Maurício Kubrusly é um jornalista que ganhou destaque entre 2000 e 2010, como repórter do quadro "Me leva, Brasil", no Fantástico, da TV Globo. Atualmente com 79 anos, ele deixou a cidade de São Paulo desde que foi diagnosticado com demência frontotemporal, doença neurodegenerativa sem cura em 2023.
O repórter foi demitido em 2019 da TV Globo, após 34 anos de casa. Atualmente, Maurício vive hoje em Serra Grande, a 43 quilômetros de Ilhéus (BA), no litoral sul da Bahia, ao lado da mulher, a arquiteta Beatriz Goulart, e do cachorro Shiva, da raça border collie.
Pessoas próximas ao jornalista contam que a vida em um lugar menos agitado e com proximidade à natureza fez com que os sintomas da doença tivessem uma melhora significativa.
Na nova rotina, o compromisso diário de Maurício são as caminhadas matinais na Praia do Sargi.
O que é demência frontotemporal?
A demência frontotemporal (DFT) é um grupo de condições neurodegenerativas que afetam principalmente os lobos frontal e temporal do cérebro, responsáveis por funções como comportamento, personalidade, linguagem e tomada de decisão.
Diferentemente do Alzheimer, que geralmente afeta a memória em seus estágios iniciais, a DFT impacta principalmente as habilidades comportamentais e de comunicação.
A DFT ocorre devido à degeneração das células cerebrais nos lobos frontal e temporal. As causas exatas ainda não são totalmente compreendidas, mas há um componente genético em muitos casos, com mutações hereditárias em genes. O diagnóstico é feito por um especialista, geralmente um neurologista ou psiquiatra.
O ator Bruce Willis também foi diagnosticado com a doença, em 2022.
Conforme o Hospital Albert Einstein, os sintomas variam conforme a região e intensidade do acometimento. Geralmente se apresentam com mudanças de comportamento, desinibição, dificuldade em compreender palavras, apatia e alteração de paladar.
Os sintomas são semelhantes aos de outras condições, o que dificulta o diagnóstico precoce e exige avaliação de profissionais especializados.
Demência frontetemporal tem cura?
Diversos estudos estão testando métodos de prevenção, por hora não há um método de prevenção comprovadamente eficaz. Assim como, não há cura nem tratamento específico para a demência frontotemporal. Alguns medicamentos e fonoterapia podem ajudar a atrasar a progressão dos sintomas.
Ou seja, é uma doença que acompanha o paciente pelo resto da vida.
Conforme a Associação Portuguesa de familiares e amigos dos doentes de alzheimer, a expectativa de vida para quem tem demência frontotemporal é, desde o início da doença, de 2 a 15 anos, sendo a média de 6 a 12 anos. A morte ocorre, normalmente, devido a uma infecção.
Qual a diferença entre demência frontotemporal e Alzheimer?
A Doença de Alzheimer e a demência frontotemporal (DFT) são dois tipos de demência que afetam o cérebro, mas apresentam diferenças significativas em relação às áreas impactadas, sintomas e progressão.
Doença de Alzheimer
O Alzheimer é a forma mais comum de demência e está associado à degeneração cerebral causada por um desequilíbrio na formação de proteínas. Essas proteínas acumulam-se anormalmente no cérebro, levando à morte de neurônios e à perda gradual de funções cognitivas.
Os sintomas do Alzheimer, ainda segundo o hospital, geralmente começam com:
- Perda de memória recente.
- Dificuldade em planejar ou realizar tarefas simples.
- Desorientação em relação ao tempo e espaço.
- Com o tempo, o quadro pode evoluir para comprometimentos mais severos, como dificuldades em reconhecer familiares ou realizar atividades diárias básicas.
Demência frontotemporal (DFT)
A demência frontotemporal afeta especificamente os lobos frontal e temporal do cérebro, responsáveis pelo comportamento, personalidade e linguagem. Ao contrário do Alzheimer, que afeta inicialmente a memória, a DFT é marcada por mudanças comportamentais e de interação social.
Seus principais sintomas incluem:
- Alterações de personalidade e humor.
- Perda de inibição, com comportamentos impulsivos ou inadequados socialmente.
- Dificuldade de empatia e reconhecimento emocional.
- Problemas na linguagem, como dificuldade em falar ou compreender palavras.
Maurício Kubrusly considerou eutanásia
Beatriz Goulart, mulher de Maurício Kubrusly, revelou que o jornalista considerou se submeter a uma eutanásia após ser diagnosticado com demência fronto-temporal, doença que não tem cura. A revelação foi feita em uma entrevista à revista Veja. 'Maurício chegou a mencionar seguir o mesmo caminho escolhido por Antonio Cicero", explicou. O compositor e poeta foi diagnosticado com Alzheimer e optou pela eutanásia em outubro.
A mulher de Kubrusly disse que não apoiou a ideia. "'Não tenho mais o que fazer aqui', disparou (ele) certa vez. Eu o demovi da ideia. Não vou ficar viúva, não. Mas estou me preparando para o dia em que ele esquecer meu nome." Ela ainda revelou que o marido percebeu a doença após não conseguir ler um jornal. Atualmente, o jornalista não consegue mais falar.
"Maurício perdeu de vez a capacidade de leitura. E parou também de usar o celular, porque começou a mandar mensagens e fotos para pessoas erradas. Entendi que ele estava mudando, e rapidamente. Há menos de um mês, aos 79 anos, parou de falar. É do que mais sinto falta - dividir com ele suas descobertas ao mundo", disse.
Beatriz também contou que os dois, que estão em um relacionamento há quase 20 anos, passaram a morar juntos somente na pandemia, quando ele percebeu que estava doente. "Maurício manteve por muito tempo a consciência do que estava acontecendo."
Sua trajetória será contada em um documentário que está previsto para entrar no catálogo do Globoplay ainda em dezembro deste ano. Kubrusly: mistério sempre há de pintar por aí foi produzido pela equipe de jornalismo da TV Globo e foi apresentado na 11ª Mostra de Cinema de Gostoso, no Rio Grande do Norte, em novembro, antes de ficar disponível para os assinantes da plataforma de streaming.