Quem é fã de jogos analógicos e digitais sempre busca diversão, mas o papel que eles desempenham pode ir além do entretenimento e gerar um impacto social. É isso o que busca o Festival Games for Change América Latina, promovido pela Universidade de São Paulo (USP), que chega na oitava edição e acontece entre os dias 5 e 12 de dezembro, em um evento 100% on-line pela primeira vez desde a sua estreia. A programação é focada na diversão do público, mas também no incentivo à criação de jogos e capacitação profissional de jovens que se interessam por esse mercado.
O evento terá encontros de desenvolvedores, mentorias com especialistas em diferentes áreas, construções em ambiente 3D e 10 desafios para criações de jogos que tenham impacto transformador na sociedade e envolvam cultura, arte, sustentabilidade e diversidade.
De acordo com Gilson Schwartz, professor da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP e presidente da Games for Change da América Latina, o debate sobre questões sociais, raciais, geracionais e de gênero trouxeram transformações na criação de jogos. “Nos últimos anos cresceu uma visão mais crítica em relação ao machismo, racismo, discurso de ódio e homofobia. E ganhou força também por causa da importância econômica desse setor. Hoje, o mercado de games digital já tem um faturamento maior do que o da indústria de cinema. E quando veio a pandemia, com fechamento de teatros, cinemas e shows, chegou no digital ainda mais forte a demanda por diversão e conteúdo”, explica.
Essa combinação da digitalização acelerada em 2020 e a importância econômica do mercado de games fez muita gente repensar sobre o conteúdo produzido. “Ninguém é contra aquele joguinho de matar monstro e ter uma aventura medieval, mas como isso funciona se o tema não é de pura fantasia, mas envolve educação, meio ambiente e saúde?”, questiona Schwartz. E essa ideia vai além do console de jogos eletrônicos. Não à toa, surgiu até uma palavra no dicionário nos últimos anos, que é a gamificação. Isso que quer dizer que quase tudo o que a gente faz pode ser encarado como um jogo. “Na educação mesmo você vê a importância da brincadeira para aprender e assimilar conteúdo. Isso também aparece no comércio, nas empresas e na cultura do empreendedorismo.”
Segundo o presidente do evento, essa onda da gamificação fez com que mercado crescesse e gerasse cada vez mais oportunidades, mas nem sempre há profissionais qualificados em game design, animação, áudio, gestão empreendedora, roteiro, filosofia nos games e outras técnicas da área. Por isso, o evento também tem o desafio de qualificar jovens profissionalmente para geração de empregos. “Estamos numa crise de desemprego enorme, principalmente para quem mora na periferia. E não precisa fazer uma faculdade para se capacitar, você pode entrar numa rede, numa comunidade e aprender na prática, conhecendo gente no mercado. Existe uma preocupação com a empregabilidade. A gente tem que se divertir, mas o entretenimento também é mercado de trabalho”.
Festival em 2020
Totalmente on-line, o Games for Change traz novidades nesta edição. Dessa vez, o festival vai ser encarado pelo público como um jogo. Assim que entrar, o participante já pode criar uma carteira digital, receber criptomoedas e aumentar o faturamento ao participar de desafios e surpresas que darão pontos e prêmios durante palestras e oficinas.
Além disso, o evento vem com foco forte em na área da cultura e promove três desafios ligados a museus importantes de São Paulo: Museu do Ipiranga, Museu da Pessoa e o Instituto de Estudos Brasileiros, que vai promover, por exemplo, a criação de jogos inspirados no Macunaíma, obra de Mário de Andrade. “Claro que o museu é um lugar onde você precisa ir, mas quando está fechado, como na pandemia, ele precisa ir até onde as pessoas estão. Por isso cada vez mais se fala em jogos ligados a eles”, aponta Schwartz.
O objetivo é trocar informações e reunir ideias, então quem tiver protótipos, produtos e projetos do mercado que sigam esses requisitos pode participar da Pitch For Change, uma competição que vai premiar os campeões de diferentes maneiras. Os três jogos mais bem avaliados serão contratados para entrar em produção em 2021. E o vencedor vai poder mostrar o jogo no festival em Nova York no ano que vem.
Quer participar? Há atividades gratuitas e pagas, com ingressos entre R$ 50 e R$ 210, mas alunos de baixa renda podem solicitar pedido de gratuidade para toda a programação na plataforma. A expectativa é atrair um público maior que nos últimos anos e trazer pessoas que normalmente não teriam acesso pelo custo. Segundo o presidente do evento, o objetivo é que 80% dos participantes sejam em situação de vulnerabilidade. É só preencher o formulário e marcar a data na agenda.
Serviço
Festival Games for Change América Latina
Quando: 5 a 12 de dezembro
Programação: latam.gamesforchange.org/programacao
Inscrições: doity.com.br/g4c-latam-2020
Ingressos: gratuitos a R$ 210, dependendo da atividade