Graças à equipe de animais silvestres e exóticos comandada pelo médico-veterinário Kamal Achôa Filho, do Hospital Veterinário Dr. Hato (unidade de São Bernardo, no ABC paulista), uma sapinha-cururu sobreviveu à ação de mais uma maldade promovida por um ser humano ‘exemplar’: com a boca colada, a bichinha chegou ao hospital trazida por uma pessoa que a encontrou na rua.
“A pessoa relatou que ela estava andando desorientada e que alguém comentou que poderia estar com a boca colada”, disse o doutor Kamal.
Para salvar a sapinha de São Bernardo, o doutor Kamal e a médica-veterinária também da equipe, Marcela Antunnes, primeiramente avaliaram a bichinha e observaram que apesar de apresentar um bom escore corporal (aparentemente em bom estado nutricional), ela estava com um nível reduzido de atividade.
Então, os médicos constataram que realmente a boca estava colada e a sapinha também tinha alguns ferimentos, o que eles acreditam terem sido provocados nas tentativas dela de retirar a cola.
Para abrir a boca, eles usaram soro fisiológico aquecido e uma pomada lubrificante. Quando conseguiram, procuraram papéis com nomes na boca da bichinha e fizeram uma radiografia para encontrar algum possível corpo estranho. Como não encontraram nada, iniciaram um tratamento com anti-inflamatórios, o que também ajudou na melhora das lesões.
“Infelizmente as pessoas acabam fazendo essa maldade sem fundamento e não pensam no sofrimento do bichinho que, se não for atendido a tempo, acaba definhando e morrendo. Esse exemplar deu muita sorte em ser resgatado”, disse a veterinária Marcela.
Ao recuperar-se, a sapinha foi devolvida à natureza. De acordo com os veterinários, tratava-se de uma bichinha adulta. Sapos-cururus podem viver até 10 ou 15 anos.
Show de horror
Atrocidades como esta, pasmem, não são novidade para o médico veterinário, que diz já ter cuidado de outros três sapos na mesma situação, inclusive com a boca suturada, casos em que nomes impressos foram retirados da boca do sapo. “Isso não é religião, é coisa de gente desocupada, além de ser crime.”
Maus-tratos aos animais caracterizam crime desde os anos 90. A lei que trata do assunto foi modificada em 2020 e aumentou a pena de detenção de 3 meses a 1 ano para dois a cinco anos (além de multa e proibição da guarda) quando se tratar de cães e gatos. Para os animais silvestres e exóticos, porém, permanece a punição antiga.
O problema é que o criminoso raramente é encontrado e a ignorância que potencializa a maldade é o que prevalece. “Qualquer ser vivo é senciente e merece ser respeitado”, afirmou o veterinário.
Doutor Kamal também disse já ter socorrido muitas galinhas em situação de maus-tratos e que o caso que mais o impressionou foi o de uma ave que estava com o pescoço cortado, semi-degolada, mas que a equipe não conseguiu salvá-la.
A recomendação para quem encontrar um animal em situação de maus-tratos é levá-lo imediatamente ao atendimento especializado para que seja socorrido da melhor forma possível. A polícia ambiental também pode ser acionada e o autor do crime, denunciado.