Lembra do Funk da Pamonha? Rodney Dy agora se veste de Elvis para cantar em loja

Após tentar sucesso com sertanejo e rap, cantor explodiu com música viral na virada do século; viúvo, superou uso de drogas e tem rotina modesta

Por Emanuel Colombari

Após tentar sucesso com sertanejo e rap, cantor explodiu com música viral
@rodneydy/Instagram

Se eu te dou minha pamonha, tu me dá o teu curau?

A pergunta, para quem não reconheceu, é o mote do Funk da Pamonha, música que estourou na virada do século e que projetou Rodney Dy para um breve momento de estrelato no Brasil. Mas quem é Rodney Dy e que fim ele levou?

Rodney Dy é o nome artístico de Rodnei Abbadie Coelho, músico nascido no dia 17 de setembro de 1971 em Porto Alegre e que se mudou ainda na adolescência para Santos. Foi na cidade do litoral paulista que Rodney começou a trilhar o caminho do mundo artístico.

“Sempre trabalhei com rádio, sempre gostei de imitar rádio, imitar radialista. Era office boy em uma emissora de rádio. Dali, com 18 anos, virei radialista. Aí fiz uma dupla sertaneja, que sempre fez bastante sucesso na Baixada Santista”, conta o cantor, que começou a carreira na música com a dupla Rodney & Marcos, em entrevista à Band.

“Só que, em 1993, chegou aquela onda de Gabriel o Pensador, que trouxe o hip hop para o FM, coisa que não tocava antes, como antes também não tocava sertanejo. A vida sempre foi uma discriminação, né? Não tocava pagode, aí começou a tocar pagode nas rádios - era só um horário especifico que tocava um samba, o resto da programação era só rock. Aí a rádio começou a abrir. Quando eu desmanchei a dupla sertaneja para fazer um grupo de rap, até o prefeito da cidade me ligou para reclamar. So que aí foi indo. Em 1994, com essa dupla de rap, o Unidade Rap, consegui entrar nas rádios, fechamos com a Polygram na época”, completou.

Em 1994, o Unidade Rap lançou um disco homônimo pelo selo Footloose, licenciado pela Polygram, e como faixas como A Hora da Verdade, Surfista Racista e Não Dá Pra Viver Sem Teu Amor. Mas Rodney Dy percebeu, depois de algum tempo, que as coisas não sairiam daquele jeito como ele gostaria.

E foi então que, depois do sertanejo e do rap, começou a surgir a ideia do funk. No caso, do escrachado Funk da Pamonha, que apareceu com destaque no programa Piores Clipes do Mundo, apresentado por Marcos Mion na MTV. Era a fama batendo à porta.

“O Unidade Rap não foi para frente porque faltou televisão no projeto. Aí eu comecei a pensar nisso: ‘Quero fazer alguma coisa para a TV’”, conta Rodney Dy.

A ideia, segundo diz, foi gravar um videoclipe propositalmente ruim para buscar um espaço no Piores Clipes do Mundo, programa que estreou na MTV em 1999 sob apresentação de Marcos Mion. Gravou, levou até a MTV e conseguiu. Em uma época em que a internet comercial ainda engatinhava no Brasil, Rodney Dy emplacou o que seria conhecido mais tarde como um viral.

“Aí foi essa a ideia do Piores Clipes, que estava dando uma audiência que ninguém dava, em uma emissora pequena”, explica.

Promoção de cantor

Mas ficar famoso talvez nem fosse o plano A de Rodney Dy. Com o destaque nacional, o funkeiro conseguiu apresentações em shows e programas de TV, mas principalmente conseguiu aumentar o próprio cachê para eventos. Na época, ele conta, já dedicava boa parte da agenda a se apresentar em portas de lojas.

“A grande ideia era chamar a atenção para continuar esse trabalho que eu sempre fiz, que é ficar em porta de loja ou supermercado. Cheguei a fazer essas ações de venda no Brasil inteiro”, relembra.

“Eu queria viralizar, que seria a palavra de hoje. Aumenta o valor do teu trabalho. Eu cobro um cachê de locutor de capital, R$ 400, e faço um show (vestido) de Elvis com show de vendas, um free style, um lance para chamar a atenção. Foi pra isso que eu fiz a Pamonha.”

Ao explodir para o público, Rodney Dy recebeu convites para se apresentar em diversos programas – em 2001, foi convidado para cantar o Funk da Pamonha no Planeta Xuxa, da Rede Globo. Ao mesmo tempo, atraiu muita reação negativa de quem não entendia que a música era apenas um produto na voz de uma personagem.

“O objetivo foi concluído. O povo às vezes era muito ignorante naquele tempo, de baterem no Rubens de Falco (intérprete do vilão Leôncio Almeida na novela Escreva Isaura, de 1976), aquele artista de quem você não gosta na novela. Você encontra ele na rua (e diz): ‘Você está sendo ruim com a personagem tal’”, compara.

“Tinha gente que me encontrava na rua e falava: ‘O cara (Marcos Mion) está te esculachando, acabando com a sua vida na televisão’. E outros já entendiam, falavam: ‘Que legal, parabéns, tira uma foto comigo’. O meu cachê passou de R$ 300, para passar o dia inteiro na porta de uma loja, para R$ 5 mil em um baile de faculdade, para cantar três músicas em 20 minutos.”

Chá do Santo Daime

Mas o Funk da Pamonha perdeu o fôlego e Rodney Dy sumiu da TV. Com o passar dos anos, os cachês diminuíram e ele voltou a concentrar sua agenda a apresentações em portas de lojas.

Até que veio outra reviravolta em 2018: a morte da esposa, Gisele, em decorrência de uma meningite bacteriana. Longe da fama e viúvo, Rodney Dy passou a beber com mais intensidade e a usar drogas. Só conseguiu se livrar dos vícios ao apostar tratamento com a ayahuasca, uma bebida ritualística produzida à base de uma mistura de diversas ervas conhecida como chá do Santo Daime.

“Eu fiquei viúvo em 2018, e eu sempre bebi. Minha vida inteira, eu sempre bebi. Depois que eu fiquei viúvo, comecei a entornar o copo mesmo e ficou um negócio meio grave. Dali, já partiu para a cocaína e a coisa vai ficando feia. Você vai ficando só dentro do seu mundo. Sem trabalhar, ninguém me chamava para mais nada – eu mesmo não estava socialmente me gostando. Foi quando eu procurei esse tratamento em Santa Catarina, na tribo Muruak. Foi o maior barato”, contou o cantor.

“Eu substituí o álcool por uma colher de sopa de ayahuasca por dia durante o tratamento. Aí depois eu fiz a dieta do rapé, que eu achei que não ia conseguir. Quando vi, fiquei no meio do mato e aprendi até a fazer fogo com lenha molhada. Em vez da cocaína, era o rapé, que os índios sopram no seu nariz. Depois, é você que sopra através do curipe (uma espécie de cachimbo). Isso dá aquela estabilidade, e você não precisa mais daquela colher de sopa por dia, só durante as cerimônias – geralmente em um sábado à noite, e você só pode ir embora no dia seguinte, esperando o efeito acabar.”

Rodney afirma estar longe das drogas desde então. Nos últimos anos, voltou à rotina de se apresentar em portas de lojas. Vestido como Elvis Presley, canta, dança e promove sua conta no Instagram, que usa como cartão de visitas para tentar conseguir mais apresentações.

“Eu faço um free style. Eu pego o clima ali, os produtos da loja que vão ser vendidos e transformo a música nisso”, explica, reforçando a divulgação nas redes sociais. “O pessoal que tem uma loja e quer dar uma animada na porta da loja, é só chamar.”

Passados mais de 20 anos do sucesso do Funk da Pamonha, Rodney Dy não leva uma vida nababesca. Mas consegue pagar as contas e leva uma vida com alguma segurança financeira em São José dos Pinhais, na região metropolitana de Curitiba. Em setembro, vai comemorar o aniversário fazendo uma apresentação de stand up comedy em Curitiba.

“Eu estou vivendo tranquilamente dentro daquilo que eu me proponho a viver. Eu não estou dirigindo nenhum 4x4, mas tenho um lugarzinho onde eu gosto de ficar. Poderia morar em Santos, em São Paulo, ou em Santa Catarina, lá na aldeia. Eu estou aqui tranquilo em São José dos Pinhais, um lugar onde tenho um clima bacana, e namorando uma moça daqui também. Resolvi me mudar para cá”, contou. “Estou trabalhando quando realmente chamam. Aí eu vou, faço final de semana, alguma coisa – normalmente em São Paulo, onde é o fluxo mesmo. Mas não estou na noite. Tenho recusado fazer alguns eventos à noite. Aceitei um só, um baile de terceira idade, com o pessoal da melhor idade.”

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