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Especialista que fez bifurcação da língua de Urach rebate críticas: "É seguro"

“A modificação corporal é vista de maneira distorcida por muitos, mas é uma prática segura quando realizada por profissionais qualificados", diz Daniel Rodrigo

Por Hanna Rahal

Na busca por um estilo único e autêntico, as modificações corporais estão se tornando cada vez mais comuns, transcendendo as tradicionais tatuagens e piercings para incluir chifres, bifurcações linguais e outras intervenções corporais extremas. 

Para entender melhor esse universo, o Band Entretê entrevistou Daniel Rodrigo, um modificador corporal renomado que já realizou mais de mil bifurcações de língua, inclusive a de Andressa Urach.

A modelo e influenciadora, de 36 anos, mostrou nas redes sociais o resultado da cirurgia que fez de "bifurcação da língua", procedimento que divide o órgão muscular em dois, como a língua de uma serpente. O assunto gerou curiosidade. De acordo com Urach, ela fez o procedimento visando aumentar o prazer durante as atividades íntimas - contudo, esse não é o único propósito. 

Padrão é ter estilo

O Band Entretê conversou com Mauro Fernandes, de 42 anos. O tatuador e influenciador fez o procedimento de bifurcação lingual há 10 anos e conta que gosta tanto da modificação, que se precisasse, faria de novo. 

Existem diversas modificações corporais: chifres, orelhas e até coloração ocular. Mas Fernandes conta que, em seu ponto de vista, tudo era “muito chocante". No entanto, ele, que tem mais de 90% do corpo tatuado, ainda sentia que faltava algo -  foi quando descobriu na bifurcação da língua uma opção interessante. 

“Confesso que no começo fiquei com receio, mas o profissional me passou confiança e acabou me convencendo a fazer”, explica. 

O tatuador ainda explicou como foi o processo cirúrgico. “É um procedimento muito rápido. O que dói é a anestesia, mas depois que o medicamento fez efeito, eu não senti nada”. Contudo, o processo de recuperação não é fácil, é preciso muito cuidado e disciplina. 

“Assim que começa a passar o efeito da anestesia fui sentindo muita dor - até me arrependi na hora. São alguns dias, tomando remédios e se alimentado com líquidos. Mas após o processo de cicatrização, tirei os pontos e esqueci de tudo, não senti mais nada”, conta. 

O influenciador ainda sentiu algumas dificuldades na fala, mas logo aprendeu a viver com a nova língua. “No comecinho, é estranho falar algumas coisas, palavras que usam muito a trepidação da língua. Apanhei um pouquinho, mas depois acostumei”. 

Mauro conta, que fez o procedimento com fins estéticos - e a modificação o ajudou até no trabalho. “Muita gente ficou curiosa e deu um engajamento legal. Além do estilo bacana, tudo isso acabou me trazendo clientes”, explica. 

“Modificação corporal é seguro”

Daniel Rodrigo é modificador corporal e já fez 1082 línguas bifurcadas. O especialista entrou no universo das modificações corporais em 2013, iniciando sua jornada com perfurações e, em seguida, explorando as modificações mais extremas. “Meu primeiro contato com a modificação corporal foi por meio de uma revista de tatuagem”, lembra ele. 

Essa descoberta despertou sua curiosidade e paixão, levando-o a estudar e entender as culturas e tribos que historicamente adotaram essas práticas. Daniel, de fato, não é médico, mas ele explica que já fez diversos cursos na área da saúde para exercer sua profissão - apesar de nenhum deles ter sido pensado para modificações corporais. 

Ele destaca que a modificação corporal é uma cultura que tem suas próprias teorias e resultados, desenvolvidos ao longo de muitos anos de prática e estudo. “Aprendemos com a prática e os resultados que a gente tem. É uma a experiência acumulada ao longo dos anos", explica. 

Para ele, é preciso ter um profundo entendimento da anatomia e das técnicas necessárias para realizar modificações seguras e eficazes. “A gente precisa estudar muito mais do que vocês imaginam”. 

Após a atriz pornô compartilhar que fez o procedimento, o modificador passou a ser questionado sobre a segurança da bifurcação lingual. “Vi nos comentários da publicação da Andressa Urach, a galera falando sobre risco. O risco do procedimento é o que me fez estudar. O medo desse risco também é meu. Tenho medo de acontecer alguma coisa durante o procedimento. Por isso estudo e aprendo cada vez mais”, explica. 

Apesar da preocupação, o especialista conta que nunca teve nenhuma intercorrência. “Tenho um livro de controle com todos os trabalhos que faço e nunca precisei colocar nenhum problema. Acho estranho como a sociedade reage quando a galera fala de modificação - na estatística, o número de procedimentos que deram errado é muito pequeno - assim como pode acontecer em qualquer outra intervenção no corpo - contudo, colocam a estimativa lá em cima, por não conhecerem o processo”, diz.

“Modificação corporal vai existir para sempre”

Daniel reconhece que a modificação corporal ainda enfrenta preconceitos e falta de compreensão por parte da sociedade. 

Apesar de ser vista de maneira distorcida por muitos, é uma prática segura quando realizada por profissionais qualificados, afirma. 

Ele acredita que a chave para superar esses preconceitos é abrir diálogos e educar as pessoas sobre a realidade e a segurança dessas práticas.

Questionado sobre regulamentações e a necessidade de políticas para a qualificação dos profissionais que trabalham com modificações, ele foi claro:

“Acho que deveria, sim, ter alguma coisa que ajude a modificação. Não na questão de criticar, criminalizar ou de apontar o dedo. Falar sobre a modificação corporal não é só com área da saúde, é também uma questão social, cultural e algo muito maior do que a gente imagina”.

Aplicar chifres de silicone na testa, cortar o lóbulo da orelha, dividir a língua ao meio, voar suspenso por ganchos de aço na pele, são algumas das alternativas para modelar o corpo que nem sempre são vistas com bons olhos — situação que precisa mudar.

“É implantado na cabeça das pessoas há muitos anos que a modificação é algo estranho, ruim, que foge do padrão. Creio que a área da saúde não se preocupa com a questão da modificação corporal, mas é algo que existirá para sempre, porque está nas pessoas”, considera.

Bifurcar a língua, para Daniel, é como qualquer outra mudança, como pintar o cabelo e fazer a sobrancelha: uma maneira de sentir-se bem ao encarar o mundo. “As pessoas vão sempre buscar a mudança do corpo para se sentir bem. A gente sempre precisa se adaptar”. 

“Falei para o meu filho esses dias: ‘Filho quando você começar a entender mais as coisas e as pessoas te mostrarem a imagem do diabo, por exemplo, vão te mostrar uma pessoa com chifres e tudo mais. E você é uma criança que vem crescendo nesse universo, e sabe que essas pessoas não são nada disso’. Ele falou que entendia completamente”, conta. 

Como é feita uma bifurcação de língua?

Um dos procedimentos mais realizados por Daniel é a bifurcação de língua. "O procedimento requer um estudo profundo da anatomia. Cada língua é diferente e os resultados variam de pessoa para pessoa", explica. 

Conhecido como “Tio Dan”, ele desenvolveu um método que classifica as línguas em cinco diferentes tipos anatômicos, permitindo-lhe prever os resultados do corte após a cicatrização e adaptar sua técnica de acordo.

Após a bifurcação, o cliente deve seguir um rigoroso cuidado pós-operatório para garantir a correta cicatrização. "Os cuidados após o procedimento são essenciais. A regeneração completa leva cerca de 14 dias, com os primeiros sete dias sendo os mais críticos devido à presença de suturas", detalha.

Daniel esclarece que, embora o paladar possa ser afetado temporariamente após a bifurcação, ele geralmente retorna ao normal. "O paladar pode mudar um pouco, mas isso varia de pessoa para pessoa. A língua desenvolve novas sensibilidades após a modificação", diz. 

Quanto à fala, ele menciona que existem treinos e técnicas para auxiliar na adaptação pós-modificação. "Após a retirada das suturas, a maioria das pessoas recupera a fala normal dentro de 20 a 30 dias", afirma.

Sobre valores, o profissional explica não haver um piso - cada modificador cobra quando acha que deve.  Apesar disso, o especialista enfatiza a importância de escolher um especialista qualificado e experiente. "É crucial escolher alguém que tenha um histórico comprovado de segurança e resultados positivos", aconselha. 

Ele recomenda que os interessados pesquisem extensivamente, assistam a conteúdos educacionais e conversem com o profissional antes de tomar uma decisão.

O futuro das modificações corporais

Apesar dos desafios e preconceitos, Daniel acredita firmemente no futuro das modificações corporais como uma forma legítima de expressão pessoal. "A modificação corporal está enraizada na nossa cultura e continuará a evoluir. É uma expressão de individualidade e deve ser respeitada", conclui.

“Falta o coração aberto para o assunto. Visibilidade tem bastante, só que a visibilidade que a gente tem é preconceituosa. Pessoas que criticam, que apontam o dedo, acham estranho”, diz.

Desafiando preconceitos e redefinindo conceitos de beleza e identidade, Daniel define que apenas a natureza é bonita, no mais, ele não costuma “exercer esse tipo de julgamento com pessoas”. 

O Brasil, por exemplo, é o segundo no ranking de cirurgias plásticas. Significa a necessidade de adaptar o corpo a uma ideologia de beleza. Ou seja, quem faz as modificações corporais mais radicais, busca se desfazer desse conceito.

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