Nos últimos 30 anos, Zico se transformou em uma das grandes personalidades do futebol japonês. Seja como jogador, treinador ou dirigente, o ídolo do Flamengo e da seleção brasileira também escreveu seu nome no Kashima Antlers e na seleção do país asiático, tendo a chance de descobrir muitas diferenças culturais.
Quem vai do Brasil para o Japão percebe muitas questões entre os dois povos. Em entrevista à repórter Jaqueline Ciocci, do Faustão na Band, Zico destacou a educação no trânsito como algo muito característico dos japoneses.
“Assusta quando a gente volta aqui. A primeira coisa é a buzina: parece que não existe buzina lá”, disse Zico. “No Japão, às vezes você está no sinal, para, relaxa, esquece, demora a sair, e não acontece nada. Todo mundo aguarda, sempre pensando que você não saiu porque aconteceu alguma coisa”, acrescentou.
Para Zico, o japonês tem um senso muito forte de coletividade e disciplina. Isso, às vezes, pode gerar problemas em determinadas atividades.
“Eles sofrem no futebol por causa disso, por serem coletivos. Você sabe a profissão que mais sofre no Japão? Juiz de futebol, que tem que tomar decisão sozinho lá”, afirmou.
Como sociedade, Zico diz que os japoneses têm uma responsabilidade muito grandes uns com os outros. Isso se reflete na honestidade da classe política, por exemplo.
“Se eles fazem besteira, eles mesmo assumem, se demitem, saem. Em época de candidatura, eles vão visitando todas as casas, mostrar o panfleto. Se puder mostrar a fotinho, melhor. Ganha aquele que realmente merece vencer”, relatou.
Na infância, as crianças são orientadas desde pequenas a irem sozinhas à escola. E muitas vezes encaram o frio para mostrarem resiliência.
“Às vezes, a gente sente uma diferença grande nas crianças menores. Na época do frio, as crianças têm que ir de shortinho. Não tem muito agasalho. Tem que acostumar desde cedo a sentir um pouco de frio, a suportar a dificuldade”, disse Zico, que viu essa resiliência aplicada mesmo a jogadores de futebol depois de adultos.
“Eu tive casos com jogadores nossos de futebol em que os caras ficaram três meses sem dirigir, e nenhum jogador podia dar carona. Eles tinham que ir a pé.”