William Shakespeare é considerado um dos maiores – se não o maior - dramaturgos de todos os tempos. Mas, o espetáculo “Alguma Coisa Podre” traz também uma outra visão: de que ele poderia ser uma pessoa bastante insuportável. O musical da Broadway, agora em cartaz do Teatro Porto, em São Paulo, brinca com o conceito de que o autor dificultou muito a vida de seus contemporâneos, que tiveram que se virar parar competir com ele.
“A gente tira o Shakespeare desse pedestal e coloca ele quase como um violãozinho”, destacou o ator Wendell Bendelack, que faz parte do elenco, em entrevista ao programa Antenados, comandado por Danilo Gobatto na Rádio Bandeirantes. “Ele é apresentado como um popstar, um Mick Jagger. Mas que tem um ego absurdo, insuportável”, complementou a atriz Laila Garin.
O musical se passa nos anos 1700, quando Shakespeare está no auge com sua peça “Romeu e Julieta". Em paralelo, o dramaturgo Nick (Marcos Veras) tenta desesperadamente levantar algum espetáculo que possa colocar o rival, de quem morre de inveja, em seu devido lugar.
“O autor que foi contemporâneo de Shakespeare se ferrou. É justamente essa a história, desse loser que é o Nick, que na verdade era o chefe da companhia de teatro onde o Shakespeare era ator. O Nick achava ele um péssimo ator. O Nick quer também fazer sucesso, seu lugar ao sol. Ele recorrer ao meu personagem, o Nostradamus, que é um vidente duvidoso. Eu conto para eles: ‘O grande sucesso do teatro no futuro serão os musicais’. Aí começa a nossa loucura”, relatou Bendelack.
A peça é comédia rasgada, que se propõe a fazer uma grande sátira sobre o mundo das artes. Ao mesmo tempo, ele tem todos os acordes que se espera de um grandioso musical da Broadway.
“Acho que é uma grande sátira e homenagem ao teatro musical, Shakespeare, às artes de uma forma geral. É um musical, com todos elementos de musical, e aos mesmo tempo o diretor foi muito sagaz em contratar atores comediantes para contar essa história. Não tem a rigidez dos musicais. Não dá para exigir rigidez com cinco comediantes”, frisou o ator.
Para Laila Garin, o trabalho é um duplo desafio. Experiente em musicais brasileiros, ela nunca havia atuado no formato Broadway antes. Aliás, até aqui, o público estava muito mais acostumado em vê-la atuar em dramas.
“Em 2003 eu fiz uma montagem do Grease. Mas depois disso fui para o teatro de pesquisa. Só fui indo para o musical quando fui para o Rio. Sou mais conhecida por coisas mais dramáticas e por musicais brasileiros que não são da Broadway. É praticamente a primeira comédia da minha vida. Na hora de subir no palco é a mesma coisa, mas acho que a comédia tem uma coisa do tempo”, destacou Laila.