A biomédica brasileira Jaqueline Góes de Jesus, aos 31 anos, que ajudou a sequenciar o DNA do coronavírus a partir dos primeiros casos de Covid na América Latina, foi uma das cientistas homenageadas pela fabricante de brinquedos Mattel e ganhou uma versão sua da boneca Barbie. Em entrevista ao Bora Brasil desta quinta-feira, 05, Jaqueline contou que a homenagem a deixou boquiaberta. “Também brinquei com a Barbie, mas não me sentia tão representada, porque ela não era da minha cor, não tinha meu cabelo, então ficava aquele distanciamento. Agora, tenho uma igualzinha a mim e está sendo incrível”, disse.
Além da Jaqueline, outras cinco cientistas também foram homenageadas com uma versão da boneca, entre elas Sarah Gilbert, britânica que liderou a criação da vacina Oxford-AstraZeneca.
A boneca é exclusiva das cientistas e faz parte de uma campanha realizada pela empresa para homenagear as mulheres que se destacaram no combate à pandemia. Jaqueline contou que ganhou um único exemplar, mas que tem recebido muitas mensagens dos amigos querendo saber como e onde podem comprar a boneca. “A proposta, neste momento, não é de comercialização e, sim, de homenagem”, disse. “Mas, é muito bacana ter esse feedback de que crianças e adultos estão se sentindo representados com ela”, completou.
Trajetória
Natural de Salvador, Jaqueline se formou em biomedicina na Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública. Também é mestre em Biotecnologia em Saúde e Medicina Investigativa (PgBSMI) pelo Instituto de Pesquisas Gonçalo Moniz — Fundação Oswaldo Cruz (IGM-FIOCRUZ) e Doutora em Patologia Humana pela Universidade Federal da Bahia em associação com o IGM-FIOCRUZ. Ela e seus colegas – todos coordenados pela imunologista Ester Cerdeira Sabino – sequenciaram o DNA do coronavírus 48 horas após a confirmação do primeiro caso de Covid no Brasil. O tempo recorde é bem abaixo da média mundial de 15 dias.
Durante a entrevista ao Bora Brasil, Jaqueline relembrou o início da carreira. “Tinha aquela síndrome do único negro do lugar e eu era, até pouco tempo, a única negra onde trabalhava e nos lugares em que frequentava dentro da ciência”, disse. Jaqueline contou que esse cenário já mudou um pouco com o passar dos anos e que, agora, “já começou a ver mais mulheres e meninos negros frequentando a Fiocruz e os laboratórios de pesquisas”. “Os passos ainda são lentos e pequenos, mas ainda assim são passos”, completou.
A cientista também relatou a falta de investimento do Brasil na ciência brasileira. “A gente não tem incentivo suficiente para ampliar toda a pesquisa que o País tem potencial para desenvolver. Temos pesquisadores brilhantes no Brasil que, infelizmente, ainda não conseguem ter um resultado pleno de suas pesquisas, de suas ideias e dos seus produtos científicos”.