"Passinho é ancestralidade": conheça grupo vencedor do Busão do Faustão

Companhia de dança é formada por integrantes de diferentes comunidades do Rio de Janeiro

Ana Bardella

O grupo foi vencedor do Busão do Faustão desta quarta-feira  Reprodução / Faustão Na Band
O grupo foi vencedor do Busão do Faustão desta quarta-feira
Reprodução / Faustão Na Band

Complexo da Maré, Complexo da Penha, Complexo do Alemão e Cidade Alta: cada um dos integrantes do grupo Afro Black, vencedor do Busão do Faustão desta quarta-feira (27), vem de uma favela diferente do Rio de Janeiro. Juntos, eles sonham em levar a cultura da dança afro e do passinho para o mundo.

Com tanta empolgação, a reação do auditório não poderia ter sido diferente: Vinícius Rodrigues, Meyre Barreto, Ronald Sheick e Isabelle Marques levantaram a galera ao som de Anitta e Havaianos. Até João Guilherme entrou na dança, depois de ser desafiado a tentar reproduzir um trecho da coreografia. 

Ao site do Faustão Na Band, Vinícius explicou como surgiu a ideia de montar uma companhia de dança. 

“Inicialmente, era apenas um dueto, formado por mim e outra bailarina. A proposta era uma dança mais sensual. Com o tempo, mais pessoas quiseram entrar para o grupo e nós demos essa oportunidade. Por ser difícil viver de arte no Brasil, ela saiu para trabalhar em um emprego formal e eu continuei com o projeto", explicou. 

Para isso, ele fez uma imersão nas próprias raízes. “Eu tive que começar a estudar mais sobre ancestralidade, sobre a minha própria, já que era isso que queria passar para as outras pessoas. Minha intenção sempre foi falar sobre a favela. O passinho é dançado descalço, com o pé no chão. É a raiz”, pontuou. 

E o que mudou de lá para cá?

Desde pequeno eu sempre quis alisar meu cabelo porque queria ficar igual o meu amigo da escola. Era legal ser branco. Agora é legal ser preto, todo mundo quer. 

“Sim, a gente sofre racismo, mas também temos os lados bons. Eu nunca aprendi sobre a cultura africana na escola, só que era feio ser preto”, refletiu. Hoje, ele prova exatamente o contrário através da dança – e já se apresentou em 14 países. 

Referência na favela 

Quando questionados sobre como a dança impactou nas suas vidas, todos os integrantes chegam a um denominador comum: eles se tornaram referência em suas respectivas comunidades. 

“Antes, a única referência de prestígio e respeito que nós tínhamos era através do tráfico. Hoje em dia, você pergunta para uma criança o que ela quer ser, ela diz bailarina ou dançarina de passinho”, apontou Sheick.

Meyre, que trabalha em uma escola, também sente esse impacto. “Isso te motiva até a ser uma pessoa melhor onde você vive. É inexplicável ver as crianças pedindo para ensinar a elas como dançar”, refletiu.