Margarida saiu do MasterChef sem o prêmio, ganhou vaquinha e reformou a casa

Após conquistar o público do programa, a cozinheira amadora de 72 anos entrou para as redes sociais e se tornou influenciadora.

Felipe Pinheiro

O MasterChef pode transformar a vida de quem participa do programa. Às vezes, nem é preciso ganhar o título de maior chef do país para isso acontecer. Margarida Arcebispo, ou simplesmente dona Margarida, entrou na cozinha mais famosa do Brasil e não levou o troféu de campeã, mas após dois anos ainda colhe os frutos de sua participação.  

Na edição da dona Margarida, o talent show tinha um vencedor por semana em razão da pandemia. Ela não precisou mais do que isso para cativar a audiência. A cozinheira amadora se atrapalhou no mercado e conquistou os jurados com um pavê regado a bebida alcoólica. Emocionou o público com a sua história e até virou meme pelo seu jeitinho espontâneo.  

Apesar do esforço, a aposentada de 72 anos saiu do MasterChef sem levar o prêmio que mais queria: um ano de supermercado pago. Mas os telespectadores deram uma forcinha com uma vaquinha virtual. O objetivo superou as melhores expectativas da mineira que vive em Guaianases, na zona leste de São Paulo.

Era para ganhar R$ 12 mil e eu pensei, jamais vou ganhar tudo isso. E chegou em R$ 60 mil. Meu Deus do céu! Foi um sucesso e o suficiente para reformar a minha casa.  


Margarida mora há mais de 30 anos no mesmo endereço. O imóvel, que se mantinha inacabado desde a construção, precisava de reparos, como uma pintura, uma grade em volta da laje da garagem e um muro, pois o quintal era aberto. O dinheiro da vaquinha foi usado para as melhorias da residência.  

Se sobrou alguma coisa dos R$ 60 mil? Com seu sorriso habitual, Margarida se diverte: “Não sobrou nada! Fiquei dura e com a casa linda”.  


Ela é influenciadora!


Não foi só a casa de dona Margarida que passou por uma transformação após o MasterChef. Com uma filha influenciadora nas redes sociais – Adriana Arcebispo, da Família Quilombo –, veio a descoberta de um novo potencial. Aos 72 anos, ela também se tornou uma influenciadora de sucesso. 

Recentemente, após um vídeo viralizar, a ex-MasterChef superou a marca de 100 mil seguidores.

“A minha filha falava, você tem muito valor, coloca isso na sua cabeça. Quando sobem os meus seguidores, penso, não sei por que está subindo… Agora acredito mais em mim mesma. Antes eu achava que era uma coisa mais de jovem. Mesmo não acreditando, fui assim mesmo. Não foi uma barreira que me parou. Deixa a vida me levar!”, comemora.  

É como se o amor que ela sentiu por parte do público ao participar do “MasterChef” se estendesse nas redes sociais. No dia a dia, a nova profissão faz diferença – na autoestima e no bolso: “Eu me aposentei com um salário bem baixinho. As firmas às vezes me veem e pedem um trabalho. Com isso eu ganho pelo patrocínio de algumas propagandas. Essa é a renda”.

Faz com que eu tenha mais alegria no dia a dia e até mesmo prazer em me arrumar. Ao me levantar, eu penso, vou fazer Stories. Deixa eu tirar a camisola e passar um batonzinho. Sabe aquilo de querer aparecer bonita para os seguidores? É muito bom!


“Fui criada para ser empregada e depois casar”


Dona Margarida é de sorriso fácil e otimista, mas também tem as suas dores e as batalhas particulares. Perdeu a mãe na infância, mudou-se para São Paulo e por muitos anos trabalhou como empregada doméstica. 

Ela afirma que não cresceu com grandes expectativas sobre a vida. Em uma das casas que trabalhou, ficou por mais de 20 anos e nunca foi registrada na carteira.  “Na época em que trabalhei nessa casa, eu estava muito bem. Se fosse hoje, sabendo das leis, eu não aceitaria mais trabalhar sem registro. Eu não tinha noção que isso era importante”, afirma. 

“Uma pessoa como eu, negra, e de família pobre, era criada para ser empregada doméstica e depois casar. Era como ganhar na loteria. Casou, fez a vida”, diz. “Não tinha mais nenhuma expectativa, como estudar e ser até uma professora. A gente ouvia falar, por que você quer ser professora? Ninguém aceitará uma professora negra. Eu ouvi muito isso", lembra.

Hoje sabemos onde o negro pode chegar, mas naquele tempo não.

 


 

“É um sonho que eu vivo”


Para a influenciadora, mãe de três filhos, avó de sete netos e muitos sobrinhos, o MasterChef mostrou que o mundo de sonhos da televisão é possível também para ela.  

“Sai de um mundo  em que eu vivia mais em casa, fazendo alguma coisa na comunidade. Jamais pensei que apareceria em um programa de televisão. Isso estava fora de cogitação. De repente eu vi que posso fazer mais! [O MasterChef] Me levou para um novo horizonte”, diz.  

Eu me sinto feliz vendo os sonhos dos filhos e dos netos. O meu sonho é ter a minha família perto de mim. E é um sonho que eu vivo.

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