vegano. E ele fez isso a partir do seu trabalho de dissecação”, explica.
Nora também entrega outra curiosidade sobre o pintor: “Muitas pessoas eram homossexuais na época, mas era algo muito velado. No entanto, Da Vinci passeava com o namorado por Milão — e isso também era proibido. Mas ninguém prendia ele porque já era uma pessoa muito conceituada naquela época”, explica.
Como é a exposição “Os Mundos de Leonardo da Vinci”?
A exposição começa com uma linha do tempo trazendo todas as fases de Da Vinci. Diferente do que se pensa, a educação do artista foi predominantemente informal e autodirigida. O pintor era muito conhecido pela curiosidade insaciável, e pelo estudo independente de vários assuntos.
Leonardo era tido como um homem muito à frente do seu tempo. Pensando nisso, há um planetário que leva o público a uma visita ao passado e apresenta cada detalhes dos lugares nos quais o pintor viveu. Outro destaque é o "Mondo Transportamento", uma área de 800 m² que é totalmente transformada por projeções 360°. Há reproduções de pinturas, como A Última Ceia, e recriações de ruas de Milão e Florença tais como eram na época do inventor italiano.
Esse espaço ainda tem uma réplica do ornitóptero, máquina voadora desenhada por Da Vinci, e uma sala que imita a área do Museu do Louvre, em Paris, onde a Mona Lisa é exibida.
No “Mondo Invenciones”, há réplicas em escala de outras invenções de Da Vinci. Já o “Mondo Atelier” recria o escritório e o quarto onde o gênio viveu os seus últimos momentos, além de trazer reproduções de figurinos que ele criou para o carnaval italiano.
Inteligência Artificial integra a exposição
Em um momento da mostra, é possível usar os traços dos visitantes e inseri-los em pinturas renascentistas por meio da Inteligência Artificial. Essa é uma experiência que faz parte do acesso VIP à exposição. A proposta é transportar as pessoas para a época de Da Vinci.
“As pessoas gostam muito. Às vezes, eles não se reconhecem, mas sim, seus antepassados”, diz Natalia Prado, técnica em Inteligência Artificial.
Sobre a importância da IA quando se fala em arte, Natalia explica: “No começo, as pessoas banalizaram um pouco. Mas agora, o público está começando a conhecer mais. A tecnologia hoje em dia é imprescindível, principalmente em uma exposição dessa. Antigamente, eram quadros e esculturas. Hoje, já é possível colocar projeções e inúmeras outras coisas, como a IA, que ninguém imaginaria”.
Afinal, exposições imersivas funcionam?
A tecnologia imersiva se torna cada vez mais popular, principalmente nos setores de cultura e entretenimento. A realidade aumentada em videogames e salas de cinema 6D, por exemplo, buscam inserir as pessoas dentro dos mais diversos conteúdos. E a arte não fica de fora. As exposições imersivas ganharam força na pandemia, por exemplo.
Horácio Brandão, relações-públicas de outra exposição, a Van Gogh Live 8K, explica que o artista foi escolhido, justamente, pela qualidade que tem de falar com todo mundo — tanto, que a exposição foi um fenômeno em outros estados — milhares de pessoas passaram por ela.
Para a organização da mostra sobre Van Gogh, as exposições imersivas vieram para ficar. “É uma forma diferente de ver arte, mas é absolutamente conectada com o mundo contemporâneo, onde as crianças já nascem com um telefone na mão”, explica Brandão, que ainda rebate as críticas e garante que tudo no espaço é arte:
“Não tem como não ser arte. Nem todas as pessoas têm a possibilidade de pegar um avião para ver um quadro. Então, acho que isso é um preconceito. O próprio Van Gogh não foi compreendido em vida — ninguém achava que ele fazia arte. Mas depois, a gente entendeu que ele era um gênio. Tudo o que é novo faz com que as pessoas questionem, é preciso dar um tempo para compreenderem”, analisa o porta-voz.
A ideia de experiência na arte foi se modificando ao longo do tempo na medida em que os processos artísticos buscaram ultrapassar os limites do que é considerado uma experiência em si. O mediador da exposição “Os Mundos de Leonardo da Vinci”, Alfredo Nora, também afirma que esse tipo de atividade, nada mais é do que uma nova forma de se compreender a arte.
“A discussão do que é arte começou no começo do século XX, com as artes conceituais: ‘O que é arte? O que não é?’. Essa exposição, não é autoral, de fato. É arte e tecnologia sobre a história de Leonardo Da Vinci, onde é possível imergir na história e nas obras dele”, explica.
“Um grande ganho que temos com isso é: você poder ver, em alta resolução, os detalhes de uma pintura, que em quadros originais, muitas vezes não se vê”, conclui o ator.
A era do “arrasta para cima”
Atualmente, praticamente tudo que é vivenciado, é registrado e postado nas redes sociais. Tem coisas, que às vezes são vividas com o único intuito de compartilhar. Com esse movimento, a popularização das exposições imersivas acompanha o aumento geral da visitação de diversos públicos aos museus e demais espaços culturais.
Dessa forma, a arte passa a ser vista também como um pano de fundo para os registros que viralizam nas redes sociais. Justamente por isso, experiências que estimulam o máximo de sentidos de quem vivencia esses espaços, fazem muito sucesso.
Serviço
Data: fica em cartaz até o final de outubro de 2023
Hora: Todos os dias das 10h às 22h
Localização: Morumbi Shopping - Av. Roque Petroni Junior, 1089 Jardim das Acácias São Paulo
Idade: Livre
Acessibilidade: O espaço possui acessibilidade, garantindo e priorizando o livre acesso de idosos e portadores de necessidades especiais e mobilidade reduzida.