Ao longo de seus 10 anos de existência, o MasterChef Brasil mudou profundamente as vidas de diversos de seus participantes, sejam eles campeões ou não. Foi o caso de Fernando Kawasaki, que participou da 2ª temporada, em 2015. Na época, ele foi visto como uma espécie de “vilão” devido a seu temperamento forte e acabou cancelado. Mais tarde, voltou na edição Revanche, em 2019, já com outra mentalidade.
“Foi um divisor de águas para mim. Eu dividi águas duas vezes: em 2015 e quando voltei na Revanche. Em 2015 foi muito legal, o programa era uma novidade para muita gente, inclusive para quem queria participar. Treinei muito, muitas técnicas, mas eu não tinha treinado meu psicológico. Eu fui muito competitivo e isso às vezes não fica legal aos olhos das pessoas que estão assistindo. Na Revanche falei: 'Calma, dá uma segurada, respira'. Em 2015 saí meio odiado e em 2019 passei um pano”, enfatiza ele em entrevista ao Band.com.br.
Na primeira aparição, Fernando ainda trabalhava com publicidade e deixou seu emprego para integrar o elenco do talent show culinário. Na época, ele estudou o máximo para fazer os melhores pratos. Entretanto, foi muito criticado pelos espectadores, que o viam como arrogante.
"Eu era muito competitivo, sério. Isso vem muito da cultura oriental também. Quando estamos competindo, focamos 100%. Não sei se foi injustiça [do público], mas tiveram posturas minhas que, se fosse hoje, com a cabeça de 10 anos para frente, eu não faria. Mas acho muito legal uma pessoa que se aplica, que se joga de cabeça em uma meta. Talvez possa ter sido injusto da galera, mas acho que no final movimentou, foi bom para o programa", detalha.
Antes do MasterChef eu tinha uma relação muito de hobbie com a cozinha, de memória afetiva. Meus pais são de uma cidade pequena no interior de São Paulo, de 10 mil habitantes. Lá, praticamente todos os avós da galera moravam em um sítio. Nossa vibe era ir ao sítio no fim de semana e tirar leite, ajudar o avô na colheita. Tudo isso acaba se tornando gastronomia.
Evolução
As reclamações de espectadores não impediram que o cozinheiro seguisse uma trajetória na gastronomia. Logo que deixou o reality, ele recebeu uma oferta de e segue na culinária até hoje.
"Desde que saí do MasterChef, vim para Campinas com uma proposta de trabalhar em um bar e confeitaria. Fiquei por dois anos. Depois, fiquei mais seis anos de sócio e cuidando de um outro restaurante e bar na mesma cidade”, relata.
Com a pandemia, os planos de Kawasaki mudaram um pouco. O setor de restaurantes foi profundamente atingido, mas ele descobriu uma outra área de atuação: a consultoria gastronômica.
"Surgiu a possibilidade de criar conteúdos com parceiros comerciais daqui. Um conteúdo legal para mim, para as marcas e para as pessoas que assistiam. Comecei a dar consultorias porque muita gente começou a abrir ou reabrir negócios voltados para a gastronomia. Hoje vivo de fazer consultorias e eventos de buffet”, destaca.
Ele ressalta que isso permitiu, inclusive, que ele conseguisse conciliar melhor sua paixão pela cozinha com sua vida pessoal.
Foram oito anos em que eu estava trabalhando nos finais de semana e que não vi o meu sobrinho nascer, que perdi casamento. Temos que ter equilíbrio entre nossa paixão de cozinhar e nossa vida social.
Aprendizados
Ao longo dos anos, Fernando não deixou de assistir ao MasterChef. Até hoje ele gosta de acompanhar e até mesmo comparar as edições. Ele lembra com muito carinho sua passagem pelo programa, sobretudo pelos aprendizados profissionais e pessoais que teve.
O cozinheiro relembra, por exemplo, o dia em que impressionou Erick Jacquin ao fazer a receita de petit gateau do chef. “Lembro até hoje dele falando: ‘Você adocicou meu dia’. Foi muito legal ouvir isso de um superchef como o Jacquin”, celebra.
O estudo segue sendo crucial
Embora reconhecido profissionalmente, Fernando não deixa de se dedicar e enfatiza a importância de se capacitar cada vez mais. “Eu sou filho de professora. Essa ideia do estudo encaixa para tudo na nossa vida. Você não entra em algo que vai mudar a sua vida sem ter o mínimo de conhecimento. Naquela época, eu realmente bitolei, a gente era muito cru. A partir do momento que me selecionaram, comecei a pegar livros, os mais clássicos da gastronomia, para eu ter uma base de tudo que poderia rolar ali”, frisa.
E quanto aos novos participantes? Ele sugere que eles tenham cuidado não só com a cozinha, mas também com a própria imagem, para não cometerem os mesmos erros que ele acredita ter cometido.
O MasterChef é seu cartão de visitas. Quando saí, eu tinha uma fama de mau e ninguém quer fazer publicidade com gente que parece ser má. Então tenha postura! Acho que a maior coisa que o MasterChef pode dar é visibilidade. O MasterChef te dá uma chancela de bom cozinheiro.