Desde que o filme brasileiro 'Ainda Estou Aqui' foi exibido no Festival de Cinema de Veneza, no último domingo (1º), a atuação de Fernanda Torres ganhou uma chuva de elogios da crítica internacional. A comoção do longa foi tão grande que muita gente começou a falar sobre a possibilidade da atriz concorrer ao Oscar, assim como sua mãe, Fernanda Montenegro, em 1999.
A jornalista Flávia Guerra, que esteve na sessão de exibição do filme, comentou sobre a recepção da crítica ao filme e as reais possibilidades da brasileira na principal premiação do cinema.
“Ela foi muito elogiada. A Fernanda foi comparada com Angelina Jolie, no papel de Maria Callas, e de Nicole Kidman, que está em 'Baby Girl', num papel ousado. Mas todo mundo colocou a Fernanda no mesmo patamar, e teve gente se empolgando para uma indicação ao Oscar de Melhor Atriz, como a mãe dela foi”, frisou a colunista da BandNews FM, e completou:
"É difícil esse páreo, mas ela tem sérias chances", disse.
Fernanda Torres tem uma carreira marcada por papéis icônicos e uma versatilidade admirada no cinema e na televisão brasileira. Agora, ela assume mais um desafio: interpretar Eunice Paiva.
Mas afinal, quem foi Eunice Paiva?
Mãe de Marcelo Rubens Paiva, Eunice Paiva foi uma importante advogada e ativista dos direitos humanos no Brasil, especialmente conhecida por sua atuação durante a ditadura militar (1964-1985).
Maria Lucrécia Eunice Facciolla Paiva nasceu em São Paulo, em 1929, e ficou conhecida nacionalmente após o desaparecimento de seu marido, Rubens Paiva, que foi um dos casos mais emblemáticos de violação dos direitos humanos durante o regime militar. Ele se casaram em 1952 e tiveram cinco filhos. Ele era um ex-deputado federal e militante político, que foi preso e desapareceu nas mãos das autoridades militares.
Em 20 de janeiro de 1971, Rubens Paiva foi levado pela polícia da casa em que vivia com a família no Leblon. No dia seguinte, Eunice também foi presa e permaneceu 12 dias nas dependências do Destacamento de Operações de Informações do Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi) sendo interrogada.
Após sua libertação, Eunice passou a questionar o que havia ocorrido com seu marido - mas não obtinha nenhuma resposta.
Eunice Paiva, diante desse trágico evento, tornou-se uma figura central na luta por justiça e pelos direitos das vítimas da ditadura ao lado de outras mulheres, a estilista Zuleika Angel Jones, a Zuzu Angel, de Crimeia de Almeida, Inês Etienne Romeu, Cecília Coimbra, entre outras.
Ela enfrentou a repressão do governo, buscando incessantemente informações sobre o paradeiro do marido, mesmo sob ameaças e perseguições. A advogada também teve um papel importante na redemocratização do Brasil, trabalhando para garantir que as violações dos direitos humanos fossem expostas.
Foi apenas em 1996, após 25 anos de luta, que Eunice conseguiu que o Estado Brasileiro emitisse oficialmente o atestado de óbito de Rubens Paiva. A primeira prova objetiva de seu assassinato só foi encontrada 41 anos depois, em novembro de 2012, com uma ficha que confirmava sua entrada em uma unidade do DOI-Codi.
Eunice Paiva conviveu com Alzheimer por 14 anos e faleceu em 2018, aos 86 anos. Apesar disso, seu legado como defensora dos direitos humanos e sua coragem ao enfrentar o regime militar brasileiro permanecem como exemplo de luta pela justiça e pela verdade no país.
Quando estreia “Ainda Estou Aqui”?
O filme "Ainda Estou Aqui", dirigido por Walter Salles e estrelado por Fernanda Torres e Selton Mello, foi exibido em uma sessão de gala no Festival de Veneza. Nos cinemas brasileiros, no entanto, o longa ainda não tem previsão de estreia.
A produção também concorre ao Leão de Ouro, um dos maiores prêmios do cinema internacional. É possível que o filme estreie apenas após a temporada de festivais de filmes, inclusive podendo ser lançado nos cinemas apenas em 2025.