Mesmo premiado, 'Emília Pérez' é rejeitado e causa polêmica no México; entenda

Obra do francês Jacques Audiard que retrata parte do narcotráfico no México desbancou "Ainda Estou Aqui" no Globo de Ouro

Da redação

Mesmo premiado, 'Emília Pérez' é rejeitado e causa polêmica no México; entenda
Emília Pérez causou polêmica no México
Reprodução/Netflix

Campeão de indicações no Globo de Ouro, participando de 10 categorias e vencendo quatro, "Emília Pérez" chama a atenção desde antes da premiação. A obra assinada pelo francês Jacques Audiard desbancou o brasileiro "Ainda Estou Aqui", de Walter Salles e venceu a categoria de Melhor Filme de Língua Não Inglesa. 

A obra, que é um musical, narra a trajetória da advogada Rita Mora Castro (Zoe Saldaña), que recebe a proposta de um chefe do narcotráfico mexicano que deseja fazer a transição de gênero e viver de forma autêntica. O filme causou polêmica, principalmente no México. E a razão não foi a história contada no filme. 

O longa-metragem, apesar da recepção calorosa de Hollywood, foi primeiramente criticado por ter apenas uma atriz mexicana na obra inteira. Adriana Paz faz um papel secundário e não foi escolhida para concorrer nas categorias de Melhor Atriz Coadjuvante nas premiações. 

Das três protagonistas, apenas uma falava espanhol, mas castelhano. Karla Sofía Gascón, espanhola, foi elogiada pelo trabalho apesar das polêmicas. Zoë Saldaña nasceu em Nova Jersey e Selena Gomez no Texas. 

Além disso, a direção de elenco declarou que não optou por atores do México por que "não havia atores mexicanos talentosos o suficiente". Assim, a direção optou por atores europeus ou norte-americanos com origens latinas, como Selena Gomez. 

Atores e produtores mexicanos também teceram críticas para a obra. A principal crítica é a falta de representatividade e o roteiro estereotipado sobre o México. O ator Eugenio Derbez criticou principalmente a atuação de Selena Gomez, que teve dificuldades de atuar em espanhol. Após a declaração, ele precisou pedir desculpas para a atriz. 

Rodrigo Prieto, diretor de fotografia que já trabalhou com Martin Scorcese, também comentou sobre o filme. Para ele, o filme é "inautêntico" e o assunto tratado, o narcotráfico, é muito sensível para ser construído de qualquer maneira. 

O cineasta e vencedor do Oscar de Melhor Diretor Alfonso Cuarón chegou a eleger "Ainda Estou Aqui" como favorito. A escolha dele surpreendeu, já que "Emília Pérez" usava México como cenário e era o mais abraçado por Hollywood.

Representação trans de ‘Emília Pérez’ também foi criticada

Organizações pelos direitos LGBTQIA+ afirmaram que "Emília Pérez" não é uma boa representação de pessoas transexuais. Críticas publicadas na GLAAD (Aliança Gay e Lésbica Contra Difamação em inglês), afirmam que o filme "é uma ideia de transgeneridade tão completamente da imaginação cis". 

Além disso, a organização pontua que a obra aborda todos os estereótipos sobre a vivência trans, como violência, tragédia, transição tratada como morte e a descrição de uma pessoa transexual como metade homem, metade mulher. 

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